Criar negócios de impacto, encontrar um propósito, inovar, inovar, inovar. O mundo e os negócios hoje giram em torno desses conceitos. Tanto que podem estar se desviando justamente deles. Esse foi um dos insights de painel realizado o Whow! Festival de Inovação, evento que acontece nesta semana em São Paulo. Nesta conversa que questionou a busca incessante pela inovação Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora; Guilherme Valadares, fundador do Papo de Homem; Roberto Kanter, CEO e fundador da Tempu; e Guilherme Esquivel, diretor da Mastercard Brasil, falaram sobre como criar inovações e propósitos reais e se esquivar do que chamaram de “histeria coletiva”.
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“Passamos por um momento de transformação”, disse Ana. “E hoje nos questionamos como vamos passar por esse momento. A gente vive em uma bolha e às vezes a gente quer ouvir opiniões apenas para confirmar nossas teorias e não conseguimos evoluir nesse ponto”, disse. A questão é: como é possível inovar se as pessoas olham apenas para aquilo que lhes parece familiar? Um bom exemplo é o seu feed das redes sociais. Apenas aquilo que você mais acessa ou as coisas, fatos e fotos das pessoas com as quais você mais se relaciona é que aparecem em sua pequena tela. E, pode apostar, como humanos tendemos a nos relacionar com os “iguais”, dificilmente com o diferente.
Valadares, do Papo de Homem, tangibilizou essa visão em pesquisa. A plataforma ouviu mais de 9 mil pessoas para entender como elas se sentem quando assuntos como questões de gênero são colocados em pauta: cansaço, irritação e falta de empatia foram os mais citados. Um ponto aqui chamou a atenção: a falta de empatia, para 49% dos entrevistados, é do outro. Apenas 10% das pessoas afirmaram que a falta de empatia parte de si mesmo.
“Quando perguntamos quando você procura alguém que pensa diferente de você, 70% disseram que nunca fizeram ou fizeram apenas uma vez. Estamos enfrentando em alguma medida problemas de linguagem. Você quer sempre provar um ponto”, disse. “Como a gente vai ter alguma chance de fazer inovação?”, afirmou.
E o que as marcas têm a ver com isso
Nem sempre o caminho é o da inovação. Como afirma Valadares, do Papo de Homem, é melhor se voltar para o básico. “Precisamos valorizar mais os esforços de manutenção e sustentação. O que o Papo de Homem faz não tem inovações grandes, a gente articula com os homens o que faz sentido para eles. E às vezes eu vejo tanta obsessão em inovar e criar o seu projeto…acho que ainda tem muito autocentramento e reatividade nisso tudo”, disse.
“Ser inovador virou um mantra. Todo mundo está falando sobre propósito, mas embaixo do traço, se o propósito não pagar os boletos do mês fica difícil. É possível trabalhar com propósito, mas vivendo em um mundo em que as coisas precisam ser pagas?”, questionou Ana.
“As empresas têm um papel social, quem conseguir criar isso ganha a preferência do consumidor”, disse Kanter. “Qualquer empresa que busca perenidade busca isso”, completou Esquivel. “Acredito em um mundo que está cada vez mais inclusivo com conceito mais comunitário e que advogam em prol de algo. Tem de ser ‘ganha-ganha’. O zero a zero funciona quando a gente pensa que para um ganhar o outro tem de perder. O mundo não é mais assim. Eu quero aumentar o tamanho da tora e não dividi-la ainda mais”, afirmou o executivo da Mastercard.
“A gente vive hoje um pouco de histeria em torno de propósito. Eu pessoalmente acho isso um delírio coletivo. Propósito é ajudar os outros. O que posso oferecer? Isso é propósito. Para quê se perder nesses delírios”, disse Valadares. “Acredito que tem pessoas dentro das marcas que têm crenças reais. A marca para mim é fictícia”, considerou.
Para Kanter, o fato é que existem muitas marcas que conseguem traduzir os sentimentos dos consumidores em relação a propósito. “Existe um papel social das empresas e se elas forem reconhecidas como autênticas, tanto melhor.
“Estamos passando por uma transição e vejo uma sociedade que está saindo de um viés egocêntrico para enxergar elementos mais altruístas”, afirmou Esquivel. “A interpretação de quem eu sou não é dado por mim, mas por quem está ao meu redor. O propósito está em como você ajuda a criar um mundo melhor”, considerou.
De acordo com Ana, as empresas e pessoas que se preocupam em inovar precisam pensar em como criar coisas que resolvam problemas reais. “Criar aplicativo para diminuir fila de balada não resolve a vida de ninguém”, considerou Ana. “As maiores inovações estão nos problemas reais das pessoas. Temos uma chance grande de fazer coisas diferentes”, disse.
“É resolver problemas reais e não achar que você tem de ter a maior empresa do mundo e acabar em uma capa de revista. É incrível ter um pequeno negócio sustentável. É super interessante estruturar algo que faça sentido para você e para quem você é. É muito legal construir coisas em um tamanho possível e vejo poucas narrativas em torno disso, só vejo narrativas dos grandes negócios de sucesso e isso gera ansiedade. Muitas vezes, a gente está tão preocupado em inovar que não olhamos para o outro”, enfatizou Valadares.
O jeito é evitar o efeito manada em torno do tema e criar mecanismos que os exclua dessa histeria coletiva. Olhar para o outro, ouvir o diferente e praticar a empatia real podem ser um bom começo.
A primeira edição do Whow! Festival de Inovação, organizado pelo Grupo Padrão, que publica Consumidor Moderno, acontece em mais de 70 lugares de São Paulo. Acompanhe a cobertura aqui e nas redes sociais com a #WhowFestival!