Embora o Brasil seja – sob muitos aspectos – um País relativamente desinibido em várias questões, o mercado erótico ainda sofre os impactos negativos de um conservadorismo inerente à cultura nacional. Não é incomum que o segmento erótico seja associado à prática da prostituição, por exemplo, e na maioria das vezes é discriminado por questões culturais e religiosas do brasileiro.
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Ainda que o país seja conhecido por ter ritmos quentes e eventos que exaltam os corpos feminino e masculino, é óbvio que, de alguma forma, o público em geral ainda não se sente à vontade para falar abertamente sobre sexo. A expressão “minha amiga pediu para perguntar” é o símbolo do desconforto em assumir dúvidas que podem ser relacionadas ao corpo, à saúde e ao bem-estar da pessoa.
Dados de uma pesquisa realizada pelo Pro Sexo – Programa de Atendimento Sexual do Hospital das Clínicas de São Paulo refletem esse cenário. Os números mostram que 78,8% das mulheres brasileiras relatam alguma insatisfação na vida sexual. Um número lastimoso! E mais: 26,2% das pessoas não atingem o orgasmo; 26,6% têm dificuldade de excitação e 17,8%, dispareunia (dor durante a relação). Parece que as pessoas preferem viver uma vida de descontentamento, ao invés de procurarem alternativas. Como um simples diálogo, não?
Felizmente, esse cenário começa, gradualmente, a mudar. O número de consultoras, especialistas e até sex shops cresce a cada ano, todos com o objetivo de auxiliar o brasileiro nessas questões. No entanto, o ato de entrar em um uma loja erótica e realizar uma compra, por exemplo, ainda é visto como sombrio ou imoral. Para quem observa de longe, especialmente de países onde essas questões são tratadas com mais naturalidade, fica claro que o consumidor não se deu conta da importância de conhecer o próprio corpo, de ser orientado, de trabalhar as limitações e perceber, por fim, que não há nada de errado, feio ou ruim nesse ato tão simples.
Um ponto interessante é que o perfil das pessoas que consomem brinquedos eróticos tem tudo a ver com personalidade. Em outros países, como na Alemanha, ninguém se sente influenciado a ponto de deixar de ir às lojas pelo senso dos outros em relação ao tema. O público é mais resolvido, e isso mostra como a cultura do lugar pode intervir em decisões desse tipo.
Ainda não estamos no mundo perfeito, onde esse tópico é tratado com naturalidade. O que notamos é que alguns países estão mais evoluídos que o Brasil, mas ainda não totalmente suscetíveis à proposta. Um supermercado na Suíça, chamado Coop, vende produtos eróticos na versão online. Em Bremen, os consumidores e clientes de sex shops dão feedbacks sobre as experiências com os produtos para as lojas e encaram os objetos como qualquer outro item de consumo diário. Um produto erótico dado como presente em datas comemorativas não é considerado invasão de privacidade ou ofensivo. Sex toys são vendidos em lojas convencionais, como mercados e farmácias.
Para que o mesmo processo se inicie no Brasil, o mercado de sex shops precisa passar por uma revolução. No entanto, tornar a compra e o uso de brinquedos eróticos algo corriqueiro, sem constrangimento e sem tabus ainda vai demandar uma transformação cultural profunda.
Um primeiro passo importante para isso são as mudanças tanto no estilo dos produtos como no estilo das lojas. Chega de ambientes escuros, com ares de ilicitude e brinquedos fálicos em cor de pele. O mercado erótico mundial evoluiu, e é hora de o Brasil acompanhar essa evolução.
Em nossa experiência nesse setor, percebemos que essas modificações ocorrem natural e gradualmente quando entramos no país, pois o mercado local geralmente passa a acompanhar a tendência.
Com o tempo, as lojas passam a ser mais convidativas, coloridas e cheias de vida!
Há uma expectativa de mudança por parte do consumidor. É como se muitos estivessem esperando pela oportunidade de ir até a farmácia e chegar em casa com remédios, produtos de beleza, higiene e bolinhas de pompoarismo ou um vibrador clitoriano. É algo totalmente novo, mas que já está em movimento.
*Por Clarisse Och, gerente de vendas da Fun Factory
Um mercado em revolução e evolução
Executiva da Fun Factory analisa o que falta para o desenvolvimento do varejo erótico no País - um mercado que movimenta mais de R$ 2 bilhões no Brasil
- Redação
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