Desde que o mundo é mundo tentamos enganar a morte. O primeiro imperador chinês bebeu mercúrio para tentar tornar-se imortal. Parece que não deu muito certo. Na Grécia comia-se ambrosia, a comida dos deuses, para também jamais perecer, como eles. Gilgamesh foi testado para alcançar a imortalidade e aceitou que não poderia obtê-la da forma que almejava.
E quanto a nós? Nós queremos viver bem até os 100 anos. Mas também queremos reverter a ação do tempo. Parece ambicioso demais, mas isso pode ser bem viável em uma quantidade não muito grande de tempo. É o que explica Byron Reese, CEO da Knowingly e escritor sobre o futuro da tecnologia, durante o SXSW 2015.
A mortalidade, segundo ele, é simplesmente um problema técnico que, graças às virtudes da Lei de Moore, vamos resolver. A Lei de Moore consiste em perceber que a cada 18 meses a capacidade dos computadores dobra. Segundo ele, isso é possível também com o corpo humano.
Mas o que nos envelhece? ?Mutações no corpo e cromossomos, que resultam em coisas como câncer. É como o jogo Tetris, seus acertos desaparecem, mas as coisas ruins se acumulam. Células param de se dividir ou dividem muito rápido. Mas se há uma razão para envelhecermos de fato, são os telômeros, os extremos dos cromossomos, uma espécie de enzima. Lagostas não têm telômeros e por isso uma lagosta de um ano tem exatamente a mesma aparência por dentro e por fora de uma lagosta de 70 anos?, é o que explica o entusiasta da imortalidade.
Baleias podem viver mais de 200 anos e não tem câncer. São mamíferos, como nós. O que nos leva a crer que podemos tirar algum conhecimento disso.
Hoje, sim, atualmente, não no futuro, já existem máquinas que injetam substâncias que modificam o DNA. Hoje, a começar por hoje, temos cada vez mais possibilidades de nunca morrermos.
Carl Jung sustentava que o medo da morte é o que motiva toda a ação humana. Mas o que pode acontecer quando a morte perder o seu aguilhão?
Aos que escolherem não ser imortais, haverá a possibilidade de escolher condições de morte e até marcar a data. Segundo os estudos de Byron, a expectativa de vida média de um quase imortal será de 5775 anos, o tempo médio que pode levar até que uma tragédia aconteça, como um piano cair na sua cabeça.
Mas em um mundo com quase três vezes mais nascimentos do que mortes, a imortalidade pode tornar-se um problema logístico sério. Se antes você esperava seu chefe se aposentar, ficará mais difícil aguardar cerca de 600 anos para que isso aconteça. Famílias serão gigantescas e os casamentos, bom, as juras de amor eterno serão cada vez mais difíceis.
Além disso, isso pode ter consequências sociais, porque os ricos poderão ser imortais (ninguém disse que seria barato ou acessível a todos), mas os pobre continuarão morrendo. A única coisa que consola os menos favorecidos, no final do jogo o peão e o rei vão para a mesma caixa, deixará de existir.Isso será disponível para os ricos. O que poderia pode causar um cenário complicado socialmente, segundo Reese.
Mas, no fim (embora ele deixe de existir), o desafio e talvez toda a filosofia dos novos imortais seja tornar-se uma pessoa melhor e aperfeiçoar-se. Será que a tecnologia e o poder da imortalidade permitirá que isso aconteça? Parece que podemos viver para ver.