Em 8 de março 1857, mulheres empregadas de uma indústria têxtil em Nova York, iniciaram uma greve para reivindicar melhores condições de trabalho, como redução de carga horária, equiparação salarial com os homens e tratamento digno no trabalho.
Alguma semelhança com a atualidade?
Pois é…
Há quase 157 anos estas mulheres foram presas dentro da indústria e morreram carbonizadas. Em 1975, a data foi oficializada pela ONU como Dia Internacional da Mulher, uma forma de homenageá-las pela força e coragem na luta por seus direitos.
É fato que estas mulheres, assim como tantas outras ao longo da história, foram ícones de uma transformação social importantíssima para que estivéssemos hoje ocupando espaços até então propostos apenas para os homens. Mas é fato também que depois de um século e meio ainda lutamos por melhores condições de trabalho, por jornadas menos extenuantes, por equiparação salarial com os homens e por um tratamento digno, que não diz respeito apenas à cordialidade e educação nas relações interpessoais, mas à possibilidade de conciliar os múltiplos papéis femininos sem sentir-se em dívida diante das exigências cada vez maiores no mundo do trabalho.
A partir de 1965 as mulheres, que precisavam da autorização dos maridos para trabalhar fora de casa, passaram a fazê-lo sem mais precisar de consentimento (pelo menos não oficialmente) .
A promessa nossa de cada dia
Mas o que significava poder escolher trabalhar fora, ter outra atividade que não o cuidado com a casa, com os filhos e com o marido?
Como acrescentar à rotina diária mais um afazer? Como administrar mais tarefas diante de tantas já existentes que tomavam todo o tempo das mulheres? Que negociações foram feitas para convencer os homens, provavelmente em sua maioria, maridos, de que a busca pela carreira era possível?
Fizemos promessas. Ah… As promessas.
Nos comprometemos a investir em nossa carreira sem prejuízo às responsabilidades domésticas. Prometemos que mesmo trabalhando fora eles nem perceberiam a nossa ausência, pois daríamos conta de deixar a casa e os filhos muito bem amparados. Prometemos que daríamos conta (e não por acaso escolho escrever daqui para frente em terceira pessoa do plural. Talvez seja esta minha homenagem a todas as mulheres que de alguma forma contribuíram para que pudéssemos viver e contar esta história feminina que nos constitui).
Contraímos uma dívida “impagável”?
Talvez tenhamos esquecido uma conta matemática elementar, afinal estávamos acrescentando às 16 horas de vigília previstas mais uma atividade que tomaria pelo menos metade delas.
Mas as promessas não se restringiram ao ambiente familiar. Elas foram estendidas aos “patrões”.
Em casa prometemos que a família não perceberia nossa ausência, que deixaríamos tudo em ordem apesar do trabalho. Na empresa, prometemos que apesar de mulheres, responsáveis pelo cuidado com a casa e com a família, não deixaríamos que a vida familiar interferisse em nosso desempenho.
Passamos a ter que lutar fora e dentro de casa.
Fora de casa, tínhamos que lutar pelo direito ao trabalho e provar nossa competência para fazê-lo. Dentro de casa, tínhamos que cumprir nossa primeira promessa, sem prejuízo à harmonia familiar.
Tivemos que bancar nossas promessas por muito tempo, arcando com os ônus, nos dando conta ao longo do tempo, que talvez elas representassem uma batalha com consequências tão impactantes quanto às das mulheres de Nova York em 1857.
Estamos administrando ainda hoje os reflexos de tudo isso. Já temos mais possibilidade de dividir uma parte das tarefas domésticas, não precisamos esconder que somos mulheres e que temos família e que as noites mal dormidas por conta da doença de um filho podem sim alterar nossa performance, mas ainda temos longo caminho de conquista para ver reconhecidas as vicissitudes da vida feminina.
Inspiradas por todas as experiências já vividas por tantas mulheres, conhecidas ou anônimas, escrevemos diariamente nossa parte da história.
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