Ao longo dos últimos anos, começaram a pulular com mais frequência, uma série de atitudes e práticas desabonadoras a respeito do Facebook. Quinze anos depois da saga que levou o garoto de Harvard a construir a maior ditadura de abnegados de toda a história, os efeitos colaterais da rede social tornam-se mais palpáveis e começam a ser discutidos pela sociedade.
Não poderia deixar de ser diferente aqui em Austin, durante o SXSW. Quem falou sobre o assunto foi ninguém menos do que Roger McNamee, mentor do próprio Mark Zuckerberg e autor do recém lançado-livro Zucked. A empresa que queria unir e conectar o mundo numa rede aberta e democrática é motivo também de amplas críticas por falta de padrões éticos e morais em sua conduta social e até por debilitar e minar a própria democracia americana.
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Num debate altamente concorrido, ao lado de Nicholas Thompson, editor da Wired, McNamee expôs a sua indignação e desafiou os milhares de participantes a entender a dinâmica nos bastidores da rede do Mark. Toda essa dinâmica atual de rastrear pessoas e tudo o que cada qual faz, fotografa, filma e dissemina não apresenta nenhuma lógica ou fundamento para a sociedade. Qual é a utilidade real disso para as gerações?
No fundo, o Facebook é um gigantesco database de gente. Já é mais do que oportuno, conduzir uma auditoria independente na gestão dos dados que a empresa utiliza e seu tratamento. Até para dar uma satisfação a todos os usuários, vilipendiados constantemente em sua privacidade. Todos estão cansados dos constantes pedidos de desculpas do Mark.
Quando se mexe com dados privados de pessoas, mexemos com credibilidade, reputação e transparência. Premissas não observadas pelos gestores da rede. Afinal, justamente os dados dos clientes são o combustível para os negócios deles. E os indefesos “clientes” são também as próprias vítimas. Pessoalmente, Mark nunca acreditou em privacidade de dados e sim, em tirar proveito deles. Ao contrário, patrocinou e estimulou a vigilância invasiva, o compartilhamento desmesurado de dados e promoveu uma gigantesca transformação no comportamento das pessoas.
McNamee, embora ainda tenha ações do Facebook, reitera que a rede tem que mudar, ou então ser mudada. A democracia, como tal, vem sendo minada pelas escolhas e design de negócios projetados, de forma inconsequente, pelas grandes plataformas tecnológicas, que não assumem a sua responsabilidade pelas consequências de seus atos e efeitos colaterais na sociedade. Bem ao contrário, do que qualquer outra indústria, em qualquer outro segmento.
O Facebook nunca foi um fórum aberto. Hoje se tornou a maior fonte de notícias reais ou fake nos países desenvolvidos. Na essência, trata-se de um negócio de maximização de lucros, controlado por uma só pessoa. Para se ter uma vaga noção e consciência da influência da rede nas sociedades, basta entender o peso da regulação em cada ser humano. Todos somos regulados em todos os atos e atitudes que tomamos. Quem regula o Facebook e sua rede maior que as populações de China e EUA juntos? Chega de ser um sapo conduzido pela correnteza do rio!
Recado dado. Esperamos que seja assimilado pela maioria dos presentes, haja vista os aplausos efusivos que recebeu.