Democratização digital: quem escreve a história?
- Por Melissa Lulio
Por mais que o digital pareça fazer parte do cotidiano de absolutamente todas as pessoas, a plena conectividade não é real para a maioria delas. O estudo O Abismo Digital no Brasil, desenvolvido pela PwC e pelo Instituto Locomotiva, comprova esse dado: hoje, 20% da população (ou 33,9 milhões de brasileiros) não tem acesso à internet em nenhum momento do mês.
Quem traz esse dado é o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, que há décadas estuda o comportamento do brasileiro e as diferentes tendências sociais. Fundador do Data Favela, em 2012 ele participou da comissão que estudou a nova Classe Média Brasileira, na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE). Nos dias de hoje, traz à consciência pontos cruciais da realidade brasileira, como o analfabetismo digital.
“O digital é uma ferramenta que pode seguir dois caminhos: ou estar a serviço da democratização das oportunidades ou a serviço de aumentar os abismos que, infelizmente, existem no Brasil”, destaca. “Hoje, 45% dos adultos brasileiros ou não acessam a internet ou são subconectados – ou seja, passam pelo menos um terço do ano sem acesso à internet.”
Nesse sentido, ele menciona que o 5G, por exemplo, poderia ampliar a democratização da digitalização se a população de menor renda tivesse o letramento digital para tal; se houvesse antenas de 5G no local onde essa população mora; e se houvesse banda de internet suficiente para conseguir adequar o conteúdo recebido ou até o device adequado para captar o 5G. “A tecnologia, por si só, pode segregar ou unir”, reforça.
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Consumo é consciência
Meirelles pontua, porém, que nos últimos anos o consumidor tomou consciência do próprio poder. “Ele se apoderou do seu valor, de sua força e de sua influência”, diz. “O consumidor sabe que o poder está com ele e não mais nas marcas: quem tem que correr atrás dos clientes são as marcas e não o contrário.”
Para o presidente do Instituto Locomotiva, tal amadurecimento tem relação também com a estabilidade econômica e a consequente ampliação do acesso ao consumo. “Muitas pessoas talvez não lembrem o que era viver em um País com hiperinflação, mas, nessa época, não havia liberdade de escolha, pois não era possível fazer pesquisas de preço ou ir de uma loja a outra em busca da marca A ou da marca B. A remarcação de preços constante impedia que o consumidor pensasse em longo prazo”, afirma. “De lá para cá, isso mudou, e o cidadão começa até mesmo a perceber que o serviço público não é um favor, mas uma contrapartida do imposto pago.”
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