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Capa – Paquerando fundos de investimento

Capa – Paquerando fundos de investimento

Fundos apresentam altos ganhos no mercado brasileiro, e de olho em uma fatia desses recursos o varejo quer saber: como se tornar mais atrativo para os investidores?

Em 2010, as sócias do e-commerce OQVestir, Rosana Sperandéo, Mariana Medeiros e Isabel Humberg, receberam uma ligação: um fundo estava interessado no negócio que, naquele ano, estava começando e tinha apenas cinco pessoas envolvidas. O problema: o potencial investidor estava no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, já pronto para voltar para Nova York, nos Estados Unidos. ?Não tivemos dúvidas, saímos correndo de São Paulo para o Galeão naquele dia?, conta Isabel, CEO da companhia.

Na mala, o plano de negócios e a vontade de fazê-lo crescer. ?Fundo quer business plan, quer saber onde estamos, como estamos, quais os objetivos do negócio e onde queremos estar ? foi o que apresentamos?, conta. E foi ali, no restaurante Bob?s do aeroporto, que a marca conseguiu a primeira, de uma série de três rodadas de investimentos, em três anos de negócio.

O primeiro sócio, aquele do aeroporto, foi o fundo de private equity Tiger Global Management, que tem no portfólio investimentos em empresas pontocom, como Facebook e LinkedIn. No Brasil, o fundo já realizou aportes no Peixe Urbano, Netshoes e até em novatas como Baby.com.br. Na OQVestir, ele não investiu sozinho. Com ele, o Kaszek Ventures também aportou recursos. O fundo também tem no portfólio Netshoes, além de outras estrelas da internet, como Oppa Design, PetLove e Beleza Na Web ? também investimento em parceria com a Tiger. Da primeira conversa até a entrada do capital, em 2011, foram seis meses de negociação e organização da papelada.

Foi tudo muito rápido. ?Não dava para titubear, a oportunidade estava ali?, conta Isabel. Ter um fundo como sócio era consenso entre as sócias e a afinidade com a Tiger ajudou no processo. No primeiro momento, o que elas queriam e precisavam era o ?como fazer? do mundo on-line. E para ajudálas, o fundo organizou encontros com executivos do setor.

Márcio Kumruian, presidente da Netshoes, foi um deles. Anualmente, o fundo reúne executivos de todas as companhias que receberam investimentos em um único lugar para trocar experiências. Além disso, um time de consultores das áreas de marketing, comercial, TI e financeiro avalia o negócio mensalmente e ajuda a dar um direcionamento com base nas tendências mundiais. ?São coisas que o dinheiro não traz. A experiência vale mais do que qualquer coisa?, avalia Isabel.

O know-how e o primeiro aporte fizeram com que o negócio crescesse 600% em menos de um ano. O resultado, acima do esperado, fez com que a Tiger realizasse uma segunda rodada de investimentos no mesmo ano. E o que mudou? ?Tudo. Foi possível colocar de fato o que imaginávamos em termos de estrutura em prática?, conta Isabela.

Com o fundo, as executivas puderam trazer talentos para as áreas da companhia e investir em infraestrutura: internalizaram a operação logística e o SAC, possuem plataforma na web customizada e têm hoje um galpão de dois mil metros quadrados em São Paulo. Não parou aí. No ano passado, elas foram, sozinhas, conversar com outros investidores. Queriam saber o real entendimento do mercado sobre o negócio. ?Naquela hora deu um frio na barriga. E se voltássemos com a pasta vazia de novos investidores??, diz.

As sócias foram até Califórnia e Nova York, além de rodarem o Brasil e conversaram com 14 investidores. No fim, tinham três ofertas de mais investimentos na mesa. Venceu o TMG Capital, com atuação off-line.

Com três sócios sem data para sair, a empresa fez o rearranjo societário, mas a gestão continua nas mãos delas. O foco agora é fazer o negócio crescer. ?Quando você recebe o recurso, dá vontade de fazer uma campanha bacana de marketing e investir em milhares de coisas, mas o dinheiro não dá para tudo. Então, não dá para perder o foco.

Ainda estamos no começo do jogo?, conta Isabel. Com 130 funcionários, a empresa tem parceria com 180 marcas, como Animale, Farm, Le Lis Blanc, e espera atingir R$ 100 milhões de faturamento em 2015, com investimentos em novas linhas de produtos, como roupas para crianças e adolescentes.

Fundos que investiram no Brasil tiveram retorno de 17% ? já nos EUA, 8%

A história do OQVestir não é isolada. Ainda que o Brasil apresente crescimento abaixo da média dos países da América Latina em 2014, a Bovespa acumule resultados ruins e o consumo não seja o vetor de crescimento do PIB, como ocorreu em anos anteriores, os fundos de investimento estão famintos por novos, e rentáveis, negócios.

E não é para menos. Pesquisa do Insper, em parceria com a gestora Spectra, divulgada em janeiro, mostra que os fundos que investiram no Brasil entre 1990 e 2008 apresentaram retornos de 17%. No mesmo período, os fundos dos Estados Unidos tiveram retornos na ordem dos 8%.

O desempenho, segundo o estudo, deveu-se a três principais fatores: o boom de crescimento econômico do País entre 2004 e 2012; a competição ainda limitada para a realização de negócios; e a melhora da experiência dos gestores de fundos, fator diretamente ligado à melhora da performance. Bom para o varejo. Último balanço da Abvcap (Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital) mostra que dos R$ 14,9 bilhões investidos pelos fundos em 2012, 21,8% foram direcionados para o setor varejista. O aumento do mercado consumidor interno e o crescimento da classe média justificam a forte elevação em 2012, segundo a associação.

E a tendência é que o cenário siga no mesmo ritmo, mesmo com possíveis tropeços econômicos. Uma explicação para a blindagem é que os fundos fazem aportes pensando no longo prazo. ?Fundos de private equity são menos suscetíveis no curto prazo a variações econômicas, porque esse investidor entra na empresa para ficar de quatro a dez anos e, por isso, ele pondera o cenário atual?, explica Viktor Andrade, líder de fusões e aquisições da EY.

Em 2013, o Brasil registrou número recorde de transações de fusões e aquisições, segundo a consultoria PWC. Foram 811 negócios, dos quais 42% tiveram participação dos fundos private equity. ?O Brasil está com uma demanda grande de negociações e os setores com base em consumo têm se beneficiado?, afirma Alexandre Pierantoni, sócio da PWC Brasil. ?O varejo é um segmento muito pulverizado no Brasil e há oportunidades de consolidação e profissionalização muito grandes. E existem recursos para que a perspectiva continue boa?, afirma. No alvo dos fundos, avalia o especialista, estão os varejos de alimento e de moda.

Roupa, móveis, brinquedo, lingerie e muito mais

No final do ano passado, a camisaria brasileira Dudalina vendeu o controle acionário para Advent e Warburg Pincus ? dois dos maiores fundos do mundo. Com a negociação, Sônia Hess continua à frente da companhia, mas já prepara sucessor para sua saída da operação em 2016. ?A sucessão é necessária em qualquer empresa e a saída foi uma opção minha.

Mas eu vou continuar na ativa e no conselho e quem estará à frente é alguém que tem essa mesma paixão, porque está há 30 anos na empresa?, diz Sônia. Com mais de 90 lojas e um faturamento que ultrapassou os R$ 500 milhões em 2013, a marca tem planos de dobrar o tamanho até 2016, investindo, inclusive, na internacionalização da marca.

Outra transação recente no setor de moda, ainda em análise no CADE, é a injeção de R$ 250 milhões do fundo Kinea na Lojas Avenida, com mais de cem lojas nas regiões Sul, Norte e Nordeste do País. Em nota, a marca afirmou que o acordo garante ao fundo participação minoritária do grupo e que o controle da empresa não será alterado, com Rodrigo Caseli na presidência, e Christian Caseli como vice-presidente:

?Com o investimento, a pretensão do grupo é seguir em franca expansão pelo interior de 13 Estados brasileiros nos quais já atuam e em um futuro próximo se consolidar como uma das principais redes de varejo de moda do País?.

São vários os exemplos do varejo de moda que receberam aporte: da Camisaria Colombo, que tem como sócio o fundo de private equity Gávea Investimentos, a Restoque, que recebeu aporte em 2007 do fundo Artesia. Mas moda não é o único foco. Um dos maiores fundos investimentos em varejo do mundo, o Carlyle é hoje sócio das marcas CVC, de turismo, Scalina, de lingerie, Ri-Happy, de brinquedos, e Tok&Stok, de produtos de decoração.

VAREJO RENTÁVEL

O QUE TORNA UM VAREJO ATRATIVO PARA UM INVESTIDOR? NOVAREJO OUVIU AS PRINCIPAIS CONSULTORIAS DO SETOR PARA ENTENDER COMO SE TORNAR ALVO DESSES INVESTIDORES. CONFIRA OS SEIS PASSOS QUE PODEM AJUDAR NA CONQUISTA POR UM APORTE:

  • 01 – INOVE No topo da lista dos negócios mais interessantes para os fundos estão aqueles que apresentam alguma inovação. E o mesmo vale para o varejo. ?O negócio é atraente para o investidor quando ele tem um modelo que permite se diferenciar dos concorrentes?, afirma Andrade, da EY. Negócios que se limitem a fazer o trivial nem passam perto dos olhos dos investidores. Inovar, explica Borneli, do Angels Club, significa apresentar diferenciais no produto, no atendimento, nas formas de pagamento ou mesmo na distribuição e na logística. A atenção óbvia, diz, se dá em negócios que desbravam novos mercados, com potencial de crescimento. ?O investidor quando analisa um projeto busca preencher um espaço que não existe, com plataformas diferentes?, afirma o executivo. Negócios que apresentam inovação com foco em sustentabilidade também ganham a preferência dos fundos.
  • 02 – SEJA COMPETITIVO A inovação sozinha não tem muita valia. Para chamar a atenção em meio a tantos varejistas ávidos por um aporte, o negócio precisa ser competitivo ? ter modelo de negócio viável. ? Vale combinar margem de retorno interessante e diferenciais competitivos que permitam que a empresa cresça mais do que a média de mercado?, afirma Andrade. ?No fim, chama atenção quem consegue capturar o máximo de receita e o máximo de clientes, que tenha estrutura de capital leve, saúde financeira e que angarie margem melhor que a concorrência?, diz Andrade. Se o negócio é competitivo, não será difícil apresentar altos níveis de rentabilidade. ?É isso que o investidor olha. O fundo tem dinheiro na mão para investir e irá investir no negócio que apresentar o melhor retorno?, considera Ferezin, da KPMG. Ele atenta que, nesse sentido, o varejo enfrenta concorrência de outros setores ? aqueles que começarem a mostrar melhor performance entram na frente.
  • 03 – SEJA LONGEVO A rentabilidade de hoje não garante a rentabilidade de amanhã; por isso, para ser atrativo para os investidores, o negócio precisa apresentar características que garantam a longevidade do negócio, seja por meio de expansão física ou ofertas de produtos e serviços que agreguem valor ao negócio original. Isso significa ter modelo que não seja limitado no tempo e no espaço ? que consigam crescer geograficamente e em número de consumidores, no caso do varejo. ?Os fundos, na maioria das vezes, têm política de risco de investimento por meio da qual definem o porcentual de investimento no negócio. E a preferência, em geral, é investir em negócios com história comprovada, com dados?, afirma Rogério Andrade, sócio da KPMG Brasil. Ele explica que mesmo negócios que ainda não saíram do papel podem ser alvos dos investidores se o planejamento mostrar que a estrutura tem características suficientes para permanecer no mercado.
  • 04 – CONTROLE PROCESSOS INTERNOS (GOVERNANÇA E AUDITORIA) Negócios inovadores, competitivos e longevos podem sair da lista de preferência dos fundos se não apresentarem estrutura sólida comprovada. Para não afugentar os investidores, é preciso garantias de que a gestão é séria e de gente grande. ?A empresa tem de ter gestão profissionalizada?, afirma Reynaldo Saad, da Deloitte. Isso inclui a preparação detalhada do plano de negócios. ?O planejamento financeiro deve ser de curto, médio e longo prazos, e tudo deve estar casado com o operacional?, diz Andrade, da EY.

    Para ser atrativo, é preciso implantar governança corporativa, com transparência na gestão e apresentação dos dados. ?O negócio precisa ter números confiáveis, com controle financeiro e de contabilidade, porque o investidor precisa enxergar o que ele está comprando?, lembra Andrade, da EY. Vale até passar por auditoria. ?Ela facilita a análise dos investidores, mostra o grau de profissionalização, seriedade e transparência do negócio?, ressalta Saad

    Na parte operacional, a casa também deve estar arrumada, desde aspectos legais, como a correta abertura do negócio e obrigações tributárias, previdenciárias, fiscais e trabalhistas em dia. ?Entram na conta aspectos contábeis, de controladoria, de processos, que devem ser bem elaborados. Parece pouco, mas muitas vezes os varejistas não se atentam aos passivos tributários e não olham a contabilidade ? tudo isso conta?, afirma Ferezin, da KPMG.

  • 05 – SAIBA FALAR SOBRE O SEU NEGÓCIO (ENTENDA A EMPRESA) Se a casa está arrumada, é preciso passar essa informação com a segurança de quem entende do próprio negócio. ?O varejista precisa entender bem a empresa do ponto de vista do investidor?, afirma Pierantoni. Isso significa saber em qual patamar ela está agora, como pode crescer e em qual ponto estará no curto e médio prazos. ?O empresário precisa entender o valor criado pelo negócio dele?, diz. Estar ciente dos pontos fortes e fracos da operação permite ao empresário encontrar caminhos para construir um negócio com mais qualidade, para inovar e ser mais competitivo ? fatores-chave para ser atrativo aos olhos do investidor. ?Quando você entende o negócio, você consegue calcular um valor?, afirma o especialista.
  • 06 – ENTENDA: O FUNDO É UM PARCEIRO (MUDANÇAS DE RUMOS SÃO NECESSÁ- RIAS E SAUDÁVEIS) A atratividade do negócio pode esbarrar no dono. Quando buscam aporte, os empresários não se atentam ao perfil dos fundos. Cada vez mais, os investidores entram no negócio com recursos financeiros e know-how. Embates de posicionamento entre empreendedor e fundo podem interromper as negociações. Para não ocorreram problemas, existe, principalmente da parte do fundo, o alinhamento de perfil ? o esforço no entendimento dos objetivos do fundo na gestão. Mesmo antes de conceder o aporte, os fundos exigem mudanças no negócio para receber o investimento. As alterações, segundo Borneli, são comuns no processo. E ser flexível nessa hora torna o negócio ainda mais atraente. ?A cada dez negócios, nove mudam de rumo durante o processo de aporte. Essa mudança é necessária e saudável?, afirma. Não aceitar essas alterações, avalia, e acreditar que o negócio nasceu pronto, são os piores erros dos empresários quando negociam com investidor. ?O varejista precisa entender que é melhor ser parceiro de um grande negócio do que ser dono de um pequeno?, diz Borneli.

Anjos sonham com o e-commerce

Como encabeça as inovações do setor, o e-commerce tem sido o foco de muitos fundos, considera Junior Borneli, vice-presidente de negócios e relacionamento do Angels Club, clube privado com 147 investidores com capital de R$ 50 milhões para investir. ?No varejo físico, os regionais, com crescimento acima do mercado, também recebem atenção?, afirma. No eixo Rio?São Paulo, a movimentação no varejo físico é no mercado de franquias, principalmente nas microfranquias.

Um dos maiores exemplos desse setor é a varejista esportiva Netshoes, cujo faturamento anual passou do R$ 1 bilhão em 2012. Nela já investiram os fundos Kaszek, Iconic Ventures, Tiger Glob
al Management e a Temasek Holdings. A Dafiti foi outra queridinha on-line dos fundos de investimento. No início deste ano, a marca recebeu aporte de ? 15 bilhões do IFC, instituição que faz parte do Banco Mundial. Esta não foi a primeira vez: em 2013, ela recebeu cerca de US$ 70 milhões em recursos de fundo canadense.

Mesmo marcas que estão começando agora no e-commerce chamam a atenção. É o caso da Maskoto, clube de assinatura de produtos pet. Em fevereiro de 2013, Victor Frasson criou uma fanpage no Facebook para divulgar a marca. A página cresceu e ganhou fãs (hoje são mais de 16 mil), mas o negócio mesmo só saiu do papel sete meses depois. ?O desafio era fortalecer a marca e fechar parcerias com fornecedores antes de lançar o site?, explica Frasson. E também conquistar investidores para abrir a operação já com peso de gente grande. ?Até conseguiríamos viabilizar o negócio sem o investimento, mas em uma escala menor. E a busca pelo investidor não era apenas pelos recursos, mas pelo conhecimento no mercado on-line?, afirma o empresário.

O TERMÔMETRO DA CONFIANÇA

PESQUISA EY COM 1.600 EXECUTIVOS DE 72 PAÍSES, DE 20 SETORES:

  • 69% das empresas esperam aumento no volume de negócios
  • 35% têm planos de fazer uma aquisição
  • 47% têm crescente foco em investir em mercados emergentes
  • 47% esperam aumento no volume de negócios locais (fusões e aquisições)

Com os sócios, Alexandre Gonçalves e Alysson Domingues, Frasson iniciou a busca por um fundo e por meio da Angels Club conseguiu investimento cujo valor não revela. Pela internet, os empresários detalharam o projeto, as perspectivas de crescimento, o público, o mercado, os diferenciais, custos e detalhes operacionais. O retorno chegou duas semanas depois, por telefone. Em algumas conversas, investidor e empresários definiram valores e objetivos. ?Após duas reuniões presenciais, assinamos o contrato?, conta. Com participação de 40% no negócio, o investidor entrou com informação e, segundo Frasson, ajudou a dar um norte ao negócio, que faturou R$ 160 mil em 2013, mas deve faturar cerca de R$ 5 milhões em 2014.

O salto deve-se à nova plataforma, que abrigará e-commerce pet ? ideia do investidor. ?Ele é bem envolvido no projeto e não tem data para sair do negócio?, conta o executivo. A Maskoto deve receber o segundo aporte do mesmo investidor ainda neste ano para viabilizar mais um projeto, de franquia. ?A ideia está bem crua ainda, mas a execução será rápida, no formato de quiosques, em grandes centros, com oferta de produtos exclusivos?, adianta Frasson. O projeto piloto da franquia da marca deve ser lançado ainda neste ano, em São Paulo.

Apesar das preferências, há espaço para todos, segundo Paulo Ferezin, diretor de desenvolvimento para o varejo da KPMG. ?O que o varejo precisa é de uma operação boa e consistente, com posicionamento que chama a atenção dos clientes e do mercado?, afirma. ?Varejo atrativo está na pauta dos fundos?, afirma Reynaldo Saad, sócio-líder no atendimento às empresas do setor varejista da Deloitte.

O CENÁRIO DE INVESTIMENTOS NO BRASIL

  • 72% dos fundos de private equity e venture capital no Brasil operam há mais de cinco anos no País
  • Por aqui, os fundos têm tido retornos de 3,6 vezes o capital investido, número acima da média de 2,5 vezes
  • R$ 52,7 bilhões foi o valor investido pelos fundos em empresas no Brasil até 2012. Já apenas em 2012, os fundos desovaram aqui R$ 14,9 bilhões ? 21,8% foram direcionados para o setor varejista De 2000 a 2012, o número de fundos operando no Brasil passou de 45 para 185. No mesmo período, o montante de capital levantado saltou de US$ 1 bilhão para US$ 83 bilhões

COM A PALAVRA, O FUNDO

O FUNDO APAX PARTNERS TEM CERCA DE US$ 8 BILHÕES DISPONÍVEIS PARA SER INVESTIDO NA AMÉRICA LATINA. E O VAREJO ESTÁ NA MIRA DA COMPANHIA

No mercado norte-americano e europeu há mais de 30 anos, o fundo Apax Partners abriu escritório em São Paulo em novembro de 2013, de olho nas oportunidades na América Latina. Por aqui, o fundo investe em empresas de tecnologia, como a Tivit, desde 2010. Para este mercado, estão disponíveis cerca de US$ 8 bilhões a serem aportados em empresas de quatro setores que são foco do fundo ? um deles é o varejo.

?Pensamos em como o dono do negócio pode crescer e lucrar mais, em como ele pode comprar o competidor e se profissionalizar mais?, afirma Walter Piacsek, head da Apax no Brasil. Hoje, o fundo é sócio, dentre outras marcas, de varejistas como Syder, de roupas e acessórios esportivos, Bobs Furniture, de móveis, Cole Haan, de sapatos e acessórios e rue21, de moda jovem. A companhia já investiu em outras marcas como a New Look, de roupas e acessórios, LR Health, de cosméticos, Somerfield, supermercados e até a famosa Tommy Hilfiger.

No Brasil, o que chama a atenção é o potencial de crescimento do setor. ?Não é por acaso que a gente foca em varejo. É um setor que está passando por uma transformação de organização, com crescimento e consolidação das companhias?, avalia o executivo. O fato de o varejo não requerer investimentos intensivos, como a indústria, é outro fator de atratividade. Na lista de potenciais negócios podem estar desde varejo de moda, um dos grandes investimentos do fundo, até segmentos específicos, como material de construção. ?Gostamos de marcas boas, populares, e simples, com ticket baixo?, diz.

E o que ele busca em um sócio? Além de ter potencial de crescimento, a empresa precisa de boa gestão, bons controles e contar com áreas fiscal e trabalhista limpas. ?Precisa ter a casa em ordem e não ser criativo do ponto de vista fiscal e trabalhista?, ressalta. Com o detalhe de não ser qualquer negócio. ?Não fazemos cheques menores de US$ 150 milhões?, afirma.

A característica do fundo não é assumir a gestão do negócio, por isso, ela aposta na competência do empreendedor que está à frente do negócio. ?Somos acionistas, orientamos e provocamos, mas não nos metemos na gestão da companhia?, afirma o executivo. Se a gestão não entregar as metas acordadas em contrato, daí há conversas para a mudança de gestão, como em qualquer fundo.

Quando entra na companhia, a Apax fica em média cinco anos. A saída pode ser de várias formas: venda da parte para o próprio empreendedor ou mesmo para outro fundo. Há ainda a opção de abertura de capital.

O cenário atual nacional não compromete a intenção do fundo de investir. Ao contrário, diz Piacsek. Para ele, o crescimento menor no curto prazo, Bolsa em baixa e dólar mais caro permitem que as conversas com os investidores sejam mais ?fluídas?, uma vez que o foco do fundo é de longo prazo. ?Estamos olhando o Brasil com visão de longo prazo e nesse cenário o País tem oportunidades, porque os consumidores têm cada vez mais acesso a serviços e produtos?.

?Implantamos sistemas, transparência e controles na gestão, fizemos parceria com fornecedores de renome internacional e auditoria. Tudo isso auxilia na montagem de um processo?, avalia o executivo. O processo de melhorar a estrutura do negócio demorou cerca de um ano e meio, mais do que os sete meses para fechar o negócio com o Actis. Foram tantas as mudanças para receber o aporte que, após a entrada do fundo, pouco mudou, do ponto de vista de gestão, diz Pecin. Hoje, são 600 unidades da marca, com projeção de totalizar mil unidades em 2017. Agora o próximo passo é a Bolsa de Valores.

Esse é um dos caminhos possíveis após a saída do fundo de investimento do negócio ? e uma das
formas de continuar captando recursos. Segundo Edna Sousa de Holanda, gerente de prospecção de empresas da BM&F Bovespa, de 2004 para 2013 35% das empresas que fizeram IPO receberam investimentos de fundos de private equity.

Esse passo não é à toa. ?Quando o empresário admite um fundo de investimento como sócio, ele amadurece o negócio?, avalia. A Bolsa tem mapeamento de 200 empresas com potencial de abertura de capital, sendo 17% delas do setor de comércio e 10% do setor de tecidos, vestuário e calçados. Edna explica que tem crescido o interesse das empresas pela Bolsa de Valores como alternativa de expansão.

A Pague Menos estava se preparando para abrir capital em 2012, abortou o projeto, mas ainda vê na Bolsa alternativa para crescer mais. ?Temos o interesse de fazer o IPO, porque é uma forma de capitalizar e crescer, sem depender de empréstimos de bancos e nem do humor do mercado em relação aos juros?, afirma a Deusmar Queirós, fundador e presidente da rede de farmácia.

Ele explica que a companhia estava pronta para abrir, mas o mercado naquele ano não era favorável. A empresa, que deve faturar R$ 4,4 bilhões, com 700 lojas em 2014, viu como alternativa a emissão de debêntures para financiar o projeto de ter mil lojas até 2017. Foram R$ 60 milhões na primeira emissão e outros R$ 100 milhões na segunda, no início do ano.

O projeto da Bolsa ainda está de pé, mas a empresa deve esperar o cenário mudar. ?Neste ano, não vejo nenhuma perspectiva que justifique alimentarmos uma esperança para IPO, mas em 2015 será melhor?, avalia. Até lá, e por enquanto, a marca descarta os fundos de investimentos que fazem propostas constantes. O executivo não confirma, mas mostra interesse em associar-se com gigantes internacionais do setor. ?Por ora não buscamos sócios, mas se aparecer alguém, seria um parceiro estratégico. Não tenho ninguém, mas o perfil seria uma CVS, Walgreens?, diz.

Preparando o terreno

A LePostiche é outra marca que não descarta uma parceria, antes de abrir capital, ainda que ambos os projetos estejam definidos no roteiro de crescimento da marca. Alessandra Restaino, presidente da marca, conta que a companhia é cortejada por fundos de investimentos, mas que ainda não é o momento para uma parceria. ?Introduzimos o SAP há pouco mais de um ano, estamos implantando a governança corporativa. Ainda estamos fazendo a lição de casa?, explica Alessandra.

?Pode ser um caminho futuro, mas há um processo de amadurecimento?, avalia. Desde 2010, a marca passa por uma reestruturação, que envolve mudança de posicionamento, comunicação e nova identidade nas lojas, agora mais alinhadas ao perfil AB que a companhia busca e com o objetivo de oferecer produtos para todos os momentos pelos quais a mulher passa. Fechou 2013 com 270 lojas e a perspectiva de encerrar 2014 com 300.

Investidor+Bolsa

A Brasil Franchising, holding com 750 lojas de 13 marcas de franquias, entre elas a Nobel, Sapataria do Futuro, Spetinho & Cia, também acredita na fórmula investidor+Bolsa e busca investimento privado para, em seguida, fazer a listagem na Bolsa. Após consolidar todas as marcas sob o mesmo guarda-chuva no ano passado, a holding estuda propostas tanto de fundos de investimentos como de families offices ? empresas criadas apenas para gerir os recursos de famílias. ?Temos várias propostas na mesa e estamos estudando a melhor. Vamos tomar a decisão neste ano, para fazer a listagem no ano que vem, para, depois de uns dois anos, abrir de fato o capital?, avalia Sergio Milano Benclowicz, diretor da holding.

A ideia, diz ele, é acelerar as aquisições de pequenas e médias franquias, com a preservação da marca. ?A Bolsa é um mecanismo que dá liquidez, e nos permite fazer aquisições com parte em ações, sem alterar o controle?, avalia. A proposta é manter uma média de duas aquisições por ano. Hoje, a busca é por franquias com ao menos 30 lojas, com marca forte e estruturada.

A companhia já implantou a governança corporativa, é auditada há mais de cinco anos e tem todos os processos estruturados. Assim que receber investimento privado, a Brasil Franchising se listará no Bovespa Mais. ?Esse é o modelo correto para o nosso negócio, porque a gente se lista, sem a pressão do mercado, e fica neste ambiente até ganharmos escala para fazermos de fato a abertura?, explica.

Criado em 2005, o Bovespa Mais é voltado para empresas que desejam acessar o mercado de forma gradual. ?A empresa faz apenas a listagem, e para ela a Bolsa é apenas uma vitrine?, explica Edna, da BM&F Bovespa. Para estar listada, a companhia precisa seguir alguns pré-requisitos, como governança corporativa, comprometidas com boas práticas comparáveis com o Novo Mercado, além de divulgar resultados trimestrais ? após listada, têm até sete anos para negociar 25% do capital social no mercado. ?Ela começa a ter visibilidade perante os bancos e conseguem melhores taxas de juros?, diz Edna. Hoje, apenas nove empresas estão listadas na modalidade.

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Consumidor Moderno ISSN 1413-1226

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