Em seu romance de 1961, Powrót z Gwiazd (“O Retorno das Estrelas”), o escritor de ficção científica polonês Stanislaw Lem antecipou o e-book reader quase como o conhecemos hoje: “Os livros eram cristais com conteúdos gravados. Eles poderiam ser lidos com o auxílio de um dispositivo, similar a um livro, mas com apenas uma página entre as capas. Com um toque, várias páginas apareceriam nele”. Esse é apenas um exemplo de tecnologia moderna descrita na ficção científica do século 20. Para citar mais alguns exemplos, Isaac Asimov descreve speech-to-text na “Segunda Fundação”, de 1954, e Arthur C. Clarke tem uma descrição detalhada de um tablet conectado à internet, em “Terra Imperial”, de 1975.
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Eu deliberadamente usei a palavra antecipou na primeira sentença, ao invés de previu. Os exemplos não são casos de previsões “sobre como o futuro será”, mas eram especulações do que o futuro poderia ser. Quando as tecnologias descritas pelos autores se tornaram realidade, também pode ter sido porque inventores do futuro foram inspirados pelas ideias dos escritores, as quais, portanto, plantaram as sementes para a tecnologia moderna – ou, pelo menos, algumas delas.
Há, no entanto, uma terceira possibilidade: os escritores não previram o futuro, os inventores não foram inspirados pelos escritores e nós só destacamos as antecipações das tecnologias modernas porque elas de fato se tornaram realidade – ao contrário de muitas outras tecnologias da ficção científica que não se tornaram reais (ou, pelo menos, não até agora). Se esse é o caso, alguém poderia argumentar que a ficção científica não tem valor quando tenta antecipar o futuro, mas eu não irei tão longe. A ficção científica – pelo menos a boa ficção científica – nunca foi sobre avanços tecnológicos simplesmente, mas sobre como os avanços tecnológicos podem mudar nossas condições de vida para o bem ou para o mal.
A tecnologia de vigilância de George Orwell no livro 1984 não é realista, mas isso não torna sua descrição de uma sociedade sob vigilância menos relevante hoje. Se nós nunca tivermos pensamentos sobre o futuro, corremos o risco de que eles nunca se tornem realidade – ou que venham realmente a se tornar parte da vida. Isso parte decisiva das atribuições dos estudos do futuro.