Personagens como Rigonatti e Werneck podem ser difíceis de ser identificados nos moldes demográficos pelas empresas, mas isso não significa que não tenham nenhum vínculo com sua geração. Se antes éramos pautados por rituais de passagem – como nascimento, vida adulta, trabalho, casamento e aposentadoria – hoje essas delimitações desapareceram, ou se tornaram, no mínimo, muito mais diluídas. O doutor em Antropologia do Consumo Michel Alcoforado concorda que haja um fim das idades na sociedade contemporânea, contudo, discorda que haja um fim nas gerações.
Pessoas de gerações diferentes, ele comenta, podem consumir e usar produtos que são mais propensos aos mais jovens ou mais velhos – uma liberdade que temos hoje, mas não tínhamos no passado – mas, de certa forma, ainda há gostos distintos pautados por gerações distintas. “A diferença é que agora você não precisa mais obedecer ao ciclo geracional para poder consumir determinado produto. Mas a gente vê, sim, drives diferentes a partir de gerações distintas. A grande inovação, pelo meu ponto de vista, é a cobrança às empresas para que aumentem o portfólio de produtos, conseguindo atender diferentes mindsets.”
Para o antropólogo, as gerações maduras, hoje, exigem muito mais conexão com o mundo novo do que exigiam há uma década – mas a forma como se relacionam com o novo é diferente daquela dos que nasceram com o pé na tecnologia. Seria mais ou menos como aprender uma nova língua: quanto mais tardio é o aprendizado, mais gargalos e sotaques existirão. “Alguém de 90 anos que comece a usar biquíni (ou o Instagram) não usará do mesmo jeito que alguém de 15 anos. É óbvio que as oportunidades de consumo não estão atreladas ao seu estágio de vida, com sua data de nascimento, mas a forma como você consome é condicionada pelo olhar do mundo em que você nasceu. Todo mundo pode fazer o que quer, mas não faz do jeito que quer, porque a cultura determina esse jogo”, diz.
“As empresas vão ter de levar em consideração que vamos viver cada vez mais e nos aposentar cada vez mais tarde, o que impacta muito a cultura interna. Os RHs têm de estar preparados para os processos de envelhecimento dos colaboradores; têm de entender que é preciso ajudá-los e acompanhar o seu tempo”, complementa.
É preciso garantir um portfólio muito amplo em oferta de produtos, que atenda a diferentes gerações e perfis, para que o público se sinta contemplado. É o que conta Maria Paula Fonseca, diretora global da marca de cosméticos Natura, que sofreu mudanças recentes nas suas propagandas de maquiagem. A executiva explica que, anteriormente, as marcas precisavam ser representadas por jovens para se manterem atuais. Hoje, não é mais assim: uma marca contemporânea, que conversa com espírito do tempo, é diversa, dialoga e inclui todo mundo.
“Antes, não usávamos mulheres mais velhas para representar uma pessoa usando a maquiagem. Hoje, a gente usa. No movimento que chama #MeuVermelho, há uma mulher de mais de 60 anos que mostra a sua pele, com marcas e tudo mais, passando um batom vermelho. A gente precisa garantir essa representatividade para gerar identificação em todas as faixas etárias. Não só quando se fala em cremes para rugas ou para pele, mas maquiagens, perfumes… De maneira geral, as pessoas precisam se sentir representadas”, acrescenta.
Fonseca confirma na prática empresarial que, de fato, o consumidor exige cada vez menos rótulos. E as gerações jovens, ela explica, têm uma grande função no lançamento e no teste de tendências. “É mais fácil introduzir novos hábitos de consumo pelos mais jovens, porque eles experimentam mais. Uma vez que hoje tudo está mudando muito, a geração mais jovem acaba sendo um espelho para todo o mundo, para quem vem antes e para quem está depois. O jovem acaba tendo uma abertura para a experimentação, então é importante estarmos conectados com o consumidor jovem, mas de jeito nenhum apenas com ele. Há, também, várias necessidades de uma geração mais velha que tem acesso, tem renda, especificidade de pele, de cabelo”, exemplifica.