Cannes – França – Mark Ronson é um superstar, DJ e produtor. Músico precoce, tocava guitarra e bateria. Quando se mudou para Nova York descobriu e envolveu-se coma cultura DJ e tornou-se ele mesmo um astro dos racks. Seu trabalho reúne influências do folk e do soul e também artistas como Boy George, Christina Aguilera, Macy Gray. Ronson também produziu os álbuns vitoriosos de Amy Winehouse e Adele. Em 2015, Ronson lançou seu 4º álbum, Uptown Special, que tem a colaboração de Bruno Marz, Stevie Wonder, Kevin Parker e Mistical. Ronson participou de um painel no Entertainment do Cannes Lions, com o tema “Mark Ronson explora o processo criativo da produção musical”, em duo com Richard Frankel, Diretor de Criação da Indústria de Entretenimento do Spotify.
Richard Frankel iniciou o painel mostrando cenas históricas da gravação do clássico álbum Pet Sounds, dos Beach Boys. A ideia, na época, era usar o estúdio como um instrumento musical, como parte integrante das ideias dos músicos. E Beatles, com Sgt. Pepper e Stevie Wonder, com Secret Life of Plants (e Pink Floyd, com Dark Sides of the Moon e muitos outros artistas) fizeram isso. A ideia foi expor diversos insights de Pet Sounds, para mostrar a grande mudança na produção musical nas últimas décadas.
Uma das grandes influências atuais é o produtor Phil Spector e seu conceito de “parede sonora.” Phil “vestia” a música com camadas de uma maneira peculiar, o que o torna os trabalhos que produziu simplesmente inconfundíveis. Sua ideia era criar sons robustos, encorpados que faziam a música ganhar relevo, peso.
Ronson é admirador do trabalho de Spector, mas tem uma personalidade distinta. “Eu tenho meus ídolos como os Beatles e gente que força os limites e vão mais longe. Sempre me preocupo sobre como é possível levar uma mensagem no som. Quando eu comecei a fazer DJ, eu eliminei o velho repertório de 300 músicas e trabalhava logo com 12 mil. E usei computadores e gravadores para gerar novos sons.”
O DJ falou sobre sua experiência com diversos artistas, entre eles, a fulgurante (e precocemente falecida) Amy Winehouse: “eu perguntei a Amy que tipo de música gostaria de gravar e ela me veio com referências da black music e do soul dos anos 60. Referências clássicas. E então, de noite, eu tive a ideia de Back to Black. Uma influência toda dos dourados anos 60… E fomos de encontro ao que ela pretendia cantar.”
Entre suas referências estão o funk, Prince, Duran Duran, linhas de baixo muito expressivas e guitarras no estilo de Nile Rogers, do saudoso Chic. A seção rítmica com linhas de guitarra são partes muito evidentes do seu trabalho.
Richard Frankel pergunta a ele como é preparar a atmosfera de uma gravação. Ronson disse que é interessante, mas não é planejado: “vou dormir e sem nenhuma ideia de como vou desenvolver a música. Penso que o jeito que o pessoal faz música hoje, está muito baseada na busca dos artistas por criar hit, single de sucessos e não mais no conceito do “álbum”, com um ideia trabalhada.”
O hit? O sucesso? O que pode ser um hit? “Eu nunca busco fazer um hit. Eu não busco um raio de luz e digo “nossa, criei um hit”. Meu filtro é minha mulher. Penso que quando temos paixão pelas ideias, temos de nos sentir bem com a música, mas tudo depende mais de como as pessoas vão se sentir com essa música.”
O executivo do Spotify, que esteve presente nas gravações de Pet Sounds, há quase 50 anos, diz que há uma mudança profunda na maneira pela qual se consome música. A faixa isolada. Ronson comenta: “me aterroriza a ideia de pensar sempre em faixas isoladas e não em álbuns.” Mas empresas como o Spotify têm seu modelo de negócio justamente embasado na ideia da criação de playlists de músicas single, não necessariamente dentro do conceito de “álbum”.
O próprio Spotify abraçou a ideia de uma era de “cultura tecnológica.” Essa ideia é aplicável? Faz sentido? Ronson diz que sim: “fiz no meu álbum. Pensei nisso e então fiz uma música com o Bruno Marz.”
Dentro do estúdio, O produtor e músico diz que é meio terapeuta, professor de escola, que deve ter muito cuidado e é forçar os artistas a irem mais longe. “Não importa o que aconteça queremos ir mais longe.”
Os momentos finais da conversa giraram em torno de estímulos criativos. Frankel perguntou ao artista, se é necessário desconstruir a música pop em uma mensagem publicitária. Para o DJ, a música na propaganda deve ser simples, trabalhar com estímulos e ideias que podem ser usadas sempre. Ele também defende o uso de redes sociais na divulgação musical; “são incríveis como é possível ver musicas repercutindo tão rápido.”
Sobre o futuro, Ronson foi ácido: “a venda de música nos próximos dez anos? Eu não a tenho ideia. Acho que estaremos próximos de fazer música para casamentos.”
Richard Frankel mostrou a Top 10 List de Ronson no Spotify, ou seja suas músicas mais executadas. A primeira, era justamente a do novo álbum em parceria com Bruno Marz: “Hey, eu já estou escutando o Bruno Marz me dizendo, ‘você não é nada sem mim’.”
Entre os projetos futuros, Mark Ronson divulgou que está produzindo Lady Gaga.
Frankel então pediu um conselho para os criativos sobre como a música pode ajudar a criar propaganda. Ronson simplesmente declinou: “eu não tenho o que dizer a eles, sabem mais do que eu sobre isso”.
*Jacques Meir é Diretor de Conhecimento e Plataformas de Conteúdo do Grupo Padrão.