Uma das maiores resistências dos usuários de internet e potenciais doadores de campanhas de financiamento coletivo (crowdfunding) no Brasil, está ligada aos riscos de que o projeto anunciado não atenda as expectativas ou não “decole”. E esse risco é real e deve sempre ser objeto de reflexão dos financiadores, independente do segmento em que o projeto esteja.
Segundo Vinicius Maximiliano Carneiro, advogado e escritor, com MBA em Direito Empresarial pela FGV e especialista em Direito Eletrônico pela PUC/MG, é muito comum, logo após ter uma campanha bem sucedida, que os idealizadores do projeto se empolguem demais e acabem gastando mal, muito ou errado a quantia que lhes foi confiada, gerando frustração e desconfiança nas dezenas de doadores online.
Pensando nisso o especialista escreveu o livro “Dinheiro da Multidão: oportunidades x burocracias no crowdfunding nacional”. “Venho sempre alertando sobre a necessidade de se oferecer mais segurança ao mercado de financiadores, para com isso, alavancar a adesão aos sites de financiamento coletivo que despontam Brasil afora. Sem essa recíproca, o crescimento do mercado se torna lento e muitas vezes ancorado em desconfiança”.
Entretanto, Carneiro gosta de frisar que esse aspecto não é apenas negativo. “Isso indica que os serviços e empregos indiretos gerados pelos projetos de crowdfunding tem um impacto social muito maior do que apenas fazer o projeto acontecer em seu âmbito econômico. Trata-se de uma nova forma de atingir um mercado consumidor, tornar seu produto ou serviço conhecido, além de, claro, conseguir tirar sua boa ideia do papel”, analisa.
E essa tendência, segundo o especialista, está sendo adotada mundo afora, inclusive com a criação de “selos de qualidade” em projetos, que tem como finalidade principal certificar ao financiador que aquele projeto atende critérios mínimos de viabilidade, de sucesso e de que os produtos ou serviços sejam entregues e que os prejuízos sejam minimizados.
Exemplo americano
Carneiro cita como exemplo o Indiegogo, um dos maiores sites de crowdfunding dos Estados Unidos. “Por enquanto, o selo será apenas para projetos ligados a área de hardware, para garantir que as iniciativas dessa natureza consigam chegar até o final. Isso agrega duas fortes ideias de negócios que merecem nossa atenção: a segurança do financiador (usuário) e a consolidação da marca da plataforma e do parceiro de certificação”, comenta.
Na análise de Carneiro, algo singelo num primeiro momento, torna-se muito poderoso sob o ponto de vista da consolidação do mercado de financiamento coletivo. “Especialmente se adotado em mercados mais desconfiados como o Brasil”, acrescenta.
Criando “pontes de segurança”
O especialista informa que o índice de rejeição a efetuar doações pela rede chega a mais de 60% entre os brasileiros e aqueles que poderiam potencialmente financiar projetos. O medo de perder o dinheiro doado é o maior deles, perto de 78%.
“Agora, imaginem um cenário em que equipes multidisciplinares analisariam os projetos previamente, elencando gargalos, dificuldades, riscos, analises futuras e planejamento estratégico? Imaginem quantos empregos em consultoria seriam gerados?”, avalia Carneiro.
Na visão do especialista, trazer para a rotina das plataformas de financiamento marcas de peso e que se comprometem a certificar previamente projetos realmente viáveis, “cria as pontes de segurança e de alavancagem do mercado que muitas das novas ideias precisam, ainda mais em seu estágio inicial”.
“É quase uma ‘mentoria de viabilidade’”, explica. Para o criador do projeto, se ele souber aproveitar, gerará um marketing de impacto sem precedentes, ainda mais para produtos e serviços desconhecidos”, completa Carneiro.
Para Carneito, haveria também uma nova janela de oportunidades para o mercado de trabalho, incluindo a vertente de auditores e certificadores de pré-lançamento de projetos. “Por mais que as plataformas neguem ter responsabilidade sobre o resultado das campanhas anunciadas, mostrar que existe a preocupação em proteger o usuário soa muito bem aos ouvidos de quem gostaria de iniciar seus pequenos financiamentos com o uso dessa ferramenta”, conclui.