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O setor de pagamentos no varejo vai mudar

O setor de pagamentos no varejo vai mudar

Estudo da Bain & Company revela que no Brasil mais de 80% do pool da receita atual do setor de pagamentos no varejo corre o risco de mudança de propriedade; entenda as causas e os efeitos

O setor de pagamentos no varejo é uma indústria rica e promissora, com receita global estimada em US$ 356 bilhões e crescimento anual projetado de 6% nos próximos 5 anos, de acordo com a Bain & Company. A projeção de crescimento não é apenas para pagamentos alternativos, como carteiras digitais e métodos conta-a-conta – inclui meios tradicionais, como cartões de crédito e débito.

Em muitos países, os consumidores continuam a substituir o dinheiro por outros métodos, ao passo que nos principais mercados em desenvolvimento, como Brasil e Índia, o uso de cartões está se ampliando, mesmo com a introdução da infraestrutura de pagamentos conta-a-conta em tempo real pelos bancos centrais.

Por aqui, a previsão é que a receita desse mercado tenha um crescimento de 9% nos próximos cinco anos. Uma característica do mercado brasileiro é que tanto consumidores quanto empresas atravessam mudanças no comportamento de compra, com ampliação dos pagamentos digitais. Em seu relatório, a Bain prevê que mais de 80% do pool da receita atual no Brasil corre o risco de mudança de propriedade, ocasionado pela evolução dos hábitos de compra e a maturação das plataformas digitais como players de pagamento relevantes para os clientes.

Na próxima década, é possível que as principais empresas de tecnologia e softwar
tenham uma participação significativa no volume e nas receitas de pagamentos em muitos mercados

Isso porque, por trás da tendência geral de crescimento, a concorrência tem se intensificado nas contas de varejistas e consumidores. Na próxima década, é possível que as principais empresas de tecnologia e software tenham uma participação significativa no volume e nas receitas de pagamentos em muitos mercados. No mercado global, uma estimativa da Bain aponta que até 90% da receita atual de pagamentos corre o risco de mudar de propriedade. Para resistir aos insurgentes inovadores e permanecer relevantes para os clientes, os bancos, o sistema de processamento e os emissores de cartões serão forçados a revisar boa parte de sua estratégia, programas de marketing e vendas, parcerias e tecnologias.

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Software e pagamentos: melhor juntos

O impulso do financiamento incorporado ao varejo demonstra o valor de uma proposta de software e pagamentos “melhor juntos”. A Bain calcula que as receitas de pagamentos nos Estados Unidos, que passam por fornecedores independentes de software (ISVs), como Lightspeed e Toast, vão crescer 66%, alcançando US$ 17 bilhões até 2026. O lançamento de ofertas de ISV será mais lento no Reino Unido e na União Europeia devido à natureza fragmentada de idiomas no mercado europeu.

Grandes companhias de tecnologia também criaram empresas de pagamentos com enorme lucratividade, redução de preços para comerciantes e com posições de carteira eletrônica que ajudam a controlar seu relacionamento com o cliente. Algumas, como Apple e Google, usam agora métodos de pagamento proprietários com bons resultados.

O Apple Pay, por exemplo, ocupa o segundo lugar no Net Promoter Score (NPS) entre as carteiras digitais, atrás apenas do PayPal. Quase metade dos usuários do Apple Card com idade entre 18 e 34 anos o consideram seu principal cartão de crédito, segundo uma pesquisa da plataforma NPS Prism, da Bain.

No entanto, mesmo essas potências de tecnologia enfrentam desafios, pois os governos têm ampliado a regulamentação do setor, retardando a expansão dessas empresas. A Meta, controladora do Facebook e do Instagram, há anos tem investido agressivamente em meios de pagamento, incluindo o esforço para permitir transações por meio de sua plataforma WhatsApp no Brasil e na Índia. No entanto, a demora na aprovação e as restrições de implementação paralisadas prejudicaram a entrada do WhatsApp Pay no mercado indiano.

Conta-a-conta veio para ficar

Os bancos centrais e as agências reguladoras continuam a promover o desenvolvimento da infraestrutura de pagamentos para possibilitar uma alternativa viável aos cartões e acelerar a substituição do dinheiro em espécie. O governo da Índia, por exemplo, lançou a Interface Unificada de Pagamento (UPI) em 2016, e seus aprimoramentos contínuos ajudaram o crescimento constante de valores, principalmente com transações ponto a ponto (P2P) e de pequeno valor. O PIX no Brasil seguiu uma trajetória semelhante, formando a espinha dorsal de novos produtos de pagamento e facilitando a substituição do dinheiro por transações eletrônicas.

A previsão é de que o volume de pagamentos tenha uma taxa de crescimento anual de aproximadamente 8% até 2026 no Brasil. Se considerarmos apenas o PIX, no mesmo período, o índice chega a 32%. Esse meio de pagamento vem substituindo outros métodos, principalmente o dinheiro, de forma muito rápida. A adoção do PIX é tão massiva (já alcança cerca de 80% da população adulta brasileira) que cerca de 84% dos donos de comércio no país já aceitam essa opção.

Uma grande variação no uso do cartão por país

Os cartões continuarão como o maior pool de receita de pagamento nos próximos anos, mas seu crescimento vai diminuir. A Bain prevê que o volume global de pagamentos com cartão deve crescer cerca de 6% ao ano até 2026 – abaixo dos 7% de crescimento anual observado desde 2018 e inferior ao crescimento anual de 8% projetado para transações conta-a-conta.

Além disso, a Bain aponta que o volume de cartões deve apresentar trajetórias variadas em cada mercado, conforme a seguir:

• Mercados com muitos cartões e alto intercâmbio: o alto custo dos cartões nos Estados Unidos, por exemplo, deve impulsionar o crescimento de pagamentos alternativos, fazendo com que o crescimento dos cartões desacelere. A Bain prevê que, em 2029, os cartões dos EUA alcancem apenas 80% dos valores de transação atuais, dependendo da velocidade de adoção de pagamentos alternativos;

• Mercados com muitos cartões e pouco intercâmbio: no Reino Unido, França, Alemanha, Austrália e vários outros mercados, o dinheiro em espécie foi quase que completamente abandonado. O custo da aceitação do cartão é baixo, portanto, os incentivos para mudar para pagamentos eletrônicos alternativos são mais fracos, fazendo com que os cartões mantenham sua participação; significativo dos pagamentos eletrônicos, com transações conta-a-conta mais fortes e a possibilidade de alcançarem uma participação maior do que a dos cartões. Especialmente no Brasil, a expectativa é de que os cartões continuem com amplo share de mercado, com a possibilidade

• Mercados de deslocamento de caixa: na Índia e no Brasil, espera-se um crescimento de crescimento de 13% nos próximos cinco anos.

• Carteiras digitais mais fortes: a China é um exemplo de mercado onde o crescimento de cartões deve se manter por meio de carteiras digitais, bem como transações de cartão independentes.

À medida que o dinheiro em espécie cai em desuso, aumenta a receita por meio de maior penetração do cartão. Porém, a disseminação dos pagamentos digitais conta-a-conta vai limitar o crescimento dos cartões no longo prazo. O desafio das operadoras de cartão, portanto, será desenvolver e expandir serviços para além do simples processamento de transações e se tornar independente do tipo de pagamento.



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