No universo dinâmico da interação humana, a “arte” de comandar se revela estratégica para alcançarmos nossos objetivos e desejos. Seja em um simples pedido a um amigo ou na complexa instrução de uma equipe de trabalho, a capacidade de transmitir nossas ideias com clareza e precisão é absolutamente fundamental.
Para mim, como tetraplégico, a importância do comando se intensifica. A necessidade constante de solicitar auxílio para praticamente tudo (sozinho, só consigo conduzir minha cadeira motorizada e usar o meu tablet), me obriga a pensar em como aprimorar minhas habilidades de comando, buscando maneiras cada vez mais eficazes de comunicar meus pedidos.
Procurei literatura sobre técnicas de comando e encontrei reflexões pertinentes no livro “Comunicação Não-Violenta”, de Marshall B. Rosenberg, além de algum material de cunho militar e de um artigo sobre adestramento de cães pastores alemães da década de 70 (rs!), mas nada na direção exata da minha busca, que era a de encontrar uma teoria do comando, que me ajudasse a aumentar a efetividade e a produtividade nas minhas relações pessoais.
Na verdade, há um sem número de publicações que tangenciam nossa temática, mas sempre de forma subliminar, nunca central, como “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu; “O Livro dos Cinco Anéis”, de Miyamoto Musashi; “O Príncipe”, de Nicolau Machiavel; “As 48 Leis do Poder”, de Robert Greene, e até o antológico “Como Fazer Amigos os e Influenciar Pessoas”, de Dale Carnegie. E nenhuma com o beabá do comando!
Essa frustração me levou a tentar formular minha própria tese, com as etapas essenciais para o sucesso de um comando:
- Clareza de propósito: é o ponto de partida! Antes de qualquer palavra, pedido ou ordem a ser proferida, é chave que, mentalmente, profundamente, eu tenha claro o que quero, para poder formular o comando com clareza e precisão;
- Comando preciso: a segunda etapa é o comando em si, seja ele apresentado oralmente, por escrito ou qualquer outra forma de transmissão. Através da linguagem, transformo meu pensamento em uma mensagem concreta e compreensível para o interlocutor. É nesse momento que a escolha das palavras se torna estratégica. Elas devem ser precisas, concisas e adequadas ao contexto, transmitindo com fidelidade a intenção original;
- Compreensão do interlocutor: a mensagem transmitida deve ser recebida e interpretada de forma correta. Para isso, é importante também observar a linguagem corporal, as expressões faciais e o tom de voz do interlocutor, buscando identificar possíveis dúvidas ou incompreensões, para rapidamente saná-las! Sem entender direito o comando, a execução ficará inexoravelmente comprometida;
- Execução eficaz: é a etapa final! É a materialização do comando. O interlocutor, munido de compreensão idealmente completa do que foi solicitado, toma as medidas necessárias para realizar a tarefa. Há processos nos quais o demandante pode acompanhar a execução e dar mais comandos para corrigir o que está sendo feito. Outros tantos vão depender exclusivamente daquele briefing inicial. De qualquer forma, para o bem e para o mal, é aqui que o comando se torna realidade!
Minha experiência com sites de busca e aplicativos de Inteligência Artificial me proporcionou uma nova perspectiva sobre o comando. A interação com esses sistemas me fez questionar como podemos estruturar nossos comandos, ou melhor, nossos prompts, para obter as respostas desejadas.
Na era digital, a capacidade de formular comandos eficazes se torna cada vez mais relevante. Saber pedir, com clareza e precisão, é um dos grandes desafios que enfrentamos diante das novidades da IA. Ao dominarmos essa arte, podemos aproveitar ao máximo o potencial dessas ferramentas, abrindo portas para novas possibilidades, para sairmos do lugar comum, pensarmos fora da caixinha e ensejarmos mais e mais inovação!
Ou seja, agora falamos da arte do prompt!
Na verdade, todo esse processo já está ocorrendo, envolvendo as elites tecnológicas ao redor do mundo, muitos que já faziam uso da IA bem antes da temática virar a “coqueluche do momento” (se é que ainda podemos utilizar esta expressão das antigas)!
O desafio é tão complexo que já temos recursos de Inteligência Artificial especializados em criar prompts precisos para serem usados em outras plataformas generativas!
E, voltando ao contexto da acessibilidade e dos direitos das pessoas com deficiência, tenho pensado muito sobre como isso tudo pode contribuir para a inclusão social desse segmento. Intuo que muito, mas ainda tenho muitas dúvidas.
Infelizmente, o lado negativo dessas tecnologias disruptivas sempre será a inclusão digital, democratizar esse conhecimento, fazer com que o maior número possível de pessoas consiga desfrutar dessa vanguarda em termos criativos, mas, também, dos frutos econômicos e financeiros, rompendo com a ilógica, desumana e insustentável concentração de riquezas que assistimos nos dias de hoje!
Cid Torquato é advogado e CEO do ICOM. Foi Secretário Municipal da Pessoa com Deficiência de São Paulo entre 2017 e 2021 e Secretário Adjunto de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência entre 2008 e 2016. É autor do livro “Empreendedorismo sem Fronteiras – Um Excelente Caminho para Pessoas com Deficiência”.