O fim do mundo é um tema que, volta e meia, retorna ao centro das atenções. Seja games ou filmes catastróficos ou mesmo em anúncios de videntes, que preveem uma nova data para o fim da civilização, o assunto faz muita gente parar pra pensar. E uma pergunta é inevitável nessa hora: o que as pessoas fariam se soubessem que o mundo vai acabar em poucos dias?
Pois aparentemente o que acontece é que, diante da possibilidade de um fim trágico para a humanidade, causado, por exemplo, por um asteroide errante ou por uma guerra nuclear, as pessoas se tornam justamente mais humanas. Um grupo de pesquisadores publicou recentemente os resultados da análise do comportamento dos jogadores de uma versão beta do ArcheAge, jogo de MMORPG (sigla em inglês que significa “Massively Multiplayer Online Role-Playing Game”, designando games para uma grande quantidade de usuários, que utilizam muitos dos elementos existentes nos jogos de interpretação de papéis, os famosos RPGs) da sul-coreana XL Games. A análise está no trabalho “Eu não plantaria macieiras, se o mundo vai se acabar”. VEJA AQUI.
O ArcheAge é um jogo bem realista, onde as pessoas têm bastante liberdade para explorar o mundo virtual, ao invés de terem que seguir uma lógica linear de um jogo comum. No ArchAge, dá para construir casas, trabalhar, ganhar (e gastar) dinheiro. E também dá para “matar” outras pessoas. E, no meio disso, o jogador vai avançando de nível.
Quem estava participando desta versão beta sabia que o seu perfil e progresso seria deletado no fim do teste. Ou seja, seria o fim do mundo virtual. O que os pesquisadores fizeram, então, foi analisar cerca de 270 milhões de gravações de dados anônimos. E o que eles descobriram é que, perto do fim, embora alguns jogadores tenham se tornado verdadeiros assassinos, a maioria deles se tornou mais social.
“Eles falavam mais, interagiam com os outros”, explicou Jeremy Blackburn, pesquisador da Telefônica Research (empresa espanhola de pesquisa de tecnologia do Grupo Telefónica) ao site New Scientist. Ele ainda revelou que as pessoas pararam de perseguir s objetivos do jogo. “Elas pararam de se preocupar com o futuro”, disse o pesquisador. No trabalho, os pesquisadores escreveram ainda que “os jogadores que ficaram até o fim do jogo desenvolveram novas relações sociais”.
O New Scientist ouviu ainda o pesquisador Dmitri Williams, da Universidade do Sul da Califórnia, em Los Angeles, que estuda os efeitos de vídeo games. Para ele, as descobertas fazem sentido. “Há uma grande diferença entre plantar uma árvore quando você sabe que vai morrer, mas seus filhos irão aproveitar seus frutos, e quando você sabe que não irá existir mais árvore nenhuma para ninguém”, afirmou Williams ao site de notícias.
Ele alerta, no entanto, que a análise em um mundo virtual é limitada, já que é apenas uma cópia da realidade. Ele cita como exemplo um vírus introduzido no jogo World of Warcraft, que os jogadores espalharam propositalmente infectando uns aos outros, coisa que não é comum na vida real. Ainda assim, é um campo que pode oferecer dados interessantes para os pesquisadores, especialmente quando o assunto é o fim do mundo.