Apenas 0,46% dos mais de 21 milhões de websites brasileiros são acessíveis para pessoas com deficiência. Segundo a quarta edição da pesquisa BigDataCorp com o Movimento Web Para Todos, este é o nível mais baixo de inclusão de acessibilidade em sites desde a primeira edição do levantamento, em 2019.
Com a instituição da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, também chamado de Estatuto da Pessoa com Deficiência, em 2015, tornou-se obrigatória “a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com sede ou representação comercial no país ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com deficiência, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis, conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente”.
Mas mesmo sites e portais do Governo Federal estão para trás em oferecer recursos de acessibilidade. Apenas 0,7% deles são plenamente acessíveis, segundo levantamento da TIC Web Acessibilidade em parceria com a Ceweb.
Outros dados ampliam essa perspectiva. Estudo do Grupo de Pesquisa em Acessibilidade Digital, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, mostra que este não é um tema em evidência nos feedbacks coletados por aplicativos. O time revisou 180 milhões de avaliações na Play Store feitas nos 340 aplicativos mais baixados de diversas categorias. Apenas 0,003% mencionam deficiência visual ou condições semelhantes nas avaliações. Cerca de 936 dos comentários (18,7%) foram positivos, enquanto 4.063 (81,3%) foram negativos. O aplicativo mais criticado negativamente foi o Facebook, por oferecer poucos recursos acessíveis, seguido pelo Gmail e pelo Instagram.
Em um país em que cerca de 60 milhões de pessoas necessitam de ao menos um recurso de acessibilidade para navegar na internet, os dados se mostram alarmantes. Ainda mais quando a presença digital de usuários, produtos e serviços – tanto privado quanto públicos – cresce de maneira exponencial.
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Recursos de acessibilidade
Cerca de 46% das pessoas com deficiência consomem por meio de seus smartphones, segundo dados da Sociedade Brasileiro de Varejo e Consumo de 2019. Além disso, 37% desses consumidores compram mensalmente e, 23%, quinzenalmente. No entanto, para atender todo o público PCD brasileiro na internet, são necessárias ações concretas e consistentes.
Em um exemplo simples, em 2012, foi lançada a hashtag #PraCegoVer durante um evento virtual no Facebook de mesmo nome. A ideia era estimular pessoas a descreverem suas imagens em publicações nas redes sociais para usuários cegos. É possível descrever a imagem na própria legenda da foto, ou então utilizar recursos de texto alternativo – oferecido, por exemplo, pelo Instagram.
Já o jogo “The Last of Us Part II”, da produtora norte-americana Naughty Dog e que inspirou o seriado da HBO “The Last Of Us”, incorporou mais de 60 recursos de acessibilidade, uma iniciativa inédita na indústria. São ferramentas como assistências visuais e sonoras, opções de controle, navegação e até mesmo de combate – já que se trata de um jogo de ação. É possível escolher que o jogo fale o que está descrito em texto, e também aumentar o contraste das cores para que pessoas com deficiência visual ou baixa visibilidade consigam jogar.
Segundo os desenvolvedores da Naughty Dog, tantos recursos foram possíveis porque a acessibilidade foi parte do processo de design do jogo desde o início. À época do lançamento, em 2020, os produtores também afirmaram que os recursos foram aplicados sem que o jogo perdesse seus elementos de tensão e desconforto – que fazem parte da experiência da história de “The Last of Us”.
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Por onde começar
Como explica o Estatuto da Pessoa com Deficiência, o poder público deve ser o maior incentivador para que companhias de telefonia fixa e móvel ofertem aparelhos com acessibilidade e tecnologias assistivas. No caso de serviços de radiodifusão, como as emissoras, a lei determina que devem permitir o uso de legenda oculta, intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) e audiodescrição.
Para além da legislação, e seguindo a deixa de “The Last of Us”, para criar um produto ou serviço digital acessível, este deve ser um elemento presente desde a concepção e a partir de muita pesquisa e experimentação. Mas alguns passos podem ser dados para adaptar sites, portais, ou aplicativos que já estão disponíveis na internet para atender de forma mais adequada pessoas que necessitam de recursos de acessibilidade.
1. Uso de textos alternativos. Para produtos e serviços digitais com imagens, é essencial o uso de textos alternativos, que possui uma proposta similar à hashtag #PraCegoVer. É importante fazer uma descrição detalhada dos elementos presentes na imagem para que pessoas cegas ou com outras deficiências visuais consigam entender o conteúdo.
2. Além das imagens. Uma vez que sites são acessados também por pessoas cegas ou com deficiência visual, é recomendado descrever todo texto presente no site ou serviço na internet de forma escrita para que assistentes de voz e tela possam navegar com mais facilidade.
3. Teclado amigável. Uma vez que muitos usuários apenas conseguem navegar pela internet utilizando o teclado, é preciso garantir que as funcionalidades possam ser acessadas somente pelo teclado se o usuário assim preferir.
4. Legendas e/ou transcrições. Para que pessoas com deficiência auditiva consigam entender e consumir conteúdos e informações em áudio ou vídeo, empresas podem oferecer opções de legenda ou transcrição. O TED Talks, por exemplo, oferece em seu site várias de suas palestras transcritas.
5. Contraste de cores. Assim como “The Last of Us” incorporou este recurso, produtos e serviços digitais podem fazer o mesmo para contribuir com uma visualização mais clara.
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