Mês passado ministrei o curso “Comportamento do Consumidor Digital” no MBA da Escola Superior de Empreendedorismo do Sebrae e dediquei uma aula para discutir sobre as grandes revoluções industriais que a sociedade viveu, até chegar aonde estamos hoje. Acabamos deixando nossa imaginação viajar sobre o que – e como – seria habitar o mundo da sociedade 5.0.
É impressionante ver como o círculo está todo conectado – comunidade, cidadãos, governo, instituições médicas, educacionais, investidores, fundações, organizações, startups, e empresas de todos os tamanhos interagindo através de nuvens, 5G, IA, IoT, BigData, smartphones, Blockchain, impressoras 3D, sensores, drones e robôs. Toda esta integração está no agro, na educação, na tecnologia, nos esportes, no varejo, na moda, na comunicação, na saúde, nos alimentos… literalmente em tudo.
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É interessante perceber o fascínio nos olhos dos alunos, dos consumidores, do indivíduo, como se fosse uma criança vendo pela primeira vez o Magic Kingdom, algo que mistura realidade com desejo: o futuro.
Se mais do que falando, já estão, de certa forma, vivendo esta revolução no Japão, fica a pergunta: em que sociedade vivemos aqui no Brasil? Quando chegaremos à sociedade 5.0? O quanto o Brasil está preparado para a indústria 4.0? E a sociedade? Antes mesmo de enumerar os graus de evolução ou de conectividade em que estamos, existem sinais que respondem a pelo menos a algumas destas questões.
Experiência que transforma percepções
Quando estive no Japão pela primeira vez em 2014 fiquei surpresa incialmente pela limpeza das ruas. Desde sempre fui educada a descartar lixo em locais apropriados – cada vez parece mais fácil – ainda mais com lixeiras coloridas e identificadas pelo tipo de resíduo que recebem. Isso deve incentivar pessoas que não têm este hábito nem dentro e nem fora de casa a incorporá-lo às suas rotinas.
Para minha surpresa, não lembro exatamente a situação, mas acabei com um pedaço de papel ou plástico nas mãos e percebi a falta de lixeiras pelas ruas para descartarmos nosso lixo.
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Tive dificuldade de encontrar pessoas que falassem inglês durante toda a viagem, mas surpreendentemente acabei encontrando muitas pessoas que falavam português. E assim descobri que não existem lixeiras pelas ruas do Japão. A resposta que recebi foi a seguinte: coloque seu lixo em sua bolsa e descarte em sua casa!
Este comportamento diz muito sobre o povo japonês e sua cultura. Acredito que a maioria de vocês lembra da atitude dos turistas japoneses nos estádios, tanto durante as Olimpíadas do Rio em 2016, como no ano passado na Copa do Mundo do Catar. Assim que terminaram os jogos, eles recolheram TODA a sujeira deixada nos estádios – por eles e pelos outros torcedores. Lição de educação, simpatia e cultura.
A limpeza, o bem-estar e a sustentabilidade já estão no DNA dos japoneses, não interessa onde estejam, são valores que carregam e praticam. Este exemplo foi um pequeno recorte do que vi na terra do sol nascente. Crianças bem pequenas vão de trem para a escola sozinhas, fazendo baldeações sem serem importunadas, simplesmente vão à escola. É um exercício de desenvolvimento de autonomia e de segurança. Talvez seja um exemplo da vida como deveria ser.
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A tecnologia também é reflexo da sociedade
Parece mais fácil de todo este ecossistema de sustentabilidade, cidades inteligentes e conectadas estar presente em comunidades, onde o respeito pelo meio ambiente, idosos, e qualidade de vida tem importância.
A Sociedade 5.0 tem como foco colocar o ser humano e o bem-estar das pessoas no centro, e direcionar as tecnologias para entregar melhorias na qualidade de vida.
É a sequência natural depois da Sociedade da Informação 4.0. O desafio é sair do mecânico, da tecnologia dura de IOT, IA, nuvem, deixar de priorizar a melhora de processos nas empresas para diminuir o impacto da digitalização no mundo moderno, e focar no ser humano.
Daí volto para o Brasil e me pergunto o quanto da semente do ESG já existe nas pessoas.
Quanto será que estão disseminadas dentro de casa práticas que economizam energia, a substituição de fontes de energia por energia limpa, a utilização de aparelhos eletrônicos de forma mais inteligente, a preocupação com a compra de eletrodomésticos que entregam eficiência energética, a busca por tecidos mais naturais, a atenção em saber a origem do que comem, de onde os alimentos vem, como os animais são tratados, alimentados… e por aí afora. É mais do que um movimento.
Antes de comparar, temos que ter em mente os tamanhos, as histórias e a cultura do Brasil e do Japão, além da enorme disparidade entre as classes sociais que convivem por aqui e lá. Agora sim, podemos mergulhar nesta grande seara que é o Brasil. Para isso, é preciso começar com uma autoavaliação, da própria casa, para entender todo o impacto da sustentabilidade, do ESG em você, na sua comunidade e no Brasil.
Então eu pergunto: qual a sua atuação para a disseminação e a propagação de melhores práticas de sustentabilidade que podem contribuir para alçar o Brasil entre países engajados na causa? E falo de atuação pensando em atitudes já introjetadas e que nem pensamos sobre: você separa os lixos em sua casa? Consome produtos orgânicos? Se preocupa com o consumo e evita o desperdício de energia em sua casa? Compra eletrodomésticos com eficiência energética? Sabe o quanto esta eficiência pode economizar em sua conta e o quanto ajuda a salvar o planeta?
As mudanças começam pequenas, dentro de você mesmo, na sua casa, na sua rua, na sua cidade. Assim que se constroem as grandes mudanças. Temos responsabilidade por estas mudanças, em sermos os agentes desta transformação. Será que já estamos preparados?
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