Consumo é a ação de adquirir bens e serviços para satisfazer nossas necessidades e desejos. No entanto, é fundamental não apenas considerar a importância do consumo em si, mas também a importância do consumo consciente. Fato é que somos todos consumidores. Consumimos alimento, bebidas, vestimentas, combustível, energia, água e uma infinidade de produtos e serviços para nos mantermos saudáveis e vivos. O problema é que, nas cadeias produtivas, principalmente as industriais, além do artigo final, como uma roupa ou um par de calçados, por exemplo, que recursos naturais são demandados e subprodutos são gerados.
E esses subprodutos podem se tornar resíduos sólidos, líquidos ou emissões de gases, incluindo os de efeito estufa como metano (CH4), dióxido de carbono (CO2), o gás de maior abundância na Terra, e os gases fluoretados, produzidos para atender às necessidades industriais.
Em suma, o aumento da concentração desses gases na atmosfera tem potencializado o efeito estufa, efeito que é importante para a vida da Terra. Contudo, se houver alta concentração desses gases na atmosfera, a consequência é uma grande amplitude térmica.
Consumo ameaçado
A Organização das Nações Unidas prevê que os níveis de gases de efeito estufa 2030 estarão na casa de 22 gigas toneladas. Nesse ínterim, a temperatura da Terra estará 1,5º mais alta, se as tendências de alta das emissões de gases do efeito estufa não forem controladas. Entre 2021 e 2023, registrou-se um novo recorde de 1,2%, o que agravou ainda mais a situação. A informação consta no Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2023, do Programa de Meio Ambiente da ONU. O estudo é responsável por rastrear a lacuna entre o rumo que as emissões globais estão tomando com a agenda dos países e onde elas deveriam estar para restringir o aquecimento.
Sobre a publicação desse programa, o secretário-geral da ONU António Guterres destacou que os níveis das emissões deveriam estar descendo. Mas o que está acontecendo é exatamente o contrário. Citando os recordes de temperatura registrados entre julho e outubro, “os meses mais quentes da história”, ele destacou que as tendências atuais levam “o planeta a uma alta sem saída” de 3º Celsius.
Consumo consciente
Preocupada com essa realidade, a Fundação Procon-SP tem em mente que a situação exigirá adaptações e novas atitudes das empresas no que tange ao consumo consciente.
A ideia é orientar tanto os empresários paulistas quanto os consumidores para que os direitos nas relações consumeristas sejam protegidos e garantidos.
Uma Comissão de Eventos Climáticos foi criada recentemente como ferramenta para ampliar o conhecimento dos especialistas do Procon-SP sobre as mudanças climáticas.
A princípio, a Comissão estudará os impactos das mudanças climáticas nas relações de consumo. “A ideia é que estejamos à frente para seguirmos com o papel institucional do Procon-SP de orientação e proteção ao consumidor, a partir da assimilação de conhecimento técnico e científico sobre os desafios de aumento da temperatura e condições climáticas adversas”, comenta Luiz Orsatti, presidente do órgão.
A primeira atividade do grupo ocorreu no dia 21 de fevereiro, com uma palestra do Professor Doutor Tercio Ambrizzi, diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), na sede do Procon-SP.
Parceria Procon-SP e USP
Os objetivos da parceria entre Procon-SP e USP são dois: em primeiro lugar, transmitir conhecimento técnico e científico sobre as mudanças climáticas e o reflexo destas na seara consumerista. Em segundo lugar, está a troca de informações para prevenir ou amenizar os impactos negativos dos eventos meteorológicos nas relações consumeristas.
Na oportunidade, então, o professor doutor Tercio Ambrizzi defendeu a importância de se pensar no agora. Seu pensamento, portanto, é “investir hoje para garantir um futuro mais seguro”.
Tercio destacou a frequência crescente de eventos como ciclones, furacões, temperaturas elevadas, inundações e secas, que impactam negativamente a sociedade, especialmente as populações mais vulneráveis. Diante da situação, ele explicou a necessidade de os especialistas do Procon-SP fundamentarem suas análises de reclamações de consumidores com conhecimento científico. “É essencial firmar acordos entre a sociedade e a ciência ao considerar os riscos das mudanças climáticas nas decisões de investimento”, disse Tercio.
Para ilustrar, o professor enfatizou a implantação de melhores práticas na construção civil e o tratamento adequado dos recursos hídricos.
Informação
A informação desempenha um papel fundamental no consumo moderno. Com o aumento da disponibilidade e acessibilidade aos dados, os consumidores estão cada vez mais exigentes e bem informados antes de realizar uma compra. Ciente dessa realidade, na visão do professor é fundamental ampliar o acesso da população às informações climáticas regionais, fortalecê-las do ponto de vista comunitário e investir em sistemas de alerta antecipado para enfrentar os eventos extremos inevitáveis e, que demandam urgência nas ações.
“Em suma, é importante avançar em ações para mitigar as emissões de gases de efeito estufa e combater o aquecimento global. Os impactos já estão sendo sentidos e podem se agravar se não tomarmos medidas adequadas. É fundamental que a população tenha conhecimento sobre o assunto e se mobilize em prol da redução dessas emissões, visando garantir um futuro mais sustentável para o planeta”, pontuou Tercio.
Parcerias
O Procon-SP anunciou outra novidade: em breve, a Fundação estabelecerá uma parceria com a Defesa Civil do Estado de São Paulo.
Tanto o acordo com a Defesa Civil quanto o estudo de casos com a USP começaram devido a episódios que ocorreram no Estado de São Paulo nos últimos anos. Entre eles, os deslizamentos de terra provocados por um temporal histórico, que causaram mortes e destruição no litoral norte paulista, no dia 19 de fevereiro de 2022; a interrupção no fornecimento de energia pelas fortes chuvas; e os problemas dos consumidores em shows e grandes espetáculos.
O foco das ações do Procon-SP está moldado, portanto, na segurança do consumidor, e trabalhará temáticas sobre mudanças em seguros, logística, distribuição de mercadorias e formulação de produtos.