Recentemente, a Consumidor Moderno trouxe dados que mostram que uma parcela dos consumidores que estão negativados emprestaram o nome para terceiros. Esse é um exemplo da falta de cuidado do cidadão com as finanças – e não é o único caso. Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostra que 15% dos brasileiros atualmente inadimplentes ou que estiveram nessa situação há no máximo doze meses já fizeram empréstimo com financeiras que fornecem crédito a negativados. entre consumidores que possuem 55 anos ou mais, esse número aumenta para 23%.
Para quem está passando por dificuldades financeiras, a promessa de créditos concedidos rapidamente, sem muita burocracia, pode ser muito sedutora – mesmo para o consumidor que já está negativado. E muitas pessoas, sem conhecimento das elevadas taxas de juros, acabam aceitando o crédito voltado justamente para o público negativado. Esse público acaba considerando essa opção como última saída para conseguir pagar dívidas e honrar os compromissos financeiros.
Diante desse contexto, porém, o dado mais alarmante diz respeito ao conhecimento dos consumidores sobre as taxas de juros cobradas. A pesquisa mostra que apenas 55% analisaram esses fatores e características de outras linhas de crédito existentes antes da contratação.
Conhecimento sobre o crédito
De acordo com o estudo, considerando os entrevistados que já fizeram esse empréstimo, a descoberta de empresas que oferecem esse tipo de crédito se deu principalmente pela distribuição de panfletos (27%), pela internet (20%) e por anúncios em TV, jornais e revistas (18%).
Na hora da contratação, sete em cada dez entrevistados fizeram o empréstimo pessoalmente nas financeiras (73%) e 23% pela internet. Os principais motivos para a contratação variam: 30% justificam que não conseguiram crédito em outro banco, enquanto 25% disseram que essa era a única forma encontrada para quitar as dívidas.
Falta de informação
O objetivo do empréstimo, para 29% dos entrevistados, é o pagamento total de dívidas. Para 18%, o foco foi o pagamento total das pendências atrasadas e também comprar itens que precisava. Quanto à facilidade de se conseguir esses empréstimos, há uma divisão entre os entrevistados: 35% consideraram fácil, enquanto outros 35% consideraram difícil.
“Em momentos de estresse é fácil tomar decisões apressadas, mas nem sempre a solução que parece ser mais fácil é a melhor”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti. “Muitos consumidores acreditam que o empréstimo é o único caminho que resta para sair do endividamento e limpar o nome. Porém, a pesquisa mostra que as taxas de juros podem agravar ainda mais o problema. Em alguns casos, elas chegam a ser maiores até mesmo do que aquelas cobradas pelo atraso no pagamento de outras modalidades de empréstimo como o cartão de crédito e o cheque especial”, explica.
Atendimento
A pesquisa do SPC Brasil e da CNDL mostra ainda que as informações passadas pelo atendente no momento da contratação do empréstimo são mais voltadas ao valor total com os juros embutidos (81%), o valor máximo possível para as prestações (74%) e formas de pagamento (74%). As informações sobre o valor dos juros cobrados foram dadas somente em 60% dos casos.
Para realizar o pagamento, os consumidores optam pelas seguintes formas de pagamento: desconto em folha (28%), prestações em carnês ou crediário (25%) e parcelas no débito automático (25%). Em 72% dos casos, os entrevistados afirmaram estar com o pagamento do empréstimo em dia e 25% disseram que estava em atraso, sobretudo porque a renda da família diminuiu (resposta de 44% dos entrevistados dos que atrasaram).
A dívida pode ser impagável
O educador financeiro do SPC Brasil e do portal Meu Bolso Feliz, José Vignoli, alerta: “O consumidor deve evitar a todo custo o empréstimo para negativados, sob o risco de se afundar ainda mais em dívidas impagáveis. Desfazer-se de um bem, ir em busca de trabalhos extras e rever os hábitos de consumo podem ser medidas mais eficazes, ainda que exijam certa dose de sacrifício”.
O estudo revela que que sete em cada dez consumidores (75%) que optaram por este tipo de crédito admitem não ter resolvido a situação financeira. “Percebe-se que a maior parte dos consumidores entende que o empréstimo terminou por ser prejudicial”, afirma Vignoli. Cerca de 26% continuam com o nome sujo e ainda precisam pagar as parcelas – aumentando para 37% entre as mulheres.
O estudo
A pesquisa entrevistou 602 consumidores residentes em todas as regiões brasileiras, com idade igual ou superior a 18 anos, de ambos os sexos e de todas as classes sociais, atuais inadimplentes ou ex-inadimplentes há no máximo 12 meses. A margem de erro é de 3,99 pontos percentuais para uma confiança de 95%.