O conceito de ESG é antigo, posto dessa forma em 2004. No entanto, ainda que a pauta não seja tão atual — diga-se de passagem, ela já era praticada com outro nome anos atrás — foi só nos últimos tempos que as empresas de fato representaram uma diferença: a agenda ESG foi seguida à risca, uma necessidade urgente do planeta, assim como dos consumidores.
Para além das urgências, é inegável perceber que o ESG puxa, consigo, uma cadeia de valores nos próprios colaboradores das empresas, nos clientes e futuros clientes, na reputação dentro do mercado. E mais do que isso, há algo que caminha de forma lado a lado com a agenda: a inovação.
Esse foi o tema do webinar “ESG como ponte para inovação”, realizado pela agência Hullun. O evento contou com a participação de Andrea Bisker, CEO e fundadora da Spark:off; Iza Dezon, CEO e fundadora da Dezon e Jacques Meir, diretor-executivo de Conhecimento do Grupo Padrão, com mediação de Christina Carvalho Pinto, sócia-estrategista da Hollun.
“O mundo está pedindo inovação. E o mundo está clamando por cuidados com o meio ambiente, com a sociedade por meio de uma governança consciente, capaz de se comprometer nesses mega temas tão emergenciais. E a inovação é a ponte para todos esses conhecimentos”, argumenta Christina.
A Geração Z e seu envolvimento com a agenda de ESG
O ESG como motivo de inovação foi algo fundamental e bastante perceptivo na pandemia, momento no qual houve uma intensa aceleração tecnológica. “Você tem pressão de sociedade, de tecnologia e novos negócios super disruptivos também passaram a fazer frente nessa nova agenda. Era necessário buscar inovação para reagir. Disso tudo veio o ESG, uma plantinha que começou a nascer. Ainda que tenha nascido há 50 anos, é agora que isso tomou força e se tornou uma narrativa”, explica Jacques.
E essa inovação, esse movimento de mudança nos últimos anos que chamou a atenção das empresas, começou com as gerações mais novas. “O momento de inovação é aquele em que questionamos o status quo, tem a ver com romper com práticas antigas, romper paradigmas. Para inovar, eu preciso entender os hábitos de consumo, entender que o consumidor cobra e eles são os jovens, as novas ‘Gretas Thunbergs’, eles que puxam essa inovação”, comenta Andrea.
Hoje, a adoção das práticas de ESG são fundamentais para garantir não apenas a transformação necessária ao meio ambiente, como também para atender a um consumidor que já não tolera marcas que não se pronunciam. “Estamos vendo que a adaptabilidade para além do discurso institucional, as empresas estão agindo, foi o caminho para conversar com esses nativos ecológicos e digitais que eu apelidei de Geração Zero — zero lixo, zero desrespeito, zero enrolação e assim por diante. É uma geração de rebeldes com causa, munidos de informação e compreensão do mundo graças à aceleração de tecnologias. Eles começaram a realmente conseguir transformar discursos em ações”, complementa Iza.
A questão é: como unir a inovação ao ESG? No passar dos últimos anos, as empresas notaram que sem campanhas honestas e sinceras pautadas em sustentabilidade, ações sociais e governança, não era possível se manter no mercado. A partir disso, a fim de resolver soluções internas e externas, nasceram as inovações em prol do meio ambiente — misturadas e interligadas, é claro, com a tecnologia.
“Quando pensamos no porquê as empresas estão discutindo isso, além do diálogo com o consumidor, há também uma questão econômica. Segundo a Springwise, em 2020, o prejuízo das mudanças climáticas foi de 85 bilhões de euros. Quando temos esses valores, percebemos que precisamos reiniciar essas indústrias, porque o impacto precisa ser hiper ecológico, industrial, precisa vir em grande escala”, salienta Iza. Ela destaca que, em momentos nos quais o consumidor já não aceita mais corroborar com empresas que não trabalham sua agenda de ESG, ele muda seu hábito de consumo. “O consumidor se entende como cidadão do mundo, então ele usa do dinheiro como voto de confiança naquela empresa e suas crenças e propósitos. Precisamos falar de transparência, de criatividade, é um momento de despertar de responsabilidade que vem por causa do impacto ambiental, econômico e da pressão dessa nova geração e aproveitar esse período para fertilizar a inovação”, completa.
A confiança se tornou investimento por parte do novo consumidor
Como destacou Iza, hoje, o voto de confiança dos consumidores mais jovens vem por meio do dinheiro e da escolha de consumo. Se uma empresa tem ações comprometedoras com o meio ambiente e a sociedade e ainda não reverteu a situação, a Geração Z tende a irar aquela marca de sua lista — e, consequentemente, investir em outra corporação que trabalhe melhor a agenda de ESG.
“As pessoas não acreditam que o Goveno ou Instituições farão a diferença. A diferença está nas mãos das marcas. E isso foi uma percepção muito positiva aos empreendedores de hoje, porque eles entendem que a geração Z vota na carteira, porque a compra é um voto de confiança na marca. Então, além de todos os outros benefícios, abraçar o ESG hoje é lucrativo, porque se você não abraça, você está fora do mercado e perde essa confiança”, destaca Andrea. “E é algo simples: se as empresas e indústrias não pararem e mudarem, não vai ter futuro, não vai ter planeta para os nossos filhos crescerem. Isso tem tudo a ver com inovação: é questionar tudo e encontrar novos caminhos.”
Tudo isso leva à questão mais debatida hoje no mundo dos negócios: o cliente é o centro. Assim, é papel da empresa ser o agente de transformação pensando que o cliente está engajado com as pautas sociais e de sustentabilidade. “As empresas precisam entender que elas são responsáveis, que elas assumem o papel de agentes de transformação. E essa mudança não pode ficar privada somente a alguns grupos sociais”, diz Jacques. “Qual é a finalidade de uma empresa que existe sem clientes? Sem consumidores? O consumidor hoje é cidadão e sem ele, não existe empresa. Ser agente de transformação é também ser inclusivo: incluir mais gente, mais pensamentos, necessidades, narrativas, discursos.”
E nesse ponto, é muito importante ressaltar que as empresas, para além das práticas sustentáveis e sociais precisam se posicionar. Afinal, vivemos na era das redes sociais e quem se silencia é tomado como conivente com determinadas pautas. “As pessoas estão conectadas, conscientes. Tem uma frase que eu adoro, que diz ‘o silêncio das mídias sociais é o beijo de morte delas’, ou seja, é preciso se posicionar. A sociedade não deixa mais as marcas mentirem ou omitirem. Agora, para as marcas, é preciso ter coragem para se manifestar. Mas é isso: é muito melhor liderar a agenda do que só comentá-la”, argumenta Andrea.
No fim, é preciso ter em mente que a inovação ligada ao ESG é um conjunto de valores e ações que hoje lideram o mercado. Cada vez mais as empresas investem em soluções sustentáveis, em prol da sociedade e assumem seus princípios. O importante, salienta Jacques, é refleti-los de forma sincera. “Propósitos você não compra no supermercado, não é assim. Ou você realmente pensa e reflete sobre os valores que levaram você a criar uma empresa, que fizeram a empresa chegar até o atual estágio ou você não vai sair do lugar. Não tem como, até porque tem o Google, a coisa mais fácil que tem é pesquisar o histórico de uma empresa e saber o que ela fez até hoje”, finaliza.
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