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CM Entrevista: “Cultura não muda por imposição, ela evolui quando o novo faz sentido”

CM Entrevista: “Cultura não muda por imposição, ela evolui quando o novo faz sentido”

Na era da IA, Neoenergia mostra que adaptar a cultura organizacional exige reforçar valores humanos e preparar líderes para transformações.

Dados algoritmos e automação são cada vez mais presentes nas organizações. Nesse cenário, surge o desafio estratégico de adaptar culturas organizacionais à era da Inteligência Artificial (IA) sem abrir mão do que as torna únicas: sua identidade, seus valores e, principalmente, o papel das pessoas. A transformação digital deixou de ser apenas sobre tecnologia e se tornou, antes de tudo, uma jornada cultural.

Para entender como a IA tem moldado o jeito de trabalhar, decidir, colaborar e liderar dentro das organizações, a Consumidor Moderno conversou com Felipe Vale, diretor de Transformação Digital da Neoenergia. A entrevista mostrou os principais desafios enfrentados pelos líderes, os valores que precisam ser reforçados ou ressignificados, as estratégias para manter o propósito vivo em meio à automação e o que esperar da cultura organizacional nos próximos anos.

Confira!

Transformação cultural na era da IA

Felipe Vale, diretor de Transformação Digital da Neoenergia.
Consumidor Moderno: Como a ascensão da IA está impactando a cultura organizacional da Neoenergia?

Felipe Vale: A IA está transformando a cultura organizacional aos poucos. Adotando as ferramentas com consciência, nossos times aprendem a pensar de forma colaborativa, ágil e orientada a dados. Isso impacta e transforma a maneira como líderes tomam decisões, como os times se organizam e como o conhecimento é tratado dentro da organização. Além disso, podemos perceber impactos a respeito de como as pessoas se integram, compartilhando informações, aprendizado contínuo. O conhecimento não é mais centralizado, ele circula, e há uma necessidade de aprender sempre.

Também há um ponto importante que é a redefinição do que esperamos dos nossos colaboradores: sair das tarefas repetitivas, aprimorar as habilidades comportamentais (soft skills), desenvolver o pensamento crítico e a empatia. Tudo isso nos ajuda a ter o cliente no foco, tendo mais agilidade nas análises por meio de dados, respostas mais rápidas, com processos bem estruturado.

CM: Quais são os principais valores culturais que precisam ser reforçados ou repensados para acompanhar essa transformação? E como garantir que a cultura da empresa continue humana em meio à crescente automação dos processos?

À medida que avançamos no uso da IA, e temos mais agilidade e domínio de nossos processos e dados, também temos a necessidade de reforçar o papel humano em nossa organização. Reforçar a empatia, garantindo que a tecnologia não elimine o cuidado, a escuta, o ouvir de verdade, garantindo processos a serviço das pessoas.

Outro ponto importante é a colaboração; automação não quer dizer isolamento. Ela deve liberar tempo para o que realmente importa em nossa cultura: criar em conjunto, pensar, estruturar e crescer junto. Isso também reforça um valor cultural importante: o aprendizado contínuo. O aprendizado deixa de ser estático e a cultura passa a ver o erro, a tentativa e a reinvenção como parte do processo. Isso nos coloca em uma cultura muito mais humana: capacitar com propósito, redefinir o que é verdadeiramente performance, incluindo inovação e aprendizado como indicadores relevantes e que irão de fato transformar a organização.

Aliando exigências da IA e reputação

CM: Como vocês têm repaginado uma cultura construída ao longo de décadas para se adaptar às exigências da era da IA, mas garantindo a reputação? Quais estratégias podem ser usadas nesse sentido e como a tecnologia pode ajudar nesse desafio?

O ponto-chave aqui é alinhar legado e inovação com coerência, sem romper com a cultura construída ao longo de décadas. O foco é garantir que os princípios que sustentaram a reputação da empresa sigam vivos, independentemente da forma de se trabalhar. Algumas estratégias-chave para isso passam por capacitar as lideranças para conduzir a mudança com coerência e confiança, usar IA para reforçar práticas éticas: acelerar feedbacks e apoiar decisões com dados, usar ferramentas analíticas para, por exemplo, medir clima, antecipar riscos reputacionais etc. A tecnologia vira uma aliada no reforço da cultura. A IA não enfraquece a cultura, ao contrário, ela permite mais clareza, ajuda nas ferramentas para fortalecer a empresa a continuar sendo quem ela é.

CM: Quais são os principais desafios enfrentados pelos líderes nesse momento de transição cultural e tecnológica? E como os líderes estão se preparando para conduzir e inspirar times em um ambiente cada vez mais impulsionado por dados e IA?

Neste momento de transformação acelerada, os líderes enfrentam um conjunto complexo de desafios pois precisam manter a performance atual do negócio, preservar a cultura da empresa, gerir o time e, ao mesmo tempo, navegar por um cenário onde há mudança nos processos, ferramentas etc, impulsionados por dados e IA.

De forma pragmática, vejo os seguintes desafios: superar a resistência cultural à mudança; rever práticas consolidada há anos, sem parecer rompimento com a identidade da empresa; conciliar a linguagem da inovação com a linguagem do negócio e da organização; conduzir equipes com níveis muito diferentes de preparo digital e abertura ao novo.

CM: De que forma a Neonergia garante o alinhamento entre propósito organizacional, estratégia de negócio e cultura?

Garantir o alinhamento entre propósito, estratégia e cultura é algo contínuo. Há três formas para garantir este alinhamento: o propósito precisa fazer parte das decisões estratégicas; garantir que a cultura esteja presente nos comportamentos-chave, desde como contratamos até como lideramos e reconhecemos; ouvir constantemente as pessoas, seja por pesquisas, conversas ou reuniões. Isso nos ajuda a perceber onde estamos alinhados e onde precisamos ajustar. Este ciclo mantém a empresa coerente e viva mesmo em tempos de transformação.

CM: Como esse alinhamento tem contribuído para resultados concretos, como crescimento, engajamento e inovação?

Este alinhamento dá clareza de direção. As pessoas sabem o porquê do estão fazendo, o que fazem, além de se sentirem parte de algo maior. Isso aumenta o engajamento de forma real. As decisões ficam mais ágeis, o time trabalha mais alinhado e há mais espaço para inovar com segurança e confiança. No fim, esse alinhamento cria um ambiente mais leve, produtivo e focado no que realmente importa, impulsionando tanto o crescimento quanto a qualidade das entregas.

Evolução cultural para a IA

CM: Quais foram os principais aprendizados (positivos ou negativos) da Neonergia ao tentar transformar ou adaptar sua cultura?

Transformar a cultura de uma empresa requer escuta, coerência e respeito à história. Aprendemos que mudança só acontece de forma genuína quando as pessoas entendem o propósito que está por trás dela e veem esse discurso refletido nas atitudes das lideranças. Cultura não muda por imposição, ela evolui quando o novo faz sentido na prática e se conecta com o que já foi construído. Mais do que implementar mudanças, o desafio está em manter o alinhamento entre intenção, comportamento e a realidade do dia a dia.

CM: Como você enxerga o futuro da cultura organizacional com o avanço contínuo da IA? E quais características culturais você acredita que serão indispensáveis para as empresas nos próximos cinco anos?

A organização será cada vez mais orientada a dados e IA, mas o diferencial continua sendo o fator humano. Parece clichê, mas vejo que, na prática, a IA vai apoiar as decisões, acelerar processos e trazer eficiência. No entanto, será a cultura que vai garantir discernimento, ética e coerência. Para os próximos anos, algumas características culturais serão de grande importância.

Um deles é o aprendizado contínuo. O conhecimento técnico muda e se reinventa a todo momento e será cada vez mais acelerado com a IA. Será necessária uma colaboração real, para integrar pessoas, áreas e tecnologias de forma ágil. É também importante ter autonomia com responsabilidade, para que as decisões baseadas em IA não substituam o senso crítico humano. A tecnologia muda muito rápido e o que vai garantir sustentabilidade para as empresas é a cultura que acompanha.

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