Durante o painel de encerramento do Abrafarma Future Trends, evento que aconteceu na última semana, em São Paulo, Alexandre Schwartsman, sócio-diretor Schwartsman e Associados Consultoria Econômica, e o economista Eduardo Giannetti falaram sobre a preocupação com o futuro do País e os desafios que Michel Temer tem pela frente.
A primeira consideração de Schwartsman foi a respeito da profundidade da crise econômica. Segundo o economista, está ficando cada vez mais difícil falar de economia sem acabar resvalando na política. “A gente acaba entrando cada vez mais fundo na questão política, porque nesta semana tivemos notícias como o impedimento definitivo da Presidente Dilma Rousseff, e agora temos um novo governo, não mais interino; a divulgação do PIB do segundo trimestre, que foi mais uma decepção; a decisão do Banco Central de manter a taxa de juros; e a divulgação da proposta de orçamento para o ano que vem”, relata o economista.
Para ele é como se o passado estivesse se juntando com o futuro para tentar ajudar a montar esse mosaico e descobrir o que a gente pode esperar para a economia do Brasil para os próximos meses e próximos anos. “O primeiro ponto é entender a excepcionalidade do momento econômico que a gente vive hoje. Nós tivemos dois anos consecutivos de queda no PIB. A última vez que aconteceu algo parecido com isso foi em 1932”, afirma. “De lá para cá tivemos muitas outras recessões, mas a maioria delas foram curtas e pouco profundas. Na raiz dessa crise econômica existe um componente político muito forte, que pode ou não ser sido resolvido com a decisão do congresso em afastar a presidente”, analisa.
De acordo com Schwartsman, o maior problema, que gerou uma crise nessa magnitude, foi o gasto público e isso foi comum a todos os governos. E o governo atual tem o desafio de realizar um conjunto de reformas para colocar a economia do Brasil no eixo novamente. “Vemos os primeiros sinais de melhora com um pequeno aumento no investimento no último trimestre. Pode ser uma feliz coincidência, mas eu acredito que seja porque já se tinha ideia de que a presidente seria afastada. Provavelmente essa seja uma leitura exageradamente otimista da minha parte”, avalia o economista.
Na sequência, Giannetti também se mostrou otimista em relação a melhora no cenário econômico. “Quando me perguntavam seu eu conseguia ver ‘uma luz no fim do túnel’ eu dizia que não via nem o túnel. E agora já possível enxergar o túnel”, brinca o economista.
Os 3 principais motivos para o otimismo são:
1. O governo possui uma equipe econômica competente e qualificada. Segundo Giannetti, como não se via desde o início do governo Lula. “Em termos de equipe econômica mudamos praticamente da água para o vinho. Isso é mérito do governo Temer, e me surpreendeu para o bem e é muito tranquilizador”, avalia o economista.
2. Segundo ponto é existe um programa econômico que foi pré-anunciado, antes de o governo Temer assumir com o afastamento da Dilma, chamado Ponte Para o Futuro. “Quem não leu, eu recomento fortemente que o faça, porque neste documento está um diagnóstico correto do nosso problema econômico, e também um elenco de propostas, não só no campo fiscal (que é crítico e será decisivo), mas também no tocante às medidas necessárias para recuperar a condição de melhorar a produtividade no Brasil. Concessões, privatizações, reforma tributária e reforma trabalhista”, explica Giannetti.
3. A terceira ordem diz respeito a conjuntura. “Tem 3 conjunturas que animam e tem a ver com o time do governo Temer. Estamos com inflação em queda, com expectativas de em 2017 finalmente convergir para o centro da meta; o impacto do reajuste dos preços administrados que ficaram artificialmente represados no período eleitoral, já foi absorvido; e a boa notícia é que tem a possibilidade de queda nos juros”, explica Giannetti. Outros pontos que o economista destaca como positivos é o setor externo, que está ajustado, e o aumento dos índices de confiança, que já apontam para cima.
Giannetti destaca ainda que existe um risco político nesse processo, e depende da Operação Lava a Jato. Se surgirem novos fatos que façam com que o presidente precise se defender, e se isso for grava, pode prejudicar a capacidade do governo temer de dar sequência e implementar as medidas que eles pretendem fazer”, avalia.
O economista afirma que esse risco existe, mas o grande teste do governo Temer na sua condição de restabelecer no Brasil uma condição e governabilidade e de boa governança, vira nos próximos meses, no momento que será um verdadeiro divisor de águas. “O desafio é a PEC 241 (Proposta de Emenda à Constituição) que estabelece um teto global para o aumento do gasto público, impedindo que ele cresça em termos reais, que precisará ser aprovada até o final do ano”, explica. Se isso acontecer o país terá a condição de governabilidade estabelecida e a economia tende a se recuperar.