Bom, temos então o outro lado da moeda: o e-commerce brasileiro não dá lucro. Nenhum dos grandes players ? sejam de sortimento variado como a B2W e a Nova Pontocom, sejam especializados como a Netshoes e a Dafiti ? consegue ficar no azul por um tempo significativo. Ao contrário, a tônica é ver balanços tingidos de vermelho. Vemos as redes de fast fashion oferecerem moda a preços completamente descolados da realidade mundial, incorporando o custo Brasil e ineficiência operacional, estimulada pela falta de informação e pela ansiedade do nosso consumidor. Vemos o mercado de varejistas de material de construção extremamente pulverizado, onde a soma das 4 maiores redes mal chega aos 10% do total ? o que reflete mais ineficiência e falta de qualidade. Mercados competitivos precisam de um certo grau de concentração para balizar e orientar consumidores e concorrentes. Porém, o que mais chama a atenção de quem dedica-se a analisar, comentar e entender o varejo brasileiro é uma equação perversa: o crescimento pode ser uma armadilha na qual o ganho de escala incorpora-se ao custo mas não necessariamente à rentabilidade. Ou seja, quanto maior o varejo, mais ele pode perder dinheiro. Isto se deve justamente ao ambiente de negócios que hostiliza, afronta e dificulta sobremaneira o crescimento sustentado das redes varejistas.
É elementar que a busca pelo crescimento impõe a adoção de premissas importantes: governança de qualidade, investimentos em tecnologia ? sistemas de gestão, controle de perdas, integração de operações e estoques para operações físicas e de e-commerce ? mão de obra treinada e qualificada, sucessão… Mas os ganhos de escala decorrentes dessa profissionalização não são incorporados de imediato às normalmente estreitas margens praticadas pelas redes varejistas. Some-se a isso, o aumento de custos decorrente das obrigações fiscais, trabalhistas e logísticas e temos um cenário no qual o empreendedor pode ser tomado pela indecisão: vale a pena investir para crescer e colocar em risco o negócio e sacrificar margens no médio prazo ou é melhor ficar como está, com margens seguras até que concorrentes mais aptos simplesmente pulverizem seu negócio?
Muitos comentaristas julgam ser impossível a manutenção da estratégia de entrada da Forever 21 no Brasil, com preços irreais dado o contexto brasileiro. Acreditamos também que cedo ou tarde esta marca deverá acomodar-se à realidade áspera na qual a ineficiência e o preço alto prevalecem. A questão crucial aqui é: há espaço para o crescimento sustentável e rentável? Qual é o ponto de equilíbrio no qual uma rede varejista consegue conciliar escala, lucro e custos sob controle? O que inevitavelmente conduz a outra questão de igual relevância: o investimento que sustenta esse crescimento deve ser orgânico ou fruto de parcerias, associações ou incorporações por outras redes concorrentes (consolidação) ou por fundos de private equity, por exemplo? Essas questões serão debatidas no próximo mês no Seminário de Investimentos promovido pela revista NOVAREJO que se propõe a juntar profissionais especialistas em investimentos com lideranças varejistas para traçar um caminho seguro para o crescimento sustentado das redes varejistas brasileiras.
Já é tempo de compreendermos melhor a dinâmica do varejo brasileiro: se de um lado há um mercado consumidor com potencial e poder aquisitivo para fomentar oportunidades de crescimento, por outro há a necessidade de avaliar de modo consistente como realmente transformar essas oportunidades em negócios perenes, sólidos e rentáveis.
A busca pelo crescimento não pode jamais ser uma dúvida. Antes, deve ser a certeza e o objetivo de qualquer empresa competitiva.
Jacques Meir é Diretor de Conhecimento e Inteligência de Negócios do Grupo Padrão.