O objetivo de grande parte das pessoas é viver sem dívidas. Assim, muitos me procuram com o objetivo de eliminar qualquer forma desse problema. Sempre quando isso ocorre explico que, antes de eliminar as dívidas várias questões devem ser levadas em conta. Equilibrar ganhos e gastos para honrar compromissos financeiros, realizar sonhos e planejar um futuro seguro e que isso requer aprendizado, disciplina e uma atitude diferenciada na relação com o dinheiro.
Mas o que mais espanta as pessoas é quando afirmo que existem dívidas que não devem ser eliminadas completamente, que chamo de Dívidas de Valor. Assim, é preciso diferenciar Dívida de Valor e Dívida Sem Valor. A primeira é aquela que se contrai porque há o desejo de ampliar o patrimônio, diferentemente da segunda, que não agrega nenhum valor à vida das pessoas e pouco a pouco vai minando a saúde financeira.
Pensar sobre isso antes de consumir faz grande diferença no saldo bancário e na satisfação pessoal ao longo da vida. É fundamental abordar esses dois lados da moeda do endividamento, apontando caminhos para as pessoas se livrarem das dívidas que não auxiliam para o futuro e para aprenderem a administrar as dívidas de valor.
Um erro muito comum: pessoas que financiaram uma casa e, quando sobra um pouco de dinheiro, correm para pagar uma futura prestação e mais as últimas prestações, afirmando que estão eliminando esse problema. Isso não é o que efetivamente ocorre, pois essas pessoas não pensaram em outros sonhos e muito menos em imprevistos. Assim, se nos próximos meses ela não tiver dinheiro para pagar a prestação, poderá se tornar inadimplente.
Nesses casos, o ideal é, se está tendo condições de pagar as prestações e houver sobra, estabelecer uma reserva para garantir o futuro e principalmente que passe a poupar para outros sonhos.
Mas, voltando a questão de dívidas de valor, é importante ter em mente que por mais que valor seja subjetivo, estabeleço uma concepção embasada em pesquisas que o brasileiro dá valor muito grande para itens como casa própria, automóvel ou educação. Esses estão entre os principais sonhos de consumo da população e agregam realmente algum tipo de valor à qualidade de vida.
Assim, esses podem ser entendidos como alguns dos endividamentos de valor em nossa cultura. Mesmo assim, é imprescindível muito cuidado antes de adquirir essa forma de endividamento, pois ele deve estar dentro da realidade da pessoa e também deve ser muito bem planejado, o que vejo muitas vezes são consumidores que no objetivo de realizar esses sonhos entram em linhas de financiamento inviáveis para eles.
Isso faz com que rapidamente essa dívida de valor vire um pesadelo e que se torne inadimplente ou que tenha que devolver o bem adquirido. Enfim, a dívida só será realmente de valor se essa for realizada dentro de um planejamento de forma sustentável, tendo como certo a condição de pagar e não fazendo disso uma problema que impeça de realizar outros sonhos.
Muito se fala em sustentabilidade, consumo consciente, responsabilidade social. Embora venha sendo atribuído a esses conceitos uma dimensão muito mais complexa, na essência eles estão imbuídos do sentido de cuidar para assegurar uma condição melhor para se viver. Então, é importante aprender a administrarem seus próprios recursos, tomando consciência de que é necessário cuidar bem do que se tem para viver melhor agora e no futuro.
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Reinaldo Domingos é educador e terapeuta financeiro, presidente da DSOP Educação Financeira, Abefin e Editora DSOP, autor do best-seller Terapia Financeira, dos lançamentos Papo Empreendedor e Sabedoria Financeira, entre outras obras.