Durante o Festival Cannes Lions de Criatividade 2024, realizado na Riviera Francesa, a definição da criatividade pautou duas conversas, mas por perspectivas bem diferentes. Uma sob o ponto de vista da tecnologia, com Mira Murati, CTO da OpenAI, seguida de outra espiritual, com o consagrado Deepak Chopra e Pranav Yadav, CEO da Neuro-Insight.
Enquanto para Murati a criatividade é uma busca, um processo de descoberta, que oferece individualidade e originalidade, para Chopra, é uma fonte de consciência incondicional, ou pura consciência, na qual a criatividade é a sua alma, seu espírito. E o elemento mais fundamental da criatividade é a imaginação. Quando você imagina, você cria novos significados e contextos.
Ele define o processo criativo em 9 etapas:
- Um resultado intencional: este resultado pode ser qualquer coisa que você deseja criar;
- Coleta de Informações;
- Análise das informações;
- Incubação: uma pausa, o período de desapegar do processo. É quando você está na natureza, escutando uma música, meditando. É um período de incerteza. Sem incerteza não existe criatividade. Diz que se você está certo sobre algo, onde está a criatividade;
- Insight: deste momento de pausa, nasce o insight, quando vem o momento “A-ha”, que leva à inspiração;
- Inspiração: é quando você sente que precisa fazer algo com aquele insight – e ele frisa que não é motivação, que é algo mental. A inspiração é espiritual;
- Implementação: quando você implementa o seu insight criativo;
- Encarnação: com essa ideia, você cria um novo contexto, um novo significado, novas relações, novas histórias;
- Ressurreição: quando a nova história emerge, significando a morte da história antiga e o nascimento da nova.
Destes 9 pontos, talvez valha a pena voltar na explicação da incubação. Para isso, recorro a uma pergunta que Chopra fez à audiência: “vocês estão gostando dessa conversa?”. Todos responderam que sim. Depois, ele diz que vai repetir a pergunta, e pede para a audiência só responder quando ele levantar a mão. Entre a pergunta que ele refaz e a resposta da audiência, após levantar a mão, há um silêncio. Este é o período de incubação, o espaço entre os seus pensamentos, que dá margem à presença.
Este período de incubação leva à incerteza, o que nos faz voltar na conversa de David Droga com a Murati, na qual ele afirma que não vê o lado criativo emergindo muito na indústria publicitária. “A maior parte do trabalho publicitário não é criativo, pela necessidade de certeza dos clientes”, afirmou.
Ele brinca dizendo que a publicidade está escrita por algo mais perigoso que Inteligência Artificial, que é a pesquisa. A título de contexto, com isso ele se refere ao uso que se faz da pesquisa, como forma de validar hipóteses para chegar o mais próximo possível do que é seguro. É a certeza que as marcas tanto perseguem e que, justamente, mata a criatividade. Droga percebe que a IA é usada com o foco em ganhar eficiência e produtividade, e ainda não vê em criatividade. “A adoção precoce da IA pode levar a ganhos de eficiência, mas a criatividade continua essencial”.
Porque, voltando à neurociência de Chopra, o cérebro humano é um dispositivo que busca por padrões e por criar narrativas. Há histórias que funcionam, e outras que não. E a diferença entre as duas é essa verdade fundamental, os insights comentados anteriormente. Segundo ele, a chave para a criatividade é o espírito. Para as marcas presentes na audiência, Chopra manda um recado: “Vocês, marcas aqui presentes, não são um produto, um serviço. Uma marca é uma história. E boas histórias são baseadas em fatos embutidos de emoções.”
Deepak Chopra divulgou o seu novo livro, “Digital Dharma”, sobre como a IA pode elevar a inteligência espiritual e o seu bem-estar pessoal. Comentado, inclusive, pelo próprio Sam Altman, CEO da OpenAI. Dharma representa significado, propósito e existência.
Graziela Di Giorgi é fundadora da The Human Rise, autora do livro “Efeito Iguana” e colaboradora especial do portal Consumidor Moderno.