O país do futuro não consegue se desvencilhar seu apego incomum e inercial ao passado. O Brasil que pretendemos legar às próximas gerações é um País acovardado, eternamente em busca de soluções simples para problemas complexos e em conflito com uma realidade incerta, imprevisível e desestabilizadora. Ou será que não?
O último Congresso Nacional das Relações Empresa-Cliente, CONAREC, fez o impensável nesses dias tomados pela sufocante agenda política: ousou dedicar dois dias para discutir inovação. E o fez reunindo mais de 160 palestrantes, abordando todos os aspectos necessários para a produção de inovação: gestão, cultura, pessoas, processos, metodologias, ideias, cases, experiências e práticas. O resultado desse caldeirão foi espantoso: foi como se uma energia imensa e intensa represada por anos a fio fosse liberada. E vimos a inovação sendo discutida, defendida. Vimos inspirações. Vimos startups com seus sonhos e empresas gigantescas com sua força e capacidade de investimento defendendo a busca por novas ideias. Vimos especialistas entusiasmados por discutir e apontar caminhos para tornar as pessoas mais produtivas e inovadoras.
Vimos sobretudo que o Brasil quer livrar-se do empuxo que o reprime, que o impede de progredir e de se modernizar.
Há legiões de empreendedores que querem alinhar o País com as melhores economias do mundo. Somos uma fonte espetacular de geração de ideias, mas somos tímidos e quase encabulados na hora de realizar. Pensamos em ideias que podem dar dinheiro, mas não em como fazê-las funcionar para gerar valor. E o jogo hoje é de gerar valor. Dinheiro e lucro são consequência da busca insana do valor adicionado.
Essa energia liberada é quase subversiva diante de um País que parece conformar-se em ser um paradoxo temporal. Um País que se acostumou a olhar para trás, em busca de um passado onde tudo parecia mais simples. Bônus demográfico à parte ? o Brasil envelhece rapidamente na expectativa de vida ? há muito bolor mental espalhado por aí. O grande problema desse viés nostálgico, desse apego ao passado é que ele muda conforme a pauta e a necessidade. E pior: não volta. Vemos pessoas com saudade de ditaduras militares, de caudilhos como Getúlio, de seleções tricampeãs, da década de 60, dos anos 80 (?!), de Macunaímas e de Semanas de Arte Moderna. Localizar a história é saudável. Reificá-la é simplesmente perda de tempo.
Quando assistimos manifestações contrárias ao Whats App, ao Uber, ao AirBnb, ao NetFlix, ao Tinder, à Amazon, aos custos da China e a um sem número de inovações que se dedicam a capturar valor onde antes reinava o desperdício é dar as costas ao futuro. Pedir regulação e obrigar negócios novos a seguir regras antigas, é buscar encaixar quadrados em círculos. A cada manifestação que o Brasil dá, contrária à inovação, sejam por meio de suas instituições, de seu primitivismo político e do temor de encarar novas formas de competição, mais o Brasil alinha-se com o atraso e com a privação da liberdade essencial ao florescimento de negócios mais seguros e provocadores. E é disso que precisamos mais e mais: negócios provocadores.
Notem que o País visto nas páginas e imagens da grande mídia ? que cumpre o seu papel correto, democrático, imprescindível e inalienável de mostrar, analisar e contar ? está cada vez mais ranzinza, mal-humorado, birrento. A alegria da criação, da experimentação, da busca, da conquista, da competição está se perdendo. O economista chileno Cesar Hidalgo, do MIT, tem estudos que atestam de modo agudo o quanto economias complexas são melhores, maiores geradoras de valor e de bem-estar. E o Brasil que quer ? e consegue inovar ? choca-se com o País que quer voltar ao passado, onde tudo era mais simples. O País que quer acordar ontem e não amanhã.
Está na hora de darmos um tempo ao passado. Nesse período de crise desmedida e sem final previsto, mais do que nunca é necessário canalizar a energia inovadora para criar um Brasil melhor, mais confiante, mais criativo e empreendedor.
O país do futuro precisa aprender a olhar para a frente.
*Jacques Meir é diretor de Conteúdo e Conhecimento do Grupo Padrão