O estudo “Plano de Voo 2024” foi divulgado pela Amcham Brasil [American Chamber of Commerce, no português Câmara Americana de Comércio] no dia 5 de fevereiro, em evento presencial na B3, a Bolsa de Valores do Brasil. A pesquisa deste ano foi realizada pela Amcham em parceria com o Poder 360 e a principal novidade são os dados encorajadores, os quais revelam franco otimismo para o setor privado brasileiro.
Para se ter uma ideia, dos 775 líderes participantes, quase todos [93%] estão confiantes em relação ao crescimento de suas empresas em 2024. Deste universo, inclusive, 41% esperam um progresso acima que 15%.
É importante destacar que o público de respondentes é formado por 68% de alta liderança (C-levels; fundadores e diretores). Já 66% dos entrevistados representam empresas de médio e grande porte. Juntos, eles estimam gerar 610 mil postos de trabalho e R$ 663 bilhões em termos de faturamento anual.
Mercado interno = aumento de vendas
Essa concepção confiante é reflexo das estratégias que as empresas brasileiras estão adotando para impulsionar seus negócios. Assim, consoante a pesquisa, 72% das empresas buscarão aumentar suas vendas no mercado interno, reconhecendo o potencial e a importância desse setor para a economia. Ademais, 49% dos negócios têm como foco a ampliação da capacidade de produção e serviços, visando a atender à demanda crescente. A redução de custos e o aumento da eficiência são igualmente mencionados por 49% dos participantes como parte de suas estratégias de negócios.
O empenho dos empresários para investir em automação e a transformação digital está em 37%, mesmo percentual dedicado a inovação, pesquisa e desenvolvimento.
“Esses resultados apontam para um ambiente favorável, no qual os líderes estão dispostos a adotar medidas estratégicas para alcançar suas metas”, comentou, na ocasião, o presidente da Amcham Brasil, Abrão Neto, destacando que apesar do cenário de positividade, várias respostas indicam incerteza quanto à economia e aos efeitos das ações do governo.
Chama atenção também o fato que 71% dos entrevistados do Plano de Voo acreditam que as eleições presidenciais dos Estados Unidos terão profundo impacto para a economia brasileira.
Crescimento maior que o PIB
Fato é que as empresas brasileiras associadas à Câmara de Comércio têm expectativas de crescimento superiores ao Produto Interno Bruto (PIB). Enquanto a projeção para o crescimento econômico em 2024 está em 1,60%, conforme o último boletim Focus divulgado pelo Banco Central, os dirigentes de negócios entrevistados no Plano de Voo Amcham 2024 projetam uma alta de mais de 15% na receita anual.
Diferentes fatores podem gerar esse sentimento positivo. Entre eles, a gradual recuperação da economia após períodos de instabilidade, um ambiente regulatório mais propício aos negócios e as reformas estruturais implementadas nos últimos anos. Diante disso, os representantes do setor privado destacaram as principais medidas que eles esperam que o governo federal adote para impulsionar o crescimento econômico em 2024. Entre as esperanças, estão: o equilíbrio fiscal em primeiro lugar (80%).
Em segundo lugar, está a regulamentação da reforma tributária sobre o consumo (62%), que empata com a segurança jurídica e a redução da burocracia (62%). E, por último, está a política industrial eficiente e moderna.
Nas palavras de Abrão Neto, presidente da Amcham Brasil, no que tange à reforma tributária, ele almeja que, uma vez implementada, tais mudanças auxiliem na redução da carga tributária sobre as exportações brasileiras.
Tributos
Ele lembrou de um princípio básico no comércio internacional, o qual estipula “que tributos não se exporta”. Contudo, por causa da complexidade do sistema brasileiro, acabam surgindo rejeitos fiscais que não são suprimidos na exportação. “E isso acaba afetando a competitividade”.
No geral, 41% dos entrevistados veem a reforma tributária como positiva. Outros 35% permaneceram neutros, enquanto 21% acham que as mudanças que virão pela frente são extremamente negativas. Somente 3% não souberam responder.
Os fatores externos mais influentes sobre a economia e sobre os negócios são: disputas geopolíticas e conflitos internacionais (61%); políticas econômicas das principais economias (58%); flutuações no mercado global de commodities (55%); e liquidez internacional e fluxos de investimento (33%).
Já as predileções apontadas pelos executivos são, segundo o presidente da maior entidade multissetorial do país e a maior Câmara Americana de Comércio fora dos Estados Unidos: a política econômica, a geração de trabalho e renda, a infraestrutura, a política industrial, bem como a inovação e tecnologia.
Desafios e perspectivas
O Plano de Voo 2024 reuniu 150 notáveis líderes empresariais para debater os desafios, obstáculos e possíveis cenários econômicos para o Brasil no decorrer deste ano. Entre os CEOs e presidentes de empresas presentes na oportunidade, destaque para os representantes de renome da Coca-Cola, Citi, Itaú e Eurasia. Da parte do governo, Paulo Roberto Simão Bijos, do Ministério do Planejamento e Orçamento.
Marcelo Marangon, presidente do Conselho da Amcham, apontou um sinal de dinamismo nas relações econômicas entre o Brasil e os EUA ao destacar que o país atingiu um recorde no valor das exportações de produtos industrializados para os EUA, chegando a cerca de US$ 30 bilhões.
Cenário político
Na palestra “Cenário Político no Brasil”, Christopher Garman, diretor da Eurasia Group, ofereceu insights sobre suas perspectivas para 2024. Em seu parecer, é difícil que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, mantenha seu índice atual de aprovação popular no período de seis a oito meses.
“Assim, é provável que o país consiga manter uma maior pressão do Palácio do Planalto sobre o Congresso Nacional para aprovar medidas de crescimento econômico que tragam apoio popular às vésperas das eleições municipais”, disse.
Sobre a reforma administrativa, ele considera que é bem baixa a probabilidade dessa matéria passar no Congresso. E “do ponto de vista político, 2024 será um ano mais difícil que 2023”.
Por fim, para Garman, a instabilidade persistirá por conta das guerras da Ucrânia e do Oriente Médio e a eleição presidencial dos Estados Unidos.
Crédito
Já Mario Mesquita, chefe de pesquisa do Itaú Unibanco, prevê que o crédito crescerá em 2024. Assim, seu entendimento é que o consumo “se mantenha em crescimento”, apesar da promessa de crescimento da renda ser menor do que em 2023. Ele outorgou o aumento da renda à redução da inflação pelo Banco Central, cuja estimativa recuou para 3,81%. “E a consequência é uma renda real crescente devido ao mercado de trabalho aquecido”. Mesquita realçou ainda que a baixa inflação é uma política social. E isso também deriva em estabilidade política: “Nenhum governo é popular com inflação alta”.
O evento também contou com os seguintes debates: “Perspectiva dos Setores Econômicos”, com Gilson Finkelsztain, CEO da B3; Marcelo Marangon, presidente do Citi Brasil; Tito Andrade, sócio da Machado Meyer; e Marco Castro, sócio-presidente da PwC Brasil.
Na sequência, foi a vez de Alfredo de Goeye, CEO da Sertrading; Andrea Rolim, ex-presidente Brasil e vice-presidente da América Latina na Kimberly Clark e conselheira de Administração Grupo Fleury; e Luciana Staciarini Batista, presidente da Coca-Cola no Brasil e da Cone Sul, tratarem o tema “Perspectiva dos Setores Econômicos”.
A agenda econômica do governo
Na última palestra do evento “Plano de Voo Amcham 2024”, o secretário de Orçamento Federal do Ministério do Planejamento, Paulo Bijos abordou a temática “A agenda econômica do governo federal”.
Ele afirmou que o governo está comprometido com a meta fiscal de déficit zero em 2024. Esse propósito permanece mesmo com as projeções de analistas de mercado de que o governo possa decidir alterar a meta para evitar cortes de gastos. Bijos também abordou a preocupação dos empresários com o equilíbrio fiscal, a regulamentação da reforma tributária e a redução da burocracia.
Ele disse esperar que o crescimento do PIB “fique acima das expectativas de mercado”. E falou também sobre a importância das reformas previstas pelo governo [tributária e administrativa], apontando possíveis dificuldades de votação devido às eleições municipais em outubro.
Paulo Bijos lembrou que a legislação que disciplina a prática orçamentária no Brasil data de 1964. Então, a falta de uma norma que trate a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) faz com que cada governo a desenvolva de forma experimental. “Assim, ela é interpretada de acordo com a abordagem. Isso sugere uma falta de padronização e uniformidade no processo de elaboração da LDO até o momento”.
Outro ponto levantado pelo secretário foi a necessidade de uma reforma orçamentária. E a ideia é que o assunto ganhe realce este ano: “Estamos discutindo com os ministros de Estado para desenvolver essa estratégia”. O secretário de Orçamento pontuou ainda que o Ministério do Planejamento está trabalhando para desenvolver um projeto de lei para pôr isso em prática. A previsão é que essa matéria fique pronta até 17 de março. A data reflete o aniversário da lei orçamentária e da Secretaria de Orçamento Federal.
Plano de Voo da Amcham Brasil
O relatório Plano de Voo pode ser acessado, na íntegra, no link ao lado: Amcham | Pesquisa Plano de Voo 2024
O objetivo do “Plano de Voo” é fornecer insights valiosos sobre os desafios, expectativas e oportunidades identificados pelos executivos. Realizado no início de cada ano, o estudo contribui para auxiliá-los no desenvolvimento de seus planos de ação.