Como se engajar em um dos temas mais importantes para o Brasil, que é a educação pública? Foi com essa proposta que Jair Ribeiro, presidente da Associação Parceiros da Educação e sócio da Sertrading e Banco Indusval, começou seu painel no CONAREC. “Não sei se tem desafio maior do que a educação pública”, disse Ribeiro.
Logo no começo da palestra, ele propôs que as pessoas pensassem rapidamente como o lugar onde nascem impacta na dinâmica da sua vida. “É sobre isso que vamos falar”, disse.
Para isso, apresentou personagens reais, sendo que alguns tiveram os seus nomes alterados:
Rodrigo, que nasceu nos Jardins, bairro nobre de São Paulo, tem ascendência italiana e espanhola, estuda em colégio particular e viaja com frequência, além de ter um iPhone e jogar videogame. Nunca passou um dia sem uma refeição.
Wesley vem do bairro Lagoa da Paz, na zona sul da capital. Nunca viajou e nunca foi a um oculista. Aliás, na classe dele, 30% têm problema de visão e não sabem. Não tem pai e com 16 anos não sabe fazer uma regra de três.
Raab é de Pirituba e mora em Itapevi com a tia. Cursa o Ensino Médio em uma escola na Marginal Tietê, e leva mais de duas horas para chegar na escola estadual. Essa escola, chamada Alexandre Von Humboldt, no entanto, tem um índice educacional acima da média. Tem peças de teatro, aulas eletivas e 80% dos alunos entram em faculdade ou Fatec, que são as faculdades de tecnologia do Estado de São Paulo.
O Wesley não é exceção. A cada 100 pessoas que se formam no Ensino Médio, somente sete sabem fazer regra de três. Quantos têm as habilidades soci0emocionais para entrar no mercado de trabalho? Somente 4% têm as competências necessárias para o século 21. “Mostro isso para causar indignação e a sociedade se mobilizar”, disse Ribeiro. Entre 180 formandos do ensino público, somente 5 entram na faculdade.
Alguns números do cenário do ensino público em São Paulo:
5,1 mil escolas ligadas à Secretaria Estadual de Educação, com 190 mil professores e 3,4 milhões de alunos.
“Desafio enorme gerenciar uma organização desse tamanho, por isso a sociedade precisa se envolver”
Modelo
A escola da Raab, também pública, é um modelo a ser seguido. Tem ensino em período integral e é apoiada pela Parceiros da Educação. “É uma organização da sociedade civil presente na escola que faz a diferença.”
Com 15 anos de vida, a Parceiros da Educação atua em mais de 200 escolas e quer sensibilizar a sociedade para abraçar a causa da educação pública. Eles acreditam que podem gerar um impacto positivo. “Conseguimos melhorar o índice educacional das escolas em 35%”, afirma Ribeiro, convidando as empresas a adotarem escolas junto com a Parceiros da Educação. O investimento, segundo ele, é de R$ 12 mil a R$ 15 mil por mês.
Transformação
“Não criamos escolas novas.Com esse dinheiro da sociedade civil transformamos as que já existem”, conclui, anunciando um novo formato de parceria em que é possível apoiar a causa investindo a partir de R$ 5 mil por mês.
“Esses recursos serão usados para pequenas reformas, apoio aos professores, laboratório de informática e compra de livros”, explica Ribeiro. Com isso, a ONG quer chegar a mais de 600 escolas parceiras, impactando mais de 600 mil crianças e adolescentes.
Por fim, Luiz Fernando Figueiredo, CEO da Mauá Capital, subiu ao palco e fez um alerta. “Está na hora de a gente, como sociedade civil, fazer algo pela educação pública.”