O smartphone é o grande companheiro dos cidadãos do mundo contemporâneo. Munidos do aparelhinho, nunca mais estamos sozinhos. Alguns dizem até que o dispositivo é o novo cigarro, usado por muitos na hora da espera ou da ansiedade.
Mas esse novo “melhor amigo”, apesar de inegavelmente útil, pode prejudicar a nossa saúde. Sabe aquela dorzinha de cabeça incessante, um incômodo no couro cabeludo, que anda mais sensível do que o normal, ou aquela sensação de dor atrás do olho? Isso tudo pode ter um culpado em comum: o celular.
Especialistas dizem que são cada vez mais comuns os casos de “text neck” – “pescoço de texto” em tradução livre -, dores na cabeça ligadas a tensões na nuca e no pescoço causadas pelo tempo inclinado em uma posição indevida para visualizar a tela do celular.
Segundo a fisioterapeuta Priya Dasoju, a “pescoço de texto” também pode levar a dores no braço e no ombro.
“O que estamos vendo são cefaleias cervicogênicas”, afirmou. Ela diz que o problema vem de tanto inclinar a cabeça para frente da tela do celular, e isso cria uma pressão intensa nas partes frontais e traseiras do pescoço.
Esse problema pode se agravar e, em alguns casos, pode levar a uma condição conhecida como nevralgia occipital. É uma condição neurológica em que os nervos occipitais ? que vão do topo da medula espinhal até o couro cabeludo ? ficam inflamados ou lesionados. Ela pode ser confundida com dores de cabeça ou enxaqueca.
A dor pode ser intensa, como se o pescoço estivesse “queimando”, e começa na base da cabeça, se estendendo por toda a parte superior, no couro cabeludo. Geralmente, as dores começam na parte de trás da cabeça, no nervo occipital, mas às vezes elas ficam localizadas mais na parte da frente, acima dos olhos.
‘Raios de dores’
Adam Clark Estes começou a sentir dores de cabeça alguns meses atrás. Segundo ele, a dor é intensa. “É como se fosse a dor de uma ressaca forte. Você sente a cabeça latejando.”
“Como se alguém tivesse me golpeado na cabeça com um cano de aço quente enviando raios de dores lancinantes no crânio”, conta.
Você pode sentir a dor em um dos lados da cabeça ou nos dois, e até atrás dos olhos quando movimenta o pescoço. O conselho para curar o problema é mudar de postura na hora de mexer no celular ? e evitar o uso excessivo dele.
“Quem sofre disso deveria pensar em adotar posturas diferentes quando estiver usando o celular. Sentar na vertical, por exemplo, e levantar o celular ou usar um suporte para ele ficar em uma altura mais adequada”, explica a osteopata Lola Phillips.
“É preciso ter mais disciplina com o uso do telefone também”, reitera.
O tratamento inclui correção de postura, massagem e remédios anti-inflamatórios, mas em alguns casos é preciso tomar medidas mais drásticas.
Adam Clark Estes teve que injetar um coquetel de esteroides e outros relaxantes nos nervos ao redor do seu pescoço. “Dói bastante. Acho que o médico me deu quase 20 injeções separadas e depois delas eu fiquei tão mole que achei que iria desmaiar.”
“Depois de me recuperar, o médico me disse que me sentiria melhor em um dia ? e melhorou mesmo”, conta.
Médicos também podem receitar relaxantes musculares, antidepressivos. Mas, como em quase todos os casos, especialistas dizem que a prevenção é a melhor opção. Diminuir o uso de smartphones ou então posicioná-los mais próximo da altura dos olhos são boas estratégias para evitar o problema.
“Tente não manter a mesma postura por muito tempo”, disse a fisioterapeuta Priya Dasoju. “Coloque um lembrete no celular ou no computador para se certificar de que você não está na mesma posição por muitos minutos consecutivos.” Os médicos garantem que as condições causadas por uso excessivo de smartphones são apenas dolorosas, não fatais. Mas talvez não valha a pena pagar para ver.
* Com informações da BBC.