Esta repórter que aqui escreve mora no bairro da Bela Vista, em São Paulo. É um ótimo lugar para morar, especialmente para quem, como eu, gosta de comida italiana. Próximo do centro da cidade, não é um bairro esquecido pelo poder público – e tenho experiências para comparar, porque morei durante 20 anos em Guaianazes, extremo da Zona Leste.
Contudo, como quase tudo no Brasil, o centro de São Paulo há muitos problemas. Por exemplo, há uma cratera criada pelo peso dos ônibus que passam pela faixa da Avenida Brigadeiro Luis Antônio, a um quarteirão de distância da Avenida Paulista, uma das mais importantes da cidade. Primeira pergunta: será que em outros países do mundo o asfalto se move de acordo com a pressão dos veículos pesados?
Questiono isso para poder contar um “causo”: no último domingo a noite, um senhor de 65 anos tropeçou no buraco em questão e caiu de testa na calçada. Sim, de testa. Ele atravessou fora da faixa – ok, isso não está certo – e caiu em frente ao ponto de ônibus. As pessoas agiram rapidamente: tiraram o saco de lixo de uma lixeira para bloquear a passagem de carros, acharam um cone gigante da Companhia de Engenharia de Tráfego e desviaram o rumo dos ônibus. Sem as pessoas, aquele senhor ainda teria sido atropelado.
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A ambulância foi chamada, mas demorou meia hora. Uma mulher (um exemplo de bondade!) sentou ao lado dele para mantê-lo acordado e para garantir que ficasse imóvel enquanto o resgate não chegasse. Por fim, foi socorrido. E por sorte ficou bem: foi atendido, medicado e já está em casa.
Enquanto esperávamos pela ambulância, um garoto caiu na calçada, por causa de outro buraco. E apesar de ter um final “feliz” – entre aspas, mesmo, porque o ideal seria que nada disso tivesse acontecido -, a história em questão nos leva a uma pergunta básica: onde está o poder público? A ambulância demorou meia hora, por causa de outras ocorrências graves; o asfalto têm diversos buracos e desníveis. Mesmo na faixa de pedestre e nas calçadas – que são os locais onde os pedestres devem estar -, o risco é constante. E mesmo quando idosos estão na faixa de pedestre, os carros começam a acelerar quando o semáforo está prestes a ficar verde. Falta gestão — e falta respeito.
Em meu processo de indignação, busquei um pouco sobre o tal projeto Cidade Linda, do prefeito João Dória. Ele causou polêmica por causa da pintura de diversos muros grafitados, mas o que muitas pessoas ainda não sabem é que o projeto envolve também o cuidado com o espaço público de uma maneira geral.
Como cidadã e consumidora, gosto da perspectiva de ver alguma melhora no cotidiano – afinal, o pagamento de impostos tem uma relação direta com o “consumo” de serviços públicos. Somos “consumidores” da prefeitura e temos todo o direito de cobrá-la. E o projeto Cidade Linda talvez seja um primeiro passo inovador para o fim dessa tragédia. Contudo, em uma cidade com tantas caras e perfis, com bairros cheios de demandas tão variadas, será difícil resolver tudo em quatro anos. Enquanto isso, olhe para o chão enquanto anda.