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O que as bebidas zero álcool dizem sobre o novo comportamento do consumidor?

O que as bebidas zero álcool dizem sobre o novo comportamento do consumidor?

Mercado de bebidas zero álcool projeta crescimento exponencial enquanto os hábitos dos consumidores forçam as marcas a serem mais inovadoras em bebidas saudáveis.

Há alguns anos, o consumo de bebidas mais saudáveis e zero álcool tem crescido de forma significativa em todo o mundo. Impulsionado por mudanças nos hábitos de consumo, maior preocupação com saúde e bem-estar, e o desejo do consumidor por alternativas sofisticadas e saborosas, as marcas se viram forçadas a reimaginar seus portfólios de bebidas para se manterem atraentes e competitivas.

Segundo relatório da Research and Markets, o setor de bebidas zero álcool deve crescer de 630,68 bilhões de dólares em 2025 para 778,59 bilhões até 2029, com uma taxa composta anual de crescimento (CAGR) de 5,4%. O segmento específico de bebidas zero e baixo teor alcoólico (NoLo – no and low alcohol content beverages) deve crescer a uma CAGR de 4% até 2028, sendo que as bebidas totalmente sem álcool lideram com 7%, enquanto as de baixo teor alcoólico permanecem estáveis.

Brasil e Estados Unidos estão entre os mercados que mais crescem em produtos sem álcool. Em 2023, as vendas de cervejas sem álcool no Brasil alcançaram cerca de 480 milhões de litros, representando um crescimento de 24% em relação ao ano anterior, segundo a Euromonitor Internacional. Para 2026, a previsão é que o país atinja 1,1 bilhão de litros comercializados.

Sinergia com público

Daniel Silber, diretor-geral da PepsiCo Bebidas Brasil.

Para Daniel Silber, diretor-geral da PepsiCo Bebidas Brasil, esse boom em categorias relacionadas à saúde explodiu após a pandemia. “O comportamento do consumidor mudou muito, tanto em hábitos de compra quanto de consumo”, afirma. Tanto que a Pepsi Zero já representa 20% do volume de vendas da Pepsi. Além disso, outras bebidas como H2OH! e Gatorade Zero veem crescendo de forma expressiva, com um aumento de quase 20% e 10%, respectivamente, a cada ano. “É um mercado com muito potencial, especialmente considerando o crescimento do consumo de isotônicos devido ao aumento da prática de esportes e à busca por saudabilidade”, pontua Daniel.

O grande desafio aqui, segundo Daniel, é “criar um produto com uma proposta bacana, e que tenha sabor interessante. No passado, existia a percepção de que produtos sem açúcar, por exemplo, tinham um gosto residual amargo”, comenta. Segundo o executivo, tudo isso tem favorecido a experimentação. “É interessante porque permite que a gente traga não só novos produtos, mas embalagens menores, e isso também é um dos drivers de experimentação que está fazendo a categoria zero voar”, afirma.

Inovação e auxílio da IA

Na esteira desse movimento, a Heineken entende o segmento NoLo como uma grande oportunidade de negócios. Segundo Hugo Lehmann, vice-presidente de Vendas e Distribuição do Grupo Heineken, esse movimento reflete claramente uma mudança no comportamento do consumidor. “Há um interesse crescente por alternativas que permitam reduzir o consumo de álcool sem abrir mão do prazer e da socialização proporcionados pela cerveja”. Como consequência, o movimento tem impulsionado não apenas as vendas da de cervejas zero álcool como outras bebidas como o refrigerante Fys, do Grupo Heineken, que contém menos açúcar.

Hugo Lehmann, vice-presidente de Vendas e Distribuição do Grupo Heineken.

Outro ponto de destaque nas estratégias para o mercado de bebidas saudáveis é o uso da Inteligência Artificial (IA). Hugo conta que a IA tem se tornado uma ferramenta essencial para entender as mudanças rápidas no comportamento dos consumidores e impulsionar a inovação no desenvolvimento de novos produtos. Ao analisar grandes volumes de dados com IA, é possível identificar tendências emergentes, preferências de sabor e até comportamentos de compra dos consumidores. “Isso não só acelera o desenvolvimento e lançamento de produtos, mas também assegura que eles estejam alinhados com as expectativas do consumidor, proporcionando uma experiência de consumo mais personalizada e relevante”, ressalta Hugo.

Nessa jornada, o executivo aponta que a inovação em sabores e nas embalagens é um fator importante para atrair mais consumidores de bebidas sem álcool. “A inovação é um elemento essencial na indústria de bebidas, especialmente quando se trata de opções não alcoólicas”, frisa. Além disso, investimentos em embalagens criativas e funcionais, que melhoram a experiência de consumo é fundamental nessa experiência.

Para Hugo são inovações que fazem com que as bebidas sem álcool se destaquem como opções atraentes, saborosas e de alta qualidade, ampliando alcance e atraindo novos públicos. “Inovar em bebidas zero álcool envolve mais do que criar produtos sem álcool. É sobre oferecer alternativas que atendam às diversas ocasiões nas quais essas bebidas podem se tornar protagonistas”, pontua. 

Gen Z e o desafio de normalizar escolhas

Mesmo com toda inovação e crescimento, Hugo aponta que ainda há um desafio para as marcas quando se trata do mercado de bebidas sem álcool. “Muitos consumidores ainda não conseguem sentar em uma mesa de bar e pedir uma bebida sem álcool sem ter que se justificar.” O executivo alerta para esse fato de que grande parte das pessoas acaba preferindo “dar uma desculpa” a afirmar que, de fato, não está a fim de beber.

Uma pesquisa conduzida em janeiro pelo professor Charles Spence, da Universidade de Oxford, com apoio da própria marca Heineken 0.0, corrobora tal afirmação. Os dados revelaram que no Brasil, 27% da Geração Z e 25% dos Millennials ainda sentem a necessidade de se justificar ao escolher bebidas com baixo teor alcoólico ou sem álcool em encontros sociais. “Esse dado reforça a importância de normalizar essa escolha, sem que ela seja vista como algo excepcional”, diz Hugo. “Nesse sentido, temos incentivado cada vez mais um ambiente de socialização mais inclusivo, onde cada pessoa possa escolher o que beber sem receio de julgamentos.” 

Personalização do consumo

Contudo, Hugo avalia que para quebrar algumas barreiras e oferecer uma experiência mais natural e eficiente para esse público, a personalização é essencial. No caso específico da Geração Z, ele conta que a experiência de compra deve ser adaptada para facilitar a descoberta desses produtos, seja com seções específicas em lojas físicas ou com sugestões personalizadas em plataformas digitais. “Esse público, altamente conectado e exigente, busca mais do que produtos de qualidade, ele valoriza marcas que compartilham seus valores. Com esse público, a personalização da experiência é essencial”.

Ou seja, criar diferenciação neste segmento para um público tão peculiar requer muita sensibilidade e alinhamento. Hugo diz que no Brasil isso é ainda mais desafiador. “O mercado brasileiro de bebidas zero álcool se distingue de outros mercados onde a Heineken atua, como Europa e América do Norte, principalmente pelo seu estágio de desenvolvimento. Embora o Brasil tenha grande potencial, ainda está em fase de expansão e apresenta oportunidades significativas quando comparado aos mercados mais avançados, como o europeu e norte-americano”, explica.  

Na Europa, por exemplo, em países como Alemanha e Espanha, Hugo conta que há uma longa tradição de consumo de bebidas zero álcool. A vasta oferta de produtos e um público que já consome essas opções com regularidade em diversos contextos, constroem um cenário ainda mais promissor. “O fato é que as bebidas sem álcool estão se tornando uma escolha cada vez mais comum em diversas ocasiões sociais. Isso demonstra que elas não são apenas substitutos do álcool, mas escolhas desejáveis e integradas ao cotidiano dos jovens, oferecendo prazer e descontração sem os efeitos adversos do álcool”, conclui Hugo.

O movimento “Sober Curious”

Um ponto interessante desse mercado e experiência é o movimento “Sober Curious, que tem se popularizado globalmente e incentivado as pessoas a repensarem sua relação com o álcool. O termo foi cunhado pela autora Ruby Warrington em seu livro Sober Curious, lançado em 2018. Nele, a autora e jornalista britânica questiona a cultura dominante do consumo de álcool e compartilha sua experiência pessoal de beber socialmente e como decidiu mudar essa relação, incentivando os leitores a explorarem uma vida sem álcool ou com consumo reduzido.

Tendências

A premiumização de bebidas sem álcool tem atraído os consumidores como uma tendência aliada à sofisticação e à indulgência. Já as embalagens eco-friendly e práticas sustentáveis são prioridades para marcas que desejam se conectar com esses consumidores. As marcas também se mostram mais interessada em apoiar eventos esportivos, por exemplo, que trazem maior visibilidade para as bebidas zero álcool, consolidando como um setor estratégico. Com o aumento da aceitação global e inovações contínuas no setor, espera-se que esse mercado também atraia maiores investimentos, diversificação de portfólio, além de fusões e aquisições.

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