O economista Schumpeter chamava de destruição criativa o incessante processo de inovação no qual novos produtos destroem velhos modelos de negócio. Foi com este pensamento que Eduardo Terra, vice-presidente do Ibevar, iniciou sua palestra do Pós-NRF, realizada pelo Grupo Ibevar Novarejo em São Paulo. O evento trouxe um panorama do internacional Big Show da National Retail Federation (NRF), que aconteceu em Nova York.
?Vivemos a era da mudança constante, e da adaptação constante. Os consumidores mudaram, os canais também?, comentou. A seguir os oito conceitos que tiveram destaque durante o Big Show do NRF, na visão do representante do Ibevar:
1 ? Varejo global ? Todos os anos a NRF solta um ranking das 250 maiores varejistas globais. Em 2013, 15 delas tinham presença no Brasil; já em 2014, são 22. ?O aumento da globalização é claro e vai se acentuar a cada ranking?, acrescenta. Para ter sucesso, entretanto, a empresa varejista precisa de diferenciação, como marca ou produto exclusivo. Para cruzar a fronteira, o que sua empresa tem além de sortimento e escala?
2- Novos modelos de engajamento ? Se antes muito se falava de modelos transacionais (como soma de pontos) para incentivar a compra ou visita, o mote agora é mais emocional. É o engajamento a partir de motivos emocionais que mobilizam funcionários e clientes. Como o exemplo da Toms Shoes, que doa um par de alpargatas a pessoas necessitadas a cada par vendido, ou da Apple que tem atrás de si uma horda de seguidores que não participam de nenhum programa de pontos mas estão sempre nas lojas. Do Brasil, Terra citou o exemplo da Chilli Beans para exemplificar o engajamento emocional: há sintonia entre vendedores, marca e consumidores.
3 ? Repense ? O varejo está em constate estado ?Beta?, ou em fase de teste. ?O mercado dita a velocidade: teste, repense e inove agora?, disse argumentando que hoje não há mais tempo para ?lojas teste?. Assim que o teste acaba, tudo já mudou. A Best Buy é exemplo desse mote ?repense?. Se antes estava perdendo muita venda por conta do fenômeno de showrooming (o consumidor visualizava e tocava na loja mas comprava online), conseguiu vislumbrar uma maneira de dar a volta por cima. Vem alugando espaços de loja para fabricantes exporem seus produtos. A Samsung, por exemplo, financia os espaços para expor seus lançamentos e tirar dúvidas. ?A Best Buy entendeu que era um showroom para muitos consumidores. Assumiu isso e resolveu tirar proveito?.
4 ? Convergência e gestão 360 graus do consumidor ? Este ano se falou bem menos de omnicanal. O ponto de atenção se virou para ?fazer? o varejo omnicanal dar certo, integrar os canais e mais ainda, respeitar as características de cada um deles para tirar o melhor proveito. Terra deu como exemplos a Amazon e o canal de humor do You Tube ?Porta dos Fundos?. ?Se não fosse na internet não teria dado certo. Cada canal possui sua especificidade?, e acrescentou: ?Se quer ser omnicanal, faça direito em cada canal?, disse.
5 ? Curadoria ? É papel do varejo fazer uma seleção apurada do que seu consumidor gosta. Os dados estão aí para isso, afinal. Quais produtos ofertar no tabloide?, Quais expor na vitrine? E na prateleira? As marcas precisam pensar mais no cliente e apostar em processos de curadoria para ajustar o sortimento e dar menos trabalho de escolha ao consumidor.
6 ? Customização ? Essa tendência parece estar longe de morrer. Durante o NRF alguns cases trataram desse conceito e talvez o mais emblemáticos tenha sido da empresa alemã MyMuesli, que vende cereal pela internet, dando a opção ao consumidor de personalizar sua combinação entre castanhas, grãos, frutas secas etc. É possível, inclusive, escolher a quantidade (unidades) de uvas passas que se quer no pacote (!). A empresa tem assinatura e os usuários recebem seus cereais nos dias programados; ela tem crescido tanto que agora possui lojas físicas e pontos em supermercado.
7 ? Tecnologia ? O varejo está cada vez mais guiado por dados. Tudo começa na informação. ?O empirismo já era?, assegurou. Cases pipocam pelo mundo de tecnologias que antes só ouvíamos falar, como os projetos já em ação da Marks & Spencer, American Apparel e Macys usando etiquetas RFID.
8 ? Bundling ? Este conceito de marketing significa a venda de itens complementares, como os packs promocionais e combos (tenha como exemplo a batata-frita do Mc Donals, será que seriam tão vendidas se não viessem no combo?). Em suas visitas pelas lojas nova-iorquinas, Terra pode comprovar in locco como esta técnica está em alta. ?Muitos produtos eram ofertados em packs promocionais. Numa loja de eletrônicos vi, inclusive, uma oferta que unia quatro ou cinco produtos num combo, como TV, aparelho e som etc, por um preço único?. A estratégia, segundo o professor, é certeira para aumentar ticket médio.