A descoberta de uma cápsula do tempo recentemente, em Bay City, (EUA), reacendeu o interesse sobre o assunto. Neste caso, especificamente, a Cápsula da Paz John F. Kennedy foi fechada em 1965 e deveria ser aberta 100 anos depois. No entanto, os responsáveis pelo objeto resolveram abrir 50 anos antes e, para surpresa de muitos, o que restava dentro da cápsula era muita lama, com poucos objetos inteiros.
Para identificar o que está dentro da caixa, a Sociedade Histórica de Bay City vai trabalhar como se tudo fosse parte de um naufrágio. Afinal, seu conteúdo pode ser relevante para a história. Ou, pelo menos, para as famílias de quem colocou objetos lá dentro.
Mas, afinal, por que nos importamos em deixar pequenos objetos para os futuros habitantes do planeta? O que acontece quando uma cápsula é aberta? Quem abre uma cápsula do tempo? Estas e outras questões foram muito bem abordadas pelo colunista da Consumidor Moderno, Peter Kronstrøm, head do Copenhagen Institute for Futures Studies CIFS LatAm.
Pílulas sobre as cápsulas do tempo
Por Peter Kronstrøm
Todos vamos morrer. Talvez por essa razão, somos obcecados com a ideia de deixar algo para trás. Queremos ser lembrados. Deixar um legado. Construir um símbolo para o futuro ? ou simplesmente contar como o mundo era antes. Uma maneira de deixar para nossos descendentes uma ideia das nossas vidas e do nosso tempo é montar as chamadas ?cápsulas do tempo?.
Trata-se de um invólucro durável que documenta sua época original, basicamente por meio de objetos e relíquias materiais. A Sociedade Internacional de Cápsula do Tempo estima que existam cerca de 15 mil cápsulas do gênero no mundo, entre conhecidas e desconhecidas.
Uma delas é a Westington Time Capsule I, que, desde 1939 está enterrada a 15 metros do solo em um parque na cidade de Nova York. Além de conter vários objetos do dia a dia típicos da época, a cápsula vem com uma instrução que proíbe qualquer um de abri-la até 6939. Em uma tentativa para superar as barreiras de linguagem que, sem dúvida, virão ao longo de cinco mil anos, ela também contém um guia fonético para a língua inglesa, com ilustrações do significado de várias palavras.
No ano seguinte ao aterramento da Time Capsule I, outra cápsula com o sinistro nome de Crypt of Civilization (cripta da civilização), foi selada na Georgia, EUA. A Crypt, que é um tipo de mausoléu do mundo ocidental, foi fechada em 1940 com instruções para não ser reaberta até 8113. A mensagem para os futuros leitores: ?O mundo está devotado a manter nossa civilização para sempre e aqui nesta cripta a deixamos para você(s)?.
Bem mais otimistas em relação ao futuro próximo, são as cápsulas encontradas do outro lado da antiga Cortina de Ferro do século 20. Em 2012, uma cápsula de 1979 foi achada em Kamchatka, embaixo de uma estátua de Lênin. Ela trazia uma mensagem para uma futura sociedade socialista: ?Que vocês sejam mais bravos que nós, que suas músicas sejam mais felizes, seu amor mais caloroso, que vocês façam do mundo um lugar melhor em nome do comunismo?.
Mais do que qualquer coisa, nós não queremos ser esquecidos. Por esta razão, não apenas escondemos nossas coisas em casulos hermeticamente fechadas ou embaixo de estátuas ? nós também lançamos nosso genoma ao espaço.
No immortality drive, um microchip que fica na Estação Espacial Internacional, é possível encontrar a digitalização de genomas de vários americanos famosos, incluindo o físico Stephen Hawking e a playmate Jo Garcia, entre outros, incluindo esportistas famosos. A esperança é que o chip possa manter a informação genética por tempo o suficiente para possibilitar que visitantes futuros possam reviver uma humanidade (norte-americana) esquecida ou extinta.
É difícil dizer o quanto essas cápsulas valerão para nossos descendentes. A maioria delas está perdida ou esquecida, à medida que o interesse em seu conteúdo se esvai. A obsolescência tecnológica e a perda gradual de dados digitalizados e armazenados magneticamente tornam nossas relíquias fisicamente mais duráveis e resistentes à ação do tempo.
Mais do que tudo, as cápsulas nos dizem algo sobre nossas próprias esperanças ou expectativas para o futuro. Elas podem ser vistas como imagens do Zeitgeist* (espírito da época) e do que nós esperamos dos nossos descendentes ? representando um sentimento dramático ou otimista sobre o futuro.
Moral da história: viva bem, independentemente do tempo que seja destinado a você.
*Quer saber mais sobre Zeitgeist? Leia mais aqui.
Leia aqui a edição completa da CM 200.
Com informações de UOL