SXSW 2023 – O envelhecimento é uma das poucas experiências humanas universais que conectam todos nós. No segundo em que alguém nasce, a trajetória rumo ao envelhecimento é implacável. Até 2050, a sociedade global terá mais pessoas consideradas “idosas” aos olhos de hoje do que pessoa “jovens”.
Essa é outra questão fundamental enfrentada no SXSW 2023. Entre os vários painéis dedicados a refletir sobre como encarar a longevidade, um debate entre Chip Conley, fundador e CEO da Academia Moderna para Idosos, Peter Kaides, Presidente e CEO da American Society On Aging e Melissa Mitchell, Diretora-executiva da Coalisão Global On Aging ganhou destaque.
Isso porque os especialistas procuraram nos colocar diante de perguntas incomodas: como imaginamos nosso próprio envelhecimento? Seremos ativos, robustos, tranquilos, cansados? Ou iremos buscar uma ideia utópica de perpetuação a partir da velhice? Ou ainda iremos cultivar uma ideia tola de juventude eterna?
Debater e propor ideias para enfrentar o envelhecimento da população é importantíssimo e tem reflexos em várias dimensões sociais e econômicas. E hora de modificar as concepções tradicionais do século XX em torno do conceito de “envelhecimento”, bem como as percepções e equívocos arraigados que precisam ser superados. Podemos afinal falar em “empoderamento longevo?”
Causas da longevidade
Estamos vivendo mais. Temos vidas mais longas, mas também temos verificamos a combinação em que há taxas de natalidade mais baixas e em todo o mundo, que normalmente identificam um país modernizado com taxa de natalidade em torno de 2,1, o que significa que não temos muitos jovens chegando para apoiar as estruturas que foram criadas para a sociedade onde antes havia mais jovens.
Ao mesmo tempo, temos de pensar nas consequências de vivermos em uma sociedade mais velha, com mais pessoas acima de 65 anos. Obviamente, os avanços da medicina, da informação sobre qualidade de vida e das condições de moradia permitiu estender vida dos cidadãos. Pragas e guerras foram erradicadas ou muito reduzidas.
Nesse contexto, Chip Cleyde, mentor de grandes empreendedores, entre eles, Bryan Chesky, fundador do Airbnb, afirma que envelhecer não é exatamente um coisa ruim ou negativa. As sociedades ocidentais, em sua opinião, são obcecadas por aspectos físicos.
Peter Kaides, por sua vez, entende que somos todos responsáveis pela visão preconceituosa que a sociedade tem das pessoas com idade. Médicos, publicidade, marcas e empresas veem a velhice com dó, pena e não aceitam e não enxergam que pessoas velhas não são um problema mas, sim, as velhas ideias acerca delas.
É hora de superar e derrubar barreiras que impedem a construção de uma visão mais moderna da maturidade e da senioridade
Muitas pessoas hoje trabalham sem nem saber que estão no campo do envelhecimento. Isso porque é apenas parte de seu negócio vender para idosos, cuidar de idosos para trabalhar na comunidade, criar organizações voluntárias e outras atividades.
É hora de superar e derrubar barreiras que impedem a construção de uma visão mais moderna da maturidade e da senioridade. E o que acontece com as mulheres idosas e com os negros idosos? É fato que os negros vivem menos que os brancos, o que normalmente está associado à desigualdade e a menos acesso a serviços de saúde e trabalhos menos agressivos à saúde. Se uma senhora de mais de 80 anos reclama de algum problema, quem a consegue entender? Ela acaba no pronto-socorro depois de meses sem fazer nada a respeito porque acha que está apenas envelhecendo. Após vários diagnósticos equivocados, esta senhora provavelmente será encaminhada para cardiologistas, com diagnóstico de insuficiência cardíaca, e sem ser examinada há muito tempo. Ela perdeu esta importante janela de tempo, na qual um tratamento poderia prolongar sua vida com qualidade.
Talvez o trabalhador sábio seja mais efetivo que o trabalhador com conhecimento
Soluções para o envelhecimento apontas no SXSW
Como você cria um ambiente onde as pessoas cuidam umas das outras em um mundo onde estamos tão deslocados, deslocados de nossas famílias de origem? Chip Conley pensa que a abordagem deve ser pró-envelhecimento em oposição ao anti-envelhecimento – a indústria anti-envelhecimento.
Isso quer dizer que envelhecer deve ser motivo de orgulho e as empresas devem contemplar diversidade também na idade das pessoas que contratam. Há uma ideia preconceituosa de que os mais velhos não conseguem lidar com as gerações mais novas, com gays e adeptos de gêneros fluidos e, claro, enxergam uma falsa oposição entre jovens e velhos.
Mas será que os mais velhos, com sua experiência não contribuiriam com sabedoria, com histórias e boas práticas? Talvez o trabalhador sábio seja mais efetivo que o trabalhado com conhecimento.
Peter Kaides diz que inclusão significa também ajudar e dar oportunidades para os trabalhadores mais velhos. Mas quem pode afirmar que um trabalhador com mais idade quer se aposentar ou não precisa ganhar mais dinheiro para assegurar sua sobrevivência?
Enfim, a sociedade. Está repleta de preconceitos e evasivas acerca do aproveitamento produtivo dos idosos e daqueles com mais de 65 anos. Quantas empresas no Brasil não aposentam compulsoriamente seus executivos com 60, 62, 64 anos? Renunciam à experiência da sabedoria sem uma avaliação do quanto essas habilidades pode redundar em benefícios mesmo um mundo digital.
Será que os valores culturais da maior parte das organizações
não estimulam justamente um conflito de gerações?
Etarismo
Estamos diante do preconceito etário, ou etarismo. As pessoas idosas podem ainda ser imaginativas, criativas, vibrantes e cheias de energia, podem ter suas manias, mas certamente sabem gerenciar times e sabem como fazer parte deles.
Chip conta que foi para uma escola de negócios e viu um conceito nas aulas de marketing que ainda prevalece nas reuniões e visões de diretoria das corporações, a de uma expectativa de vida em torno dos 70 anos. Uma estupidez, já que a expectativa de vida média da população global como um todo, incluindo países de renda média e pobres, está em 72 anos atualmente. “Logo, se realmente olharmos para o valor vitalício do cliente em um mundo onde as pessoas estão vivendo até 100 anos, ou mesmo o valor vitalício de um funcionário, onde as pessoas estão trabalhando até os 70 anos, você tem uma perspectiva completamente diferente das oportunidades existente”, observa o especialista.
Será que os valores culturais da maior parte das organizações não estimulam justamente um conflito de gerações de tal modo que os mais velhos não se sintam à vontade e sejam os primeiros a recusar integração e diálogo com os mais jovens?
Na opinião dos painelistas, estamos falando aqui de uma mentalidade antiquada e que continua presente, mas exatamente por isso, deve ser combatida. Os estereótipos associados às gerações devem ser combatidos. É perfeitamente compreensível um senhor da Geração Z ter mais habilidade no TikTok do que um jovem utilizando um e-mail.
Mentalidade, educação, aceitação, generosidade, tolerância, empatia. Essas são as habilidades e sentimentos que devem ser exercitados entre as pessoas de todas as gerações. Estamos falando de convivência, inteligência e de busca de valor que seja positivo para a sociedade.
Sem dúvida, é necessário reafirmar a ideia de pró-envelhecimento. Há valor e benefícios associados à longevidade e toda a sociedade. Empresas, governos, instituições e os jovens irão se beneficiar aceitando que a velhice chega e será predominante no mundo em que vivemos.
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