Em uma época de distanciamento social, os aplicativos de relacionamento, como Tinder, Bumble e Happn, podem ser uma faca de dois gumes nos relacionamentos humanos. Embora os encontros presenciais estão prejudicados pela quarentena, o contato virtual se torna um forte aliado contra a solidão.
Com o fechamento de bares, restaurantes e eventos ao vivo, pessoas em busca de relacionamentos estão sendo forçadas a adaptar seus meios de interação.
Apesar da quarentena, os aplicativos de encontros não estão registrando queda na utilização. Pelo contrário: alguns detaham crescimento e até mesmo recordes de audiência.
Distanciamento físico aumenta interações virtuais
Os apps TrulyMadly e Aisle, da Índia, estão testemunhando níveis históricos de envolvimento desde o início da quarentena. Analogamente, as plataformas de namoro esperam um aumento de atividade em um futuro próximo.
O Bumble, concorrente direto do Tinder, disse que a usabilidade permaneceu estável e alinhada às tendências sazonais, enquanto o OkCupid, do Match Group (que também opera o Tinder), disse ter visto um aumento no uso entre daters mais jovens em grandes cidades. S’More, um aplicativo que opera em Nova Iorque, Boston, Washington e Chicago, registrou aumento de 28% na terceira semana de março. No aplicativo holandês The Inner Circle, o número de correspondências e mensagens enviadas já aumentou 99% e 116% em março, respectivamente.
Uma pesquisa realizada pelo Happn no mês de março revelou que 54% dos usuários estão dispostos a ter um primeiro encontro por videochamada, adaptando o próximo passo natural após o flerte virtual às recomendações locais de saúde. O aplicativo expandiu o raio de localização de 250 quilômetros para 90 quilômetros recentemente, para que as pessoas não se sintam completamente isoladas durante a pandemia.
Já o Tinder disse que disponibilizaria alguns recursos pagos gratuitamente, já que mais usuários estão tendo conversas mais longas durante a crise, além de acrescentarem um recurso de geolocalização em qualquer parte do mundo, de acordo com comunicado à imprensa.
Baby boomers também estão se adaptando ao webnamoro
As gerações mais maduras, que já sofriam com questões de solidão e isolamento muito antes da pandemia, também têm encontrado acalento nos aplicativos de relacionamento.
Para Marina Roale, embaixadora do projeto IDENTIDADES, os baby boomers estão, enfim, compreendendo a digitalização dos processos da vida, algo que sempre resistiram. “Tornou-se a única opção viável de socialização, a única forma de se manter em uma rotina. Ao se aventurar em tarefas online do cotidiano, que não haviam vivenciado antes, destravam os bloqueios que tinham do universo digital.”
Além dos boomers precisarem sair da zona de conforto para se relacionar, Marina explica que os aplicativos estão ganhando novos significados, uma vez que, por ora, não há mais encontros presenciais.
“Neste momento esses aplicativos não são mais sobre encontro. Este está em suspensão. Os aplicativos agora são sobre a reafirmação do desejo, a busca por companhia, a necessidade de troca e possibilidade de desvendar uma nova faceta de si mesmo.”
Marina Roale, coordenadora de pesquisa na Consumoteca e embaixadora do IDENTIDADES
Dicas de interação a distância
Para aqueles que querem “pegar” alguém, mas não querem pegar o coronavírus, há meios de se passar algum tempo a dois mesmo a distância. O Google Chrome oferece a extensão Netflix Party, permitindo que os espectadores em dois locais diferentes assistam ao mesmo filme ou série na Netflix, além de poderem mandar mensagens uns aos outros em tempo real.
O aplicativo de mensagens Telegram também disponibiliza um canal chamado Box Stream, que permite que usuários assistam streaming de modo simultâneo, reduzindo o distanciamento.
Para os adeptos dos games, além dos tradicionais jogos online, o aplicativo de voz Discord possibilita o streaming de jogos entre duas ou mais pessoas, com chat de voz e imagem da tela em tempo real.