O Money 20/20 é o maior evento global sobre inovação em meios de pagamento, serviços financeiros e comércio digital. Como nenhum outro evento, ele aponta tendências para o desenvolvimento das transações financeiras e comerciais, combinando startups de alto impacto com empresas tradicionais em painéis objetivos, rápidos e intensos.
Na edição 2018, a série de painéis “Acordando com os CEOs: lideranças pavimentam o caminho da mudança”, o evento mostrou que olhar o caminho que se abre adiante é vital para compreender o que os novos CEOs de empresas modernas estão pensando e como estão agindo. O conceito foi explorar o que CEOs inspiradores e de alto nível estão percebendo e antecipando em relação às mudanças em curso e como eles preparam suas próprias empresas para modelar o futuro do dinheiro.
Um dos painéis mais interessantes contou com a participação de: Brian Kelly, Chief Content Officer da US News & World Report, Bob Hoey, Diretor geral para o mercado de serviços da IBM América do Norte, Jennifer Tescher, CEO do Center for Financial Services Innovation, Antony Jenkins, Fundador e CEO 10x Banking, Anil Arora, CEO Envestnet|Yodlee e Keith Williams, Presidente da UL.
Antony Jenkins puxou a discussão questionando por que o setor financeiro não é realmente orientado aos clientes, mesmo com todos os recursos que a tecnologia oferece. Sua empresa presta serviços para instituições financeiras com o objetivo de torná-las 10 vezes melhor para seus clientes. Uma situação que se reflete no fato de que 1/3 dos clientes, dos cidadãos americanos não têm um dólar sequer separado como economia.
Preocupações sinceras
“O que tira o sono desses executivos?”, provoca Brian Kelly. Para Jennifer, o fato de ué cerca de 50% dos americanos ganha menos de US$ 55,000 ao ano, ou menos de US$ 15,00 por hora. “Estamos olhando para as manchetes que mostram uma economia em crescimento, mas que não traz esse crescimento para a realidade das pessoas”, afirma. Antony, por sua vez, acredita que a automação do trabalho é um problema agudo. Ao contrário da revolução industrial, quando novas profissões foram criadas, a rapidez da mudança atual será fatal para centenas de profissões. Educação, serviços financeiros, saúde, motoristas, verão milhões de empregos serem dizimados pela automação, antes de criarmos novas profissões. O CEO da 10x Banking também se preocupa com a regulação e a adoção das legislações de proteção de dados.
“Vivemos em uma indústria complicada. O que leva uma fintech a fazer a diferença diante de tantas camadas de regulações e total falta de colaboração entre competidores e reguladores, ao contrário do que vemos no Japão e na Europa”, comenta Arora, da Yodlle, sobre o que lhe tira o sono. Já Keith Williams, da UL, afirma que a segurança de dados e dos usuários é o que mais o preocupa. A UL, empresa que comanda, é a responsável por todos os protocolos de segurança dos dispositivos que usamos – celulares, notebooks, tablets – todos eles têm uma primeira camada de firewall desenvolvida por ela.
As reflexões desses executivos podem ser potencializadas quando aplicadas ao contexto brasileiro, após anos seguidos de crise econômica, que erodiu a confiança, a renda e as expectativas dos nossos consumidores. Mas, ao contrário de anos anteriores, podemos sentir o mesmo engajamento dos executivos no sentido de influenciar os destinos do país, para uma retomada de um caminho de crescimento.
Mudanças de fato
“Se você quer fazer uma grande mudança, de fato, é necessário olhar e se integrar à comunidade empreendedora”, observa Antony. Ele acredita no poder da tecnologia para promover mudanças quando associada ao espírito humano engajado e movido a propósito. Na opinião de Jennifer, apesar das lideranças entenderem como tecnologias e empresas funcionam, é muito diferente colocar assuntos diversos, como governança de dados, blockchain, criptomoedas na perspectiva dos clientes. Para ela, é necessário ter uma visão de fora, que realmente coloque o cliente no negócio. “Queremos que empresas tenham sucesso e ganhem dinheiro, mas que façam isso com foco, com dedicação real ao cliente”, defende.
Os executivos do painel, todos egressos de posições de destaque no mercado financeiro, resolveram incorporar o espírito das fintechs, abrindo mão da arrogância para desenvolver alternativas que façam sentido e tenham impacto positivo na vida das pessoas. “Esta é a grande virtude das fintechs. Elas criam negócios voltados para a realidade das empresas. Somente esse posicionamento já representa uma ruptura sensível no modelo de negócio da indústria”, comenta Antony.
E como desenvolver o varejo quando tantos consumidores têm escores medíocres, baixos, que os afastam do mercado de consumo? O poder das fintechs é atuar sobre esses pontos de fricção para oferecer produtos inovadores ué tragam mais consumidores para o mercado, que possam funcionar como um ecossistema que funcione a favor de clientes e consumidores.
Arora entende que a liderança precisa olhar adiante, para além do que números mostram. Via de regra, qualquer instituição financeira trabalha com o dinheiro do cliente, logo deve ser uma instituição de confiança, acima de tudo. Mas como trabalhar essa confiança se o segmento utiliza terrivelmente os dados dos dos clientes? Qual banco utiliza os dados coletados em favor do cliente?
Oportunidades
O blockchain novamente surge como uma tecnologia promissora, porque funciona de modo coletivo, que faz pessoas trabalharem juntas para trazer confiança a transações e atividades. Há casos em desenvolvimento que realmente podem mudar a forma pela qual os bancos atuam. É possível imaginar um mundo no qual os pontos de fricção, os custos sejam reduzidos e o sistema financeiro seja mais acessível e totalmente diferente daquele que conhecemos hoje. E isso obedecendo a perspectiva do consumidor.
O machine learning também poderá ser um vetor dramático de mudança, pois fará máquinas ultrapassarem tarefas simples e funcionarem como uma fonte de ideias que poderão fazer humanos produzirem melhor trabalho para si mesmos.