O grupo francês Carrefour confirmou hoje a venda de 10% das ações de sua subsidiária brasileira para o fundo Península, pertencente ao empresário Abilio Diniz, por R$ 1,8 bilhão. A transação marca a volta de Diniz ao varejo, onde marcou história no Grupo Pão de Açúcar e de onde havia saído com a venda da empresa aos franceses do Casino.
O Península também passa a ter opções de ações que permitirão ampliar sua participação para até 16% nos próximos cinco anos. Abilio Diniz assumirá também uma cadeira no Conselho de Administração e no Comitê de Estratégia e Recursos Humanos do Carrefour Brasil.
?Abilio Diniz é o melhor parceiro que poderíamos ter para dar suporte ao nosso crescimento no País?, afirmou o presidente e CEO do Carrefour, Georges Plassat. Segundo a empresa, a transação é um passo significativo no plano da empresa de trazer investidores para a operação brasileira e dar suporte ao crescimento da companhia no País e, eventualmente, abrir o capital da filial em algum momento no futuro.
Com um faturamento de cerca de R$ 34 bilhões no ano passado, a operação brasileira é a segunda mais importante do Carrefour no mundo, atrás apenas da França.
Depois de quatro anos de inércia, o Carrefour voltou a se mexer no Brasil no ano passado, com a chegada de um grupo de executivos franceses, capitaneados pelo CEO Charles Desmartis. O plano de desenvolvimento das operações da empresa no Brasil inclui a renovação e expansão da rede de lojas (bandeiras Carrefour, Carrefour Bairro e Atacadão) e o desenvolvimento de novos formatos, como o Carrefour Express (lojas de conveniência) e Supeco (atacado). No primeiro semestre de 2015, a empresa retomará suas operações de e-commerce, paralisadas no fim de 2012.
Conflito de interesses?
Ao assumir uma cadeira e uma posição importante como acionista do Carrefour Brasil, fica a dúvida em como Diniz agirá com relação à presidência do Conselho da BR Foods, uma das principais fornecedoras da rede varejista e na qual ele tem uma participação de cerca de 3%. Abilio Diniz tem ainda entre 3% e 4% das ações do Carrefour mundial. No início de 2013, em posição semelhante mas em relação ao GPA, Diniz defendeu que não haveria relação de dependência expressiva entre as partes, uma vez que, sem ter posição de controlador em nenhuma das empresas, ele não teria voz para alterar decisões.
A opinião não é compartilhada por Daniel Wada, sócio da consultoria Advisia OC&C. ?Essa situação cria uma posição desconfortável para os dois lados. Um acionista da BR Foods tem seu presidente do Conselho como acionista de um de seus maiores compradores. Vai gerar um debate até que essa situação seja definida?.
Para Wada, porém, a presença de Diniz será bastante positiva para o Carrefour. ?Ele não tem o perfil de ser um investidor passivo, ainda mais no varejo e principalmente com as turbulências de sua saída do GPA. E por onde passou, teve o foco de aumentar a eficiência das operações, o que será ótimo para a varejista?, afirma.