Por Gabriella Teixeira, Consultora da WGSN Mindset Latam.
A ansiedade em relação ao clima já é uma realidade, assim como o desejo de limitar ou reverter os danos causados ao ecossistema do planeta. Uma nova palavra já até foi criada para definir essa sensação: Solastalgia.
Com as mudanças climáticas fazendo cada vez mais parte do nosso dia a dia, os consumidores estão tentando tornar o mundo um lugar melhor. Esse novo sentimento exigirá que os varejistas desenvolvam estratégias diferentes para se relacionar de forma relevante com esse consumidor.
A discussão pública em torno dos materiais plásticos que são usados uma única vez e a demanda do público por soluções como garrafas de água e copos de café reutilizáveis são apenas algumas entre as muitas mudanças comportamentais que exigirão novas posturas das empresas.
O assunto deste mês da parceria entre NOVAREJO e WGSN Mindset aborda preocupações climáticas e busca responder como marcas devem se adaptar a esse novo contexto. Este conteúdo faz parte do estudo “consumidor ultradinâmico” (high-velocity consumer) realizada pela WGSN, líder global em pesquisa de tendências de comportamento. O material tem como objetivo entender quais são as motivações destes consumidores que estão transformando a relação com as marcas e quais serão as implicações para o varejo e foi estruturado a partir de seis grandes tópicos que determinam os comportamentos emergentes hoje em dia. São eles:
• A revolução das compras pelos dispositivos móveis
• A importância dos sentimentos
• A economia da confiança
• Preocupações climáticas
• A geração longeva
• O fim da posse
Confira aqui todos os textos da parceria entre NOVAREJO e WGSN Mindset
Nos últimos três meses, falamos sobre o impacto do m-commerce – a força dos smartphones no processo de compra e as possibilidades que se desdobram a partir desse cenário. Apresentamos também o novo paradigma que envolve a relação das pessoas com experiências pessoais que vão além da personalização – a importância do fator “sentimento” para o varejo. Nosso último artigo discute sobre a economia da confiança – o valor da transparência entre as relações entre negócios e pessoas.
Agora chegou o momento de aprofundar um tema que possui impacto direto no nosso bem-estar como sociedade: as preocupações climáticas.
O número de desastres naturais provocados por eventos climáticos extremos mais do que dobrou desde 1980. No mesmo período, o número de tempestades dobrou, enquanto inundações, avalanches e deslizamentos quadruplicaram. Não é por acaso que uma pesquisa realizada pelo Australia Institute revelou que 73% dos australianos andam preocupados com as mudanças climáticas, um aumento de 66% em relação ao ano passado.
No entanto, quando se trata de encontrar soluções, entender a mentalidade do consumidor pode ser uma tarefa difícil. Em uma pesquisa conduzida pela Kantar TNS no Reino Unido, 63% dos respondentes afirmaram que se preocupam em comprar produtos com menos recursos utilizados nas embalagens. De acordo com dados da consultoria Nielsen em 2018, a taxa de crescimento na venda de produtos sustentáveis vem aumentando. Mas, quando o assunto é assumir a responsabilidade pelas próprias ações, as pessoas ainda esperam a ação de terceiros, principalmente empresas e governos.
Em 2020, será imperativo buscar soluções alinhadas com a consciência ambiental. Mas, como podemos fazer isso? Abaixo, listamos algumas soluções bem-sucedidas já adotadas por varejistas:
Estratégias de sucesso: economia circular, mercado de revendas e reavaliação de produtos
1. Abrace a economia circular
Da economia espiral à circular. Já começou a corrida para que esse tipo de economia venha à tona. Muitas organizações do setor fast-fashion têm estimulado os clientes a devolverem roupas danificadas ou que não usam mais.
Além disso, é cada vez mais urgente a implementação dessa infraestrutura por varejistas. As marcas ampliam cada vez mais suas metas de reciclagem e o púbico já percebe esse valor intrínseco a elas. No futuro, a tendência é que haja uma procura maior por roupas de segunda mão, já que as opções de reparo de produtos serão maiores.
A H&M, por exemplo, projeta usar materiais 100% reciclados ou sustentáveis até 2030. Em 2017, 36% dos materiais usados pela empresa eram reciclados ou sustentáveis. De 2018 para cá, o número já chega aos 50%.
2. Explore o mercado de revendas
A plataforma de revenda on-line thredUP estima que, até 2020, o mercado de segunda mão de revenda de produtos irá valer US$ 41 bilhões.
Em abril deste ano, Stella McCartney e o site The RealReal criaram a campanha “The Future of Fashion is Circular”, estimulando os consumidores do segmento de luxo a revenderem as peças da marca. A grife ainda promoveu um evento em loja para colocar as peças de segunda-mão da marca à venda.
A Reformation, marca norte-americana de moda sustentável, fez uma parceria com a plataforma thredUP para oferecer um serviço de revenda a seus clientes. Com isso, as pessoas podem doar as roupas que não usam mais para serem vendidas na thredUP e ganhar créditos na Reformation.
3. Reavalie os produtos e as estratégia de preço
Esta mudança de comportamento vai exigir uma nova mentalidade por parte das empresas que atendem consumidores que desejam novos produtos. A estrutura de negócios e de precificação terá que ser reavaliada à medida em que o público tem procurado cada vez mais por produtos duráveis, sustentáveis e com o potencial de revenda.
Apesar da proposta circular estar bastante focada na indústria da moda, ela já começa a chegar em outros setores, como o setor de móveis e decoração. A IKEA, por exemplo, já vem testando na Austrália um sistema para comprar e revender os móveis usados da marca.
Pontos de atenção: o que já pode ser feito?
• Comece a testar novas estratégias para não ficar de fora da indústria de revendas, que não para de crescer. Parcerias pode ser uma ótima saída;
• Desenvolva um sistema de ciclo fechado ao criar uma infraestrutura que ajude os consumidores a se habituarem a devolver suas roupas usadas de volta à loja para que elas possam ser reusadas;
• Reaprimore a qualidade dos seus produtos para que eles durem mais e sejam reusados por várias pessoas. Crie produtos que não percam valor ao longo do processo de revenda;
• Crie estratégias para provocar mudanças em torno do uso do plástico. Encontre maneiras de transformar os problemas ao redor desse material em algo benéfico ou procure um meio de eliminá-lo de sua linha de produtos.
No próximo mês, vamos dar sequência aos tópicos tratados em nosso estudo sobre o consumidor ultradinâmico. Em agosto, é a vez de abordarmos a geração longeva.
- *Formada em Comunicação Social pela PUC Rio, Gabriella Teixeira já passou por agências como Ogilvy Rio, Ogilvy Los Angeles e David São Paulo, além disso já trabalhou em empresas globais como Coca-Cola. Hoje ela é Consultora da WGSN Mindset LATAM, braço de consultoria da WGSN. Há mais de oito anos no mercado, sempre buscou conectar cultura, pessoas e negócio. Durante a sua carreira já liderou projetos para marcas como Coca-Cola, Magazine Luiza, Faber-Castell, Sony e Danone.