O líder orienta, incentiva, ajuda, inspira. O chefe manda, ameaça, busca culpados, cobra. O líder conquista autoridade. O chefe exerce o poder.
A internet está repleta de conteúdo apontando as diferenças entre essas duas figuras que não raramente, no dia a dia de trabalho de muita gente, se confundem. Uma imagem comum é do líder ajudando a equipe a executar uma ação versus o chefe com um chicote na mão açoitando seus funcionários.
Apesar de algum exagero nas comparações, o fato que é que liderar realmente não é simplesmente dar ordens e impor a própria vontade. Muita gente acredita que líderes são aquelas pessoas que já nasceram com a habilidade para conduzir outras e que quem não a possui está destinado a servir ou – no máximo – se tornar um chefe.
Mas qual o critério para identificar se o indivíduo é um líder?
Segundo Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, pós-doutor e PhD em neurociências, mestre em psicologia e chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, a liderança é um processo ligado à capacidade cognitiva e emocional da pessoa.
“O seu modo de agir e sua presença, pois um líder demonstra isso tudo através de seu modo de raciocinar, da sua postura corporal e da gestão de suas emoções”, diz o neurocientista. E quais são as características básicas de um bom líder? Para Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, as principais são: inteligência, capacidade de tomada de decisão, resiliência, controle emocional, poder de comunicação e presença.
No recém-lançado livro “Novas Tecnologias e as Competências Técnico-Científicos Nas Ciências Biológicas”, do qual é um dos autores, o neurocientista traz um estudo em que afirma que a neurociência pode ajudar no processo de transformação de uma pessoa com natureza servidora em líder. “A neurociência fornece diversos procedimentos e técnicas para que o indivíduo que deseja ser líder possa evoluir em habilidades relacionadas”, afirma.
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A liderança no genes pode ser despertada
Existem questões de ordem mental e corporal que influenciam na personalidade e comportamento de um líder, de acordo com a neuroleadership, a área da neurociência que estuda a capacidade de liderar, segundo Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues.
Seu estudo afirma que características genéticas podem afetar o desempenho da liderança e que características como o pensar de maneira mais assertiva, ter maior foco atencional e ser menos afetado por emoções, estão relacionadas com os genes (segmentos de DNA responsáveis pelas características herdadas geneticamente).
Os genes são uma parte importante no modo como uma pessoa age, pois podem ser precursores para a personalidade e, por outro lado, também causarem transtornos, impactando no modo como o indivíduo interage com os outros. Isso não significa, porém, que alguém que nasceu com determinada predisposição genética para certo comportamento não possa mudar ao longo da vida.
A chave para essa mudança está em um processo biológico chamado epigênese, que pode ser estimulado para promover mudanças na forma como a pessoa se comporta.
De forma simples, a epigênese é a capacidade de um gene mudar por efeito de influências ambientais. Essas mudanças podem ser positivas ou negativas, por isso o meio no qual a pessoa vive e os estímulos que recebem são tão importantes. “Os genes são ligados ou desligados conforme a interação do indivíduo com o ambiente”, afirma Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues.
Ou seja, de acordo com o estudo, mesmo quem nasceu sem uma predisposição genética para liderar pode se tornar um líder se for estimulado para isso. O componente genético já existe, mas está desativado, a tarefa é “acordá-lo”.
Como se transformar em um líder
A capacidade de liderar (assim como a de realizar outras funções) vem de uma mescla entre habilidades desenvolvidas e hereditárias. Como explica o estudo de Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, alguns pontos não podem ser modificados, porém, é possível realizar um treinamento mental para interferir no padrão cerebral e fisiológico.
“A simples alteração de uma postura comum para a postura de poder, realiza uma transformação a nível de crenças, trazendo um comportamento mais assertivo e melhores habilidades sociais, impactando na produtividade em termos de liderança”, diz. “Ainda assim, liderança pode ser treinada e cultivada. Existem ferramentas para mapear genes, áreas de ativação e autotestes. E através deles, traçar novos horizontes em termos de desenvolvimento de liderança”, explica o neurocientista.
Na prática, quem quer se tornar um líder deve procurar melhorar seu raciocínio crítico, poder de comunicação e linguagem corporal. Jogos de lógica, jogos no geral, palavras-cruzadas, leitura, tudo isso pode estimular o córtex pré-frontal, responsável pela inteligência, o raciocínio lógico e os comportamentos. São práticas que ajudam uma pessoa a desenvolver a visão de liderança, de acordo com Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues.
Outro exemplo, é a introdução da pessoa a práticas terapêuticas comprovadas, como a psicanálise, visando trabalhar emoções. “Também testes de QI e personalidade auxiliam no diagnóstico e na estratégia de melhoria e evolução”, diz o neurocientista.
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