O endividamento é um problema consideravelmente grande no Brasil – e é social e econômico. Pela própria cultura de consumo muito voltada ao parcelamento, um grande número de consumidores se vê nessa situação. Renegociar essas dívidas, ao mesmo tempo, é uma grande dor: é um processo penoso, ligado a questões emocionais, que traz muita insegurança. O modelo tradicional também não ajuda – o grande número de ligações de cobrança é rejeitado por grande parte do público. Nesse quadro, surgem as fintechs, que trazem uma visão inovadora sobre o assunto e procuram fomentar um novo conceito quando o assunto é crédito, cobrança e negociação.
Durante o Recover Money, a participação das empresas Kitado, Acordo Certo, Lendico e MFM Tecnologia trouxeram como está o panorama desse mercado no Brasil. Paulo Tarso, CEO da Kitado, lembra que é um setor que traz muitos desafios, tanto para lidar com um grande número de dados quanto para garantir a satisfação do consumidor. Mas garante: os modelos funcionam. “É preciso desconstruir o modelo que existe hoje”, aponta.
A grande questão é tentar fazer diferente. “Sempre existia uma métrica de ação reativa. Ligar, cobrar, por que não fazer diferente?”, questiona Edgard Melo, fundador da Acordo Certo. A plataforma do empreendedor é, em suas palavras, uma grande fonte de Big Data, com mais de dois milhões de acessos. “Por que o credor não está lá? Existe uma convergência acontecendo e tem que ser percebida”, garante. Com sua operação, mapeando os movimentos dos consumidores, o empreendedor passou a entender a jornada do cliente dentro da plataforma.
Fatos
Se existe uma grande pergunta sobre os modelos de crédito online, é: essas ferramentas vieram para ficar? Os empreendedores garantem que sim. “As pessoas já pedem dinheiro pela internet, por que não negociariam suas dívidas online?”, questiona Melo. Uma coisa é fato, o comportamento do consumidor mudou. Na Acordo Certo, existem negociações acontecendo após a meia noite – no horário que o usuário bem entende que deve ser e de acordo com a sua disponibilidade.
“Já existe a demanda de pessoas que buscam dinheiro pela internet, então é natural que esse público não busque canais tradicionais para negociar a sua situação”, complementa Fábio Araújo, COO da MFM Tecnologia. Sua empresa fornece soluções de Tecnologia da Informação para esse mercado e o empreendedor garante: é preciso dar flexibilidade para as ferramentas – porque é assim que o consumidor é hoje.
Fora isso, é preciso dar informação. Por que não mostrar a dívida real para os clientes? Com o número real disponível, o público de programa, monitora, tem noção do que está acontecendo.
Panorama
Marcelo Ciampolini, CEO da Lendico, lembra que aquele consumidor que prefere negociar uma dívida pela internet geralmente resolve toda a sua vida online. Utiliza aplicativos de táxi e alimentação, prefere o internet banking e simplesmente não se interessa pelos “meios tradicionais”. Em sua visão, a medida que vemos empresas como a startup atuando dessa forma, é de se esperar que toda a cadeia siga essa linha.
A Lendico nasceu na Alemanha em 2013 e enxergou no Brasil uma grande oportunidade no mercado de crédito. No primeiro mês de operação nacional, eram esperados 2500 pedidos – na realidade, surgiram mais de 12 mil.
“Quem nasceu nos anos 2000 é um fluente digital. Algumas pessoas, porém, ainda tem um certo sotaque”, ilustra Araújo. As empresas precisam dar suporte para todos os perfis de clientes. “Os consumidores não estão mais acostumados a receber uma ligação de um número desconhecido no meio do dia para ouvir cobrança, mas um Whatsapp para avisar a situação”, complementa Ciampolini.
Negociar no ambiente online, além da comodidade, traz um alívio para o cliente – é uma situação menos desconfortável. Um teste feito pela Landico provou que números que não eram atendidos via contato telefônico respondiam as mensagens pelo app de mensagens. O Acordo Certo também oferece atendimento por diversos canais – desde Facebook até Telegram.
Suporte
Lidar com tantas nuances do consumidor demanda, claro, infraestrutura. “As pressões em cima da recuperação de credito são muito grandes em momentos de crise então é preciso de soluções que entreguem valor rápido”, garante o COO da MFM Tecnologia. É essencial que a distância entre a necessidade e a informação seja reduzida.
Para os fornecedores também traz desafios – já que confiança, nesse setor, é fundamental. “Há muita desconfiança sobre isso, expor os dados em diferentes meios. Então é preciso passar confiança para o credor”, lembra.
Na visão dos empreendedores, é um caminho a sem volta – quem estiver fora vai ficar de fora.