Você já assistiu o filme “Tron: O Legado?” Lançado em 2010, a trama acompanha a história de Sam Flynn, um jovem de 27 anos que entra em uma realidade virtual com o objetivo de procurar por seu desaparecido pai. Lá, ele interage com um mundo novo, criado artificialmente e onde as possibilidades são infinitas. Parece algo extremamente fantasioso, não? Mas saiba que esse tipo de tecnologia já existe – e pode ter um papel importante no futuro dos negócios.
Claro, hoje em dia somos incapazes de criar interfaces virtuais da magnitude e complexidade retratadas na ficção. Mas isso não significa que a tecnologia atual seja incapaz de proporcionar experiências inovadoras, imersivas e marcantes. Mas para entender todo o potencial dessa discussão, precisamos entender um novo conceito e que promete se tornar uma grande tendência no futuro: as X-Realities.
O que são as X-Realities?
Segundo Marcos Supioni, professor da HSM University e consultor de novos negócios e tecnologia, o termo X-Reality engloba o uso de quatro tecnologias:
- Realidade aumentada: nela, a tecnologia é utilizada para adicionar elementos digitais em um ambiente real. Um exemplo prático disso são os filtros presentes em redes sociais como Instagram e Snapchat. Neles, o celular captura uma imagem real e adiciona a ela elementos virtuais.
- Realidade virtual: na realidade virtual, todo um novo ambiente é criado. O usuário, por sua vez, é apenas inserido nesse mundo e pode interagir com suas soluções. Os óculos VR, que estão ganhando cada vez mais espaço na indústria dos games, são um exemplo dessa imersão.
- Realidade mista: essa é a junção entre a realidade aumentada e virtual. Lembra daqueles “computadores flutuantes”, que aparecem em filmes como Homem de Ferro e Minority Report? Esses são bons exemplos de soluções de realidade mista. A realidade mista pega elementos virtuais, os insere no mundo real de forma que podemos interagir com eles.
- Computação em nuvem: em uma simplificação, a computação em nuvem é a tecnologia que nos permite armazenar e processar dados por meio da internet – dispensando a necessidade de que você tenha um banco de dados na sua casa, por exemplo. Serviços populares atualmente, como os streamings, fazem uso da computação em nuvem para transmitir seus dados. Nas X-Realities, ela entra como a infraestrutura necessária para que essas tecnologias possam operar.
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As X-Realities no mercado
Falar sobre a aplicação dessas tecnologias de forma comercial pode parecer algo um tanto quanto ideal. Entretanto, elas já estão presentes no mercado. Grandes empresas já estão empregando essas soluções em seus modelos de negócios.
Um exemplo é a multinacional de alimentação Kellogg ‘s. Ao realizar pesquisas tradicionais – que consistiram basicamente em entrevistas online e presenciais com seus clientes -, eles descobriram que os consumidores esperavam encontrar novos produtos em uma posição mais alta das prateleiras dos supermercados. Mas apenas aquela informação não era o suficiente. Era preciso ir além, descobrindo a localização perfeita que conseguisse chamar o máximo de atenção para a marca. Mas como conseguir isso com precisão?
Foi aí que eles se uniram com empresas de tecnologia para criar uma realidade virtual que simulava um supermercado. Esse hardware então era colocado em lugares estratégicos, onde o público poderia utilizá-lo livremente para explorar aquela tecnologia.
Imagine o seguinte cenário: você coloca um óculos imersivo e se vê dentro de um mercado. A proposta é simples, você deve caminhar pelos corredores a procura de produtos do seu interesse. Você já deve estar imaginando para onde isso está indo. Enquanto os consumidores interagiam com o ambiente virtual era aplicada uma técnica chamada “rastreamento ocular”, onde uma inteligência artificial identificava quais eram os pontos que mais chamavam a atenção dos clientes.
Mas os avanços não param por aí. Segundo o levantamento X-Reality Brasil 2020, conduzido pela consultoria Everis em parceria com a Digital Lab Brasil, empresas como Microsoft, Niantic, Google, Magic Leap, NReal e Apple estão avançadas nesta corrida, liderando a pesquisa e o lançamento de produtos, plataformas e estruturas que aceleram a escala das soluções finais baseadas neste conceito.
Essas empresas fazem parte de todo um ecossistema que se dedica ao estudo e criação desses tipos de solução. E os números já impressionam. A Everis estima que, quando falamos de realidade virtual, 37 tecnologias já estão em processo de desenvolvimento; existem 43 soluções de realidade aumentada, 19 de realidade mista e 18 tecnologias de computação em nuvem.
Qual é o estado de maturação dessas tecnologias?
Apesar de promissoras, pode ser difícil manejar tais tecnologias. Isso reflete na posição do Brasil nesse setor. São poucos os empreendimentos brasileiros que já se aventuraram nas X-Realities. Dentre eles, podemos citar a startup TF Mind. A empresa criou uma solução que faz uso da realidade virtual para auxiliar no tratamento de fobias e outros transtornos psicológicos.
Dentre os motivos para a dificuldade em alavancar as X-Realities no país está o custo. De acordo com Marcos Supioni, o processo de P&D desse tipo de tecnologia ainda pode ser considerado caro. Mas isso pode estar para mudar. Com a chegada de soluções como o 5G, a tendência é que o desenvolvimento de soluções se barateie. A vanguarda das grandes empresas também é outro fator que pode ajudar na acessibilidade. “O interesse dessas empresas criou todo um ecossistema de inovação à sua volta. Esse é mais um fator que contribui para o barateamento da tecnologia.”
Esse fator, aliado à maior aceitação social dessas soluções, cria um ambiente perfeito para o início de uma nova corrida tecnológica, diz o especialista. A expectativa é que no futuro, empresas comecem a explorar as possibilidades que as X-Realities trazem para seus modelos de negócios.
Imagine criar uma solução que possa dar a experiência de uma loja física no conforto da casa do seu cliente? Ou um “provador de roupas virtual”, onde os consumidores podem experimentar as peças em um ambiente completamente virtual.
Não é só no relacionamento com o consumidor que esse tipo de soluções pode ser aplicada. Treinamentos, por exemplo, podem ser barateados e se tornarem ainda mais eficientes quando a tecnologia é aplicada.
Mas, para que tudo isso seja possível, é preciso colocar as mãos na massa. Empresas que desejarem explorar as X-Realities precisam começar agora a criar uma cultura corporativa propícia, adequar seus modelos de negócios e se aproximar de parceiros estratégicos. Com tudo isso em mãos, os executivos enfrentarão a prazerosa jornada de tornar a ficção em realidade.
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