A Regulamentação do Mercado Financeiro para o Desenvolvimento Sustentável nos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), relatório do WWF internacional divulgado no último dia 20, descreve como estes países enfrentam os desafios da sustentabilidade adaptando suas estruturas regulatórias.
“Estamos felizes com este momento global que tem ampliado o foco para a sustentabilidade e é extremamente importante que os BRICS sejam uma parte real deste cenário”, disse Deon Nel, diretor executivo para a conservação do WWF Internacional. De acordo com Nel, “iniciativas como a distribuição de Orientações de Créditos Verdes pela Comissão Reguladora Bancária da China e a resolução CMN 4.327, do Banco Central do Brasil que exige políticas socioambientais obrigatórias para todos os bancos sob sua jurisdição, mostram que alguns países-chave do BRICS estão tomando medidas significativas”.
O relatório está centrado na avaliação de risco socioambiental, ou seja, o risco de inadimplência de créditos ou de outras questões financeiras relacionadas a eventos socioambientais. Medidas que reduzem esses riscos podem ser encaradas como alternativas para mitigar impactos socioambientais além de incentivar o investimento em longo prazo à resiliência dos sistemas ecológicos e sociais.
A análise baseia-se em mais de 40 entrevistas com tomadores de decisão de bancos centrais, públicos, privados, de desenvolvimento, associações e órgãos reguladores bancários do BRICS. De acordo com Nel, “o conceito de abordar o impacto ambiental e social da ?economia real? não é novo. No entanto, identificar que os tomadores de decisão em economias emergentes reconheçam cada vez mais o papel dos agentes financeiros para o meio ambiente e a sociedade é uma mudança de paradigma?, diz.
Análise do relatório
O relatório constatou múltiplas e variadas motivações para a adoção da regulamentação socioambientais. Na China, a ênfase aponta para considerações socioambientais, enquanto no Brasil o foco fica mais voltado para a gestão de risco do negócio. As diferenças entre as nações do BRICS são relativamente significativas; enquanto o Brasil e a China estão na vanguarda do desenvolvimento de regulação do mercado financeiro para enfrentar riscos socioambientais, especialmente Índia e Rússia ainda necessitam amadurecer na incorporação de sustentabilidade na agenda do setor.
?A resolução de política de responsabilidade socioambiental no Brasil certamente é um marco na história da política ambiental, que servirá de referência e inspiração para bancos centrais internacionais e que, dependendo da eficiência de sua implementação, pode ter impacto expressivo na governança do setor produtivo e sua cadeia de fornecedores e provocar maior consciência na tomada de decisão de consumidores e investidores?, comenta Karina Koloszuk, Coordenadora do Programa Finanças para Sustentabilidade do WWF Brasil.
Segundo ela, alguns bancos já possuem comitês e políticas socioambientais, de forma voluntária, mas muitas vezes consideram o risco socioambiental apenas como risco reputacional. Com a resolução do BACEN, cerca de 2000 instituições financeiras deverão avaliar seus processos e políticas internas e capacitar seus profissionais, o que provocará significativa mudança de patamar na estratégia de mitigação de risco socioambiental, assim como no fomento para novos negócios sustentáveis.
A oportunidade para o desenvolvimento sustentável fornecida pela concessão de créditos nos países integrantes do BRICS é enorme: em 2012, os seus volumes de crédito combinados excederam os US$ 13,8 trilhões, o equivalente a cerca de dois terços do volume de crédito da Europa Ocidental ou dos Estados Unidos.
O relatório considera também o potencial de introduzir regulamentações socioambientais onde eles ainda não estão presentes. Este relatório fornece um novo impulso à regulação financeira mais ambiental e socialmente conscientes.
?Nossa ambição é destacar as boas iniciativas dos órgãos reguladores na inclusão de questões socioambientais na análise de concessão de crédito do setor financeiro e contribuir na articulação, subsídios à implementação e criação de espaços de troca de experiências entre os bancos centrais dos BRICS, visando acelerar o processo já iniciado e alinhar o sistema financeiro com uma economia verde e inclusiva?, explicou Karina Koloszuk.
Novo Banco de Desenvolvimento
No cenário global, o BRICS também une forças para novas iniciativas multilaterais, como o recentemente estabelecido Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês de New Development Bank), anunciado no último dia 2,1 em Shangai, e que visa permitir mais oportunidades para buscar o financiamento sustentável em nível global.
A criação do NDB mostra os BRICS como representantes das novas economias e que se tornarão uma força importante para alavancar a ordem financeira mundial.
Fonte: Assessoria de Imprensa WWF-Brasil.