O Money20/20 trouxe uma abordagem diferente na exposição do conteúdo. Nas seis salas de conteúdo espalhadas pela área de exposição, houve vários períodos de imersão, com muitos painéis em sequência, dedicados a esmiuçar assuntos relevantes. Inteligência, Artificial, fraudes, meios de pagamento e até a dinâmica de fintechs na América Latina mereceram muitos conteúdos e debates.
O destaque recebido pela América Latina, com vários debates envolvendo empresas e países da região aponta para uma nova realidade,a na qual o continente desponta como um ambiente propício para a inovação, com população digitalizada, mobile first, sensível à inovação, com urgências e sensibilidade inexistentes nos mercados de EUA e Europa.
O Pix, por exemplo, foi especialmente mencionado, como exemplo de inovação em inclusão e acesso da população a serviços financeiros. Vários palestrantes da América Latina que se concentraram em tópicos relacionados a carteiras digitais, sistemas de pagamento e inclusão financeira.
Eles compartilharam suas perspectivas sobre a evolução dos pagamentos digitais na região, discutindo especialmente as transações de pessoa para pessoa (P2P) e de pessoa para “merchants” (P2M). Os painéis do Money20/20 também abordaram a questão da interoperabilidade entre diferentes sistemas de pagamento digital e as implicações da fraude no contexto das carteiras digitais.
Outro exemplo destacado foi a carteira digital Piacevoli, criada como parte da Parent Network, que é uma rede de cartões de terceiros em Porto Rico. Lançada em 2012, é pioneira na América Latina. Desde então, a penetração da carteira digital cresceu significativamente e se tornou uma parte essencial da vida cotidiana de muitos cidadãos na região.
A evolução da Piacevoli foi notável, começando como um meio de pagamento de pessoa para pessoa e, em seguida, se expandindo para permitir transações de pessoa para comerciante (P2M). Atualmente, a carteira é amplamente aceita em diversos estabelecimentos e terminais de pagamento, facilitando transações de maneira conveniente. As pessoas passaram a usá-la com frequência, substituindo, em muitos casos, saques em caixas eletrônicos.
Experiência do cliente, sempre decisiva
Outro ponto importante da América Latina e a abordagem de suas fintechs é a importância de tornar a experiência do usuário amigável, tanto para os usuários quanto para os comerciantes. A região também registra parcerias entre instituições financeiras e os emissores de cartões para garantir que o crescimento das transações digitais não prejudicasse os interesses dos bancos tradicionais.
A experiência do cliente se estende para a segurança, com a adoção de tecnologias como o reconhecimento facial para melhorar a segurança das carteiras. Além disso, embora o foco atual seja em transações domésticas, muitas fintechs, como o Nubank, veem a interoperabilidade entre diferentes sistemas de pagamento como o próximo passo inevitável no desenvolvimento das carteiras digitais.
No Peru, tivemos o case da empresa ERP, fundada em 2018 e que se expandiu significativamente, alcançando cerca de nove milhões de usuários, aproximadamente 30% da população peruana. Eles se concentraram em permitir que os usuários realizassem transações de pessoa para pessoa e, posteriormente, expandiram para transações em pontos de venda (POS). Isso resultou em uma mudança notável no comportamento do consumidor, com muitos peruanos optando por fazer pagamentos com carteiras digitais em vez de dinheiro ou cartões.
Cerca de 20 milhões de peruanos eram desbancarizados antes do surgimento da carteira digital. A ERP desempenhou um papel crucial em oferecer créditos a esses cidadãos, possibilitando que eles obtivessem empréstimos pela primeira vez. Os empréstimos tinham um valor médio de cerca de US$ 70 e eram frequentemente usados para oportunidades de negócios ou melhorias na educação.
A discussão destacou a diversidade de usos da carteira digital, desde transferências de dinheiro entre amigos e familiares até pagamentos em estabelecimentos comerciais. Além disso, a ERP trabalhou em estreita colaboração com as autoridades regulatórias para garantir que suas operações fossem seguras e cumprissem as regulamentações financeiras. O sucesso da ERP foi em grande parte atribuído à sua capacidade de manter altos padrões de segurança e fornecer suporte ao cliente eficaz.
A força das carteiras digitais
A discussão também abordou o papel das instituições financeiras tradicionais na era das carteiras digitais. Executivos e palestrantes acreditam que os bancos tradicionais não serão eliminados por esses sistemas, mas sim encontrarão maneiras de se beneficiar deles. Não são poucos os casos bem-sucedidas de parcerias entre bancos e empresas de carteira digital, que resultaram em uma maior penetração de mercado e uma oferta mais abrangente de serviços financeiros.
Apesar da evolução recente, ainda há populações e áreas remotas que não têm acesso a infraestrutura digital. Isso representa um desafio para expandir o alcance das carteiras digitais por todo o continente. O exemplo do Nrasil, com a expansão da Caixa para pagamento do “auxílio emergencial” durante a pandemia também foi mais um exemplo desse processo de inclusão.
Obviamente, pelas suas características, o Money20/20 registrou, nos painéis, a importância de parcerias público-privadas. As parcerias com governos e outras organizações podem ajudar a criar infraestrutura digital em áreas carentes e garantir que mais pessoas tenham acesso às vantagens das transações digitais.
A educação desempenha um papel fundamental na promoção do uso responsável das carteiras digitais. Os usuários precisam entender como usar essas tecnologias de maneira segura e eficaz. A conscientização sobre os riscos de segurança e a forma de proteger suas informações financeiras é essencial.
Tendências globais
O conteúdo focado na América Latina também abordou as tendências globais em carteiras digitais. Os palestrantes nos muitos painéis, observaram que a América Latina não está isolada nesse contexto; o crescimento das carteiras digitais é uma tendência global. A pandemia da Covid-19 acelerou ainda mais a adoção de pagamentos digitais em todo o mundo.
Vale a pena acompanhar o quanto grandes empresas de tecnologia, como Google e Apple, estão entrando no espaço das carteiras digitais. Isso está mudando o cenário e, eventualmente, pode criar mais concorrência e oportunidades para os consumidores.
O saldo final foi amplamente positivo para o setor de pagamentos digitais na América Latina. Há otimismo generalizado inclusive de fundos e aventure Capitals sobre o futuro e crença de que a região está bem posicionada para continuar a inovar no campo das carteiras digitais. À medida que o comportamento do consumidor evolui, as carteiras digitais devem acompanhar essas mudanças e oferecer soluções cada vez mais convenientes e seguras.
O evento Money20/20 na América Latina serviu como um reflexo das oportunidades e desafios que o setor de pagamentos digitais enfrenta na região. As perspectivas e experiências compartilhadas pelos palestrantes oferecem uma visão valiosa para todos aqueles interessados no futuro das transações financeiras na América Latina.