Recentemente, repercutiu na grande mídia a notícia que Chiquinho Scarpa colocou à venda uma mansão por 80 milhões de reais. Poucos dias atrás, ele também fez um “saldão” de objetos pessoais. Essas notícias envolvendo dinheiro e celebridades sempre acabam atraindo a atenção do grande público. O fato de Scarpa ser tão conhecido gera várias hipóteses sobre sua vida financeira no imaginário popular, pois o “conde” nunca deixou de gostar de ter uma vida com padrões elevados. Mas, que lição, nós, pobres mortais, podemos tirar com essas singelas notícias da alta roda?
A primeira lição, ao meu ver, é também a mais simples e a mais importante. Ela refere-se a riqueza no tempo que pode ser sustentável ou não. Ou a riqueza vai crescendo ao longo dos anos ou vai diminuindo até acabar. Quem fica parado no tempo está ficando pobre, pois a inflação tem uma capacidade impressionante de destruir riquezas ao longo de anos ou décadas.
Duas palavras perseguem esses dois tipos de riquezas, pois estão presentes na maioria dos casos. São elas: ostentação, no caso da riqueza não sustentável, e frugalidade, para a riqueza sustentável.
Apesar de as riquezas onde a ostentação aparece de forma mais evidente, chamarem a atenção das pessoas, como a do falecido Jorginho Guinle, não há dúvida que elas têm um destino ruim no longo prazo. As pessoas gastam mais do que seus bens crescem e rendem. Assim, chega um momento em que a realidade demonstra-se implacável. Olhe para os lados, não é raro ver pessoas que eram muito ricas nos anos 70/80 e que hoje já não possuem mais nada. O dinheiro não perdoa. Se é mal administrado, dificilmente vai para frente. No geral, vai para trás até acabar.
O segundo tipo de riqueza é menos chamativo. Pertence às pessoas que adotam a frugalidade, que significa viver abaixo de suas possibilidades, como meio de vida. Elas não gostam de ostentação, procuram valorizar experiências e adquirir bens que tragam mais dinheiro para a riqueza e que vão gerando no longo prazo um efeito fantástico de crescimento pela força dos juros compostos. Entre eles, podemos citar o bilionário norte-americano Warren Buffet, como um grande exemplo.
Por fim, torço para que o conde Chiquinho Scarpa consiga vender sua mansão pelo maior valor possível. E, para mim, fica aqui no andar de baixo a lembrança que devo viver com menos do que ganho se quero vencer no longo prazo. Riquezas de todos os tipos têm que se curvar a isso. Quem não respeita essa regra, cedo ou tarde, paga caro pela falta de cautela. Então, fiquemos atentos, pois frugalidade não é viver com avareza, mas agir com maturidade no sentido de que o dinheiro tem limites e quem não os observa, pode até fingir que vive uma vida melhor, mas cedo ou tarde a conta por todos os erros de anos irá chegar implacavelmente. Fiquem, então, atentos: o dinheiro não aceita desaforo (nem no curto e nem no longo prazo, principalmente).
* Lélio Braga Calhau é Promotor de Justiça de defesa do consumidor do Ministério Público de Minas Gerais. Graduado em Psicologia pela UNIVALE, é Mestre em Direito do Estado e Cidadania pela UFG-RJ, palestrante e Coordenador do site e do Podcast “Educação Financeira para Todos”.