Você sabia que os jornais, livros e todo tipo de material impresso só são possíveis por causa da prensa móvel inventada por Gutemberg séculos atrás? Sempre quis saber se esse é um fato disseminado, ou se apenas os comunicadores ficam sabendo dessa história.
Uso essa referência, porém, para resgatar a palestra do especialista em mídia Bob Garfield, que concluiu o Congresso da Abraji neste ano. O americano veio ao Brasil e ficou por aqui durante pouco mais de uma semana. Não por acaso, aprendeu um pouco sobre nosso louco país e comentou – com razão – que temos várias complicações: “corrupção, intolerância, violência, pobreza, zica vírus, dengue e…seleção brasileira”.
Piadas à parte, é fato que o Brasil tem tudo isso de ruim. Mas a palestra de Garfield não foi sobre isso. Com a mediação do jornalista Fernando Rodrigues, ele comentou justamente que história da amada profissão escolhida pelos jornalistas – doidos? – e da nossa ferramenta de trabalho começa lá atrás, com Gutemberg. Então, ao longo dos anos, evolui para o jornal, os livros, a reprodução de notícias em massa. E o que nasce com isso? A propaganda, é claro.
“Quando a comunicação quis atingir a massa, precisou da propaganda”, comenta Garfield. “E esse modelo durou muito, mas, acabou”. E é justamente essa a polêmica: depois de se sustentar por tantos anos na publicidade, como a mídia pode sobreviver?
Ele pergunta à plateia, então, se alguém já havia clicado em banners de propaganda na internet. Apenas uma pessoa levanta a mão. “Nunca clicamos em propaganda”, ele confirma. “A publicidade não vai pagar a conta e precisamos de uma nova estratégia”.
Nesse contexto, ele apresentou soluções aplicadas nos EUA e que podem ser adotadas fora de lá – como o modelo de pagamento por texto, de forma individual. É claro que, nesse caso, o conteúdo precisa ser muito relevante. E, então, nasce o desafio de conciliar o clássico “bom, rápido e barato” – um milagre ou uma lenda tanto no jornalismo quanto fora dele.
De qualquer forma, Garfield deixa o insight de que o jornalismo e a mídia precisam parar de se apoiar apenas na propaganda e nos anunciantes. Caso contrário, os veículos vão afundar. Assim como os táxis correm o risco de sumir por causa do Uber, os jornais precisam tomar cuidado com o Facebook. Para quem estava na plateia – uma grande parte do público era, aparentemente, estudante de Jornalismo – isso deve ter sido um choque. Mas, como todo choque de realidade, esse pode ter um lado bom.