Há cerca de três anos, quando o Banco Central do Brasil lançou o Pix, meio de pagamento instantâneo entre pessoas e empresas, por meio de chaves digitais previamente definidas, a inovação foi recebida com ceticismo. Hoje, o Pix é uma realidade que transformou completamente a relação dos brasileiros com dinheiro, pagamentos e transferências. Uma história que impressiona os bancos centrais e autoridades financeiras dos principais mercados do mundo muito impressionadas.
Por isso, não foi surpresa quando o Money 20/20 convidou Ricardo Teixeira Leite Mourão, head Departamental do Banco Central do Brasil, e Antonio Soares, CEO da unicórnio fintech Dock, para participar de uma conversa com Rachel Morrissey, do Money 20/20. A ideia era mostrar o alcance e os aprendizados do Pix e como a iniciativa acelerou a adoção de pagamentos digitais e a inclusão financeira, com uma adoção em massa de pagamentos em tempo real (RTP) ocorrendo de forma muito rápida.
O papel de Antonio Soares foi mostrar como a tecnologia pode criar mecanismos de democratização dos serviços financeiros. E a Dock, empresa que comanda, foi uma das protagonistas que viabilizou a adoção e implementação da ferramenta que hoje está em vias de lançamento e uso em outros dez países da América Latina. Ricardo Teixeira Leite, do nosso BC, por sua vez, destacou que a ideia que inspirou a iniciativa, era aumentar a competitividade do mercado, derrubando barreiras que mantinham os bancos tradicionais imunes à concorrência. Ele disse que o Banco Central tinha dados que mostravam um desejo da sociedade de ter mecanismos simples, instantâneos e efetivos de uso do dinheiro. E essas premissas foram a base da criação do Pix.
Agora, basicamente 90% dos brasileiros estão bancarizados, com chaves Pix e que fazem parte do mercado financeiro, em linha com a digitalização obtida a partir da universalização da mobilidade. Recordes sucessivos de movimentação são batidos dia após dia. São mais de 168 milhões de usuários regulares que fazem cerca de 200 milhões transações ao dia. Em um único dia, o Pix pode movimentar mais de R$ 100 bilhões.
Todo esse sucesso e essa adoção em massa redefiniram a experiência financeira do brasileiro. Mesmo que carteiras digitais se esmerassem em oferecer a melhor experiência possível, uma ferramenta como o Pix era essencial para estimular o acesso e a inclusão bancária. Enquanto para nós esse processo é hoje simples e parte do dia a dia, é curioso ver o interesse de cidadãos de outros países sobre como “funciona”, como as pessoas “usam” o Pix. Compreensível, na medida em que uma transferência no mercado americano, por exemplo, leva dias.
Antônio Soares observou que o alcance do Pix permitiu também que mais de 30 milhões de pequenos negócios reduzissem seus custos e pudessem ampliar negócios, tendo como recursos essenciais e ponto de partida o smartphone em suas mãos. Basta que o usuário, o cliente e o dono do Food Truck, a manicure ou a barraca da feira tenham uma carteira digital, um app de banco, um CPF ou número de celular para que a transação se efetive. Essa simplicidade causa espanto para a maioria das pessoas não familiarizadas com a lógica da transação.
Os aprendizados do PIX são valiosos para economias emergentes. Por isso, os países da America Latina procuram conhecer o Pix. Há muito interesse em digitalizar o uso do dinheiro estimular a criação de uma sociedade “cashless”, sem dinheiro físico. Isso porque pessoas digitalizadas são reconhecíveis e ganham mais visibilidade como cidadãos. A emergente cultura empreendedora que floresce no Brasil teve o Pix como indutor, o que faz dele também um valioso marcador social. Um dado que o Pix trouxe para a luz: mais de 30 milhões de portadores de celular não são empregados regulares, formais. Isso quer dizer que o Pix trouxe transparência para essa grande massa de trabalhadores que pode então receber escores e estimular o mercado a criar alternativas de crédito que vão além do cartão de crédito e seus juros estelares. Até mesmo ambulantes, pedintes e necessitados ganham uma presença cidadã a partir do momento em que podem ter uma chave Pix.
A outra fase do programa compreende mecanismos de educação financeira no país. A maior parte dos jovens brasileiros mal sabem como calcular juros e o que significa pagar a prazo. A partir do Pix, é possível ensinar o que significa manter dinheiro em conta, quanto se pode gastar e ainda como pessoas diferentes trocam informações umas com as outras sobre sua administração financeira.
A combinação com Open Finance e novos mecanismos de segurança irão provocar ainda mais impactos positivos na economia brasileira. Segundo Ricardo Teixeira Leite, o Pix confere poder de escolha e liberdade para o cidadão. Um processo que está só no começo. Cidadania como um todo passa necessariamente pela cidadania financeira.
Pelo visto, o mundo ainda vai manter sua curiosidade sobre o Pix por muito tempo.