“Crise, crise, crise – todo mundo só fala de crise. Perde-se tanto tempo falando dela. Crise sempre existiu. Primeiro, ela me dava medo, depois descobri que ela é um fantasma e depois descobri que ela faz parte do processo. Sem crise, não tem inovação e ninguém sai do lugar. Sem ela todo mundo fica na zona de conforto”, afirmou Geraldo Rufino, fundador da Jr Diesel, durante painel no BR Week, maior congresso de varejo do País. “Já quebrei cinco vezes, mas nunca quebrei a minha credibilidade, só o caixa. O caixa a gente ganha de novo. O Brasil é um cavalo de raça, que faz m****. O problema é que todo mundo olha para a m**** e esquece do cavalo”, disse ele, arrancando aplausos acalorados da plateia.
Rufino é parte de um grupo de varejistas que mantém o ânimo, se mantém otimista, sem medo de crises, e criaram estratégias para conseguir crescer. “Esses caras estão crescendo, criando novos negócios. São caras que, em meio à choradeira, estão se mexendo”, disse Marcelo Cherto, presidente da consultoria Cherto, mediador do encontro que reuniu marcas que apostaram em pessoas e processos para crescer.
Erick Cavalhieri, um dos maiores franqueados d’O Boticário, e que ainda tem lojas das marcas New Era e Sunglass, aposta nos detalhes para conseguir resultados. “A crise no meu entender é mais uma oportunidade do negócio, de ganhar mercado, me aproximar das pessoas. Tem a oportunidade operacional comercial, que neste momento está com melhores condições”, afirma o executivo. Outro ponto de aposta do executivo é a valorização dos clientes e dos funcionários.
Pessoas
A Aramis, de moda masculina, segue a mesma premissa: vê nas pessoas a estratégia fundamental para crescer. “Colocamos a casa em ordem para o crescimento. Aproveitamos o mercado acelerado, mas com disciplina e nos preparamos para o momento que estamos vivendo, porque sabíamos que aquele ‘oba-oba’ não era real. Tivemos a oportunidade de começar a estruturar a empresa e investimos mais em pessoas. Investimos mais em pessoas do que em produtos”, afirma Richard Stad, diretor-presidente da Aramis.
Para ele, são as pessoas que fazem os processos e criam as estruturas basilares para o crescimento. “É zero ego. Todo mundo tem de estar no processo”, diz. A varejista tem 41 lojas próprias e um quadro que inclui 650 pessoas, entre lojas, CDs e parte administrativa. “Faço questão de mostrar para os funcionários as mudanças e a evolução da empresa, porque no final depende muito que eles trabalhem mais e com mais eficiência. Mas não perdemos de vista que as pessoas têm de ter qualidade de vida no trabalho”, afirma. “Fazemos questão que as pessoas trabalhem no horário certo. Todo mundo está engajado neste projeto”, completa.
Para Rufino, valorizar as pessoas é parte do negócio e é fundamental para o crescimento. “Precisamos acreditar nas pessoas. Elas não são descartáveis na primeira curva. O cara que lhe deu mais de três prejuízos, e continuou com vontade, pode ser o melhor cara para você.
Perspectivas
Para Stad, o Brasil vai sair dessa crise. “Caso contrário, não estaríamos abrindo loja e fazendo o que estamos fazendo. A primeira energia é você que coloca, tem de ter disciplina. Se você está triste ou feliz, existe o consumo. Nossa loja precisa ser um oásis nesse deserto. E temos uma obrigação de gerar uma experiência que encante o cliente, senão, não estamos construindo nada. Temos de ajustar o negócio e quem estiver preparado vai sair forte”, afirma.
Para Rufino, passo importante de quem está vendo os indicadores caírem é aceitar que se está no fundo do poço. “Aceita, porque se você ficar se debatendo, você morre sufocado. Tem de olhar pra cima e seguir em frente”, diz. Depois do aceite, a hora é de agir, porque apesar da crise, o País não parou, na avaliação do executivo. “Ninguém parou de comer, se vestir ou beber. A oportunidade existe para quem acredita e trabalha”, afirma. “Somos muito bons, só temos de parar de olhar para o outro lado do muro. Nosso sucesso é aqui. Temos de olhar para o cavalo”, completa.