É considerada inadimplência o não pagamento de uma dívida com mais de três meses de atraso. Segundo dados de março de 2024 do Serasa, são mais de 72 milhões de brasileiros inadimplentes no país – o valor total das dívidas ultrapassa R$ 387 bilhões.
Afetando recorrentemente inúmeras famílias, a inadimplência é um tema que traz impactos profundos tanto no âmbito pessoal quanto nos sistemas econômicos. Suas causas são diversas e muitas vezes complexas, envolvendo desde problemas estruturais na economia até questões individuais de planejamento financeiro. Os riscos causados aos consumidores e à economia também não podem ser negligenciados.
Na matéria, você entende melhor as causas e os riscos da inadimplência, assim como conhece estratégias que possibilitam a diminuição dessa taxa.
Principais causas da inadimplência no Brasil
É possível imaginar diversos cenários possíveis nos quais pessoas e empresas optem ou fiquem impossibilitadas de honrar seus compromissos financeiros, seja de maneira temporária ou não. No entanto, as raízes dos problemas costumam ser similares.
“O que mais causa a inadimplência é a falta de rendimentos, então normalmente dá para concluir que as pessoas endividadas estão com rendimentos menores do que antes ou estão assumindo compromissos de outras pessoas”, comenta o professor de economia e finanças da ESPM, Alexandre Ripamonti.
A pesquisa Raio-X dos Brasileiros em Situação de Inadimplência, realizada pelo Instituto Locomotiva e MFM Tecnologia em setembro de 2023, revela que os principais motivos pelos quais os brasileiros ficam devendo passam não só por questões econômicas estruturais ou inesperadas, mas também significativamente pelo comportamento financeiro das pessoas.
Enquanto o desemprego e gastos inesperados com saúde foram citados por 34% e 30% dos entrevistados, por exemplo, temas como falta de planejamento financeiro (36%), emprestar o nome para alguém efetuar compras ou contratar serviços (16%), compras de valor acima do que cabe no orçamento (11%), investimentos em negócios que deram prejuízo (10%) e descontrole nos gastos por parte do companheiro ou companheira (8%) também aparecem com destaque.
Além disso, ainda foram citados perda de renda com um divórcio (6%), problemas com vícios e jogos (3%) e esquecer de pagar uma conta ou boleto (3%).
Riscos de uma taxa alta de inadimplência
A pesquisa ainda trouxe dados sobre a expectativa dos inadimplentes em relação à quitação das suas dívidas. A maior parte é otimista: 39% tem certeza de que conseguirá deixar as contas no azul e 23% acha que pagará as contas em atraso.
No entanto, os pessimistas ainda se mostram presentes, uma vez que 32% não tem certeza de que conseguirá honrar seus compromissos financeiros, 5% acredita que não terá condições e 2% tem certeza que não existe essa possibilidade.
Ainda que haja estratégias para sair do ciclo do endividamento, como a renegociação das dívidas, e de maneira geral os inadimplentes se mostrem esperançosos com a quitação das contas em atraso, as taxas de inadimplência podem trazer riscos à economia.
O professor Alexandre Ripamonti explica que o risco maior é a contaminação das condições de crédito das outras pessoas devido à falta de pagamento das dívidas de parcela específica da população.
“Se o banco deixa de receber, ele vai considerar isso na hora de fazer um novo empréstimo e, consequentemente, a taxa de juros aumenta. A maior parte da taxa de juros cobrada pelos cartões de crédito, por exemplo, é por conta da inadimplência. No setor de cartão de crédito, 20% das pessoas não pagam”, diz.
Outros riscos podem ser associados a um cenário de altas taxas de inadimplência além dos impactos nos consumidores individuais, como redução no consumo das famílias e, portanto, desaceleração da economia, redução na confiança do mercado e, em casos mais graves, aumento da instabilidade financeira.
Como diminuir a inadimplência
Para o professor de economia e finanças da ESPM, Alexandre Ripamonti, a maior estratégia para reduzir a inadimplência é conceder bem o crédito. Isso passa primeiramente por uma análise de crédito rigorosa, que considere não só a capacidade de pagamento do indivíduo, mas também seu histórico financeiro e seu comportamento de pagamento passado.
Depois, é possível realizar um monitoramento constante de comportamentos de pagamento, identificando padrões de inadimplência em estágios iniciais, fazer incentivos à adimplência, como com descontos ou benefícios adicionais para bons pagadores, apostar na automatização dos pagamentos, que reduzem a probabilidade de esquecimentos ou atrasos, e até aprimorar a comunicação, fornecendo informações claras sobre prazos, multas e juros.
Para tudo isso, a tecnologia é uma aliada. “Esses modelos trabalham com bases de dados enormes e, atualmente, com algumas ferramentas de inteligência artificial é possível coletar dados em uma maior quantidade, analisar e conseguir classificar quem tem maior probabilidade de não pagar as contas. Então, a tecnologia é uma ferramenta poderosa para diminuir a inadimplência”, afirma Alexandre Ripamonti.
Ele acrescenta que, enquanto bancos já são obrigados a manter modelos para prever e reduzir a inadimplência, empresas do setor varejista ainda podem recorrer a outras estratégias para se protegerem. “Uma bastante comum é oferecer o pagamento parcelado, mas não com o dinheiro da loja, que repassa as parcelas diretamente para bancos e financeiras”, completa.
Algumas empresas com baixas taxas de inadimplência
Para empresas, reduzir a inadimplência de seus clientes pode ser desafiador. No entanto, algumas delas são conhecidas por ter índices menores que a média se comparado com concorrentes.
No setor financeiro, o Nubank, por exemplo, apresenta baixa inadimplência em parte à sua abordagem diferenciada no mercado financeiro, que envolve uma análise de crédito mais criteriosa, inclusive com uso de IA, utilização de tecnologia para identificar padrões de comportamento financeiro dos clientes e um foco em oferecer opções de crédito e produtos financeiros mais acessíveis e flexíveis.
Já no setor de varejo, a Renner é outra empresa famosa por sua gestão financeira prudente, oferecendo opções de crédito conscientes e monitorando de perto os pagamentos dos clientes para evitar inadimplências. No primeiro trimestre de 2024, a Realize, braço financeiro da varejista, apresentou uma queda no número de cartões ativos – 4,8 milhões ante 5,6 milhões um ano antes – resultante de maior restrição na concessão de crédito que, por consequência, contribuiu para a redução da inadimplência na empresa, demonstrando uma política ativa de ação na questão.
Credit and Collection Experience
No dia 6 de agosto, o Credit and Collection Experience (CCX) reunirá especialistas, lideranças e empresários para debater e propor soluções para os desafios da jornada dos consumidores brasileiros no acesso ao crédito e na resolução de dívidas.
Diante de transformações no setor, motivadas por tecnologias recentes como a Inteligência Artificial generativa, Big Data e Machine Learning, chega o momento de aprofundar conhecimentos para construir a sustentabilidade financeira e econômica do país.
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