A 4ª edição do Modacamp discutiu as práticas vanguardistas dos negócios nesse segmento nesta quarta e quinta (3 e 4) em São Paulo, promovido pelo Instituto Europeu de Design (IED). Como em quase todos os setores, a preocupação com o meio ambiente é emergencial no mundo da moda e foi discutido em um dos últimos painéis do evento, que teve o upcycling como um dos temas centrais.
O upcycling é um tipo de reciclagem de materiais que seriam jogados fora, só que com um conceito de moda. É pegar um produto que sobra da indústria têxtil ou de uma loja de confecção (uma camisa masculina, por exemplo) e produzir uma nova peça integralmente: um vestido curto, por exemplo.
A uruguaia Agustina Comas já foi estilista da Daslu Homem e hoje trabalha com o upcycling, em um projeto próprio: Para demonstrar a importância e como essa prática evoluiu com o passar do tempo, Agustina trouxe números atualizados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de confecção (Abit). O Brasil produz por ano 9,8 bilhões de peças, das quais 5% são exportadas (490 milhões).
Dos 9,31 bilhões de roupas que restam para consumo interno, 70% são vendidas no varejo em coleções projetadas, 23% são vendidas nas liquidações e os 7%, correspondente a 651,7 milhões de unidades, realmente sobram nos estoques e galpões de lojas e indústrias.
Este é o material de trabalho de Agustina, reinventar o processo de fazer roupas. ?Quando nós transformamos a peça, não desmanchamos simplesmente e sim adaptamos o tecido, o aviamento e a costura para a nova roupa. A ideia é conservar toda a energia dispensada para a produção da primeira peça?, comenta.
Bem respirado
O IED trouxe no mesmo painel a consultora espanhola Elena Salcedo, que reafirmou a necessidade de se aumentar a vida útil das peças de roupa. Elena lançou seu livro ?Moda Ética para um futuro sustentável? e falou da ?pegada ecológica?, indicador criado para avaliar o impacto que a vida na Terra produz sobre o Planeta e compará-lo à capacidade ecológica da Terra para repor esses recursos.
Em 2008, a pegada ecológica da humanidade superou a biocapacidade da Terra em mais de 50%, ou seja, o planeta precisa de um ano e meio para repor os recursos renováveis utilizados pelas pessoas e absorver o gás carbônico produzido em um ano. Ao final da palestra, Elena citou uma frase representativa nesse tempo de consumo desenfreado: “O produto mais sustentável é aquele que já existe” e emendou a que usa como lema de vida, criada por Jorge Cardozo: ?O futuro é um presente bem respirado?.
Bolsas fashionsustentáveis
A empreendedora Fernanda Cannalonga também participou do painel e partilhou sua experiência com a marca de bolsas e acessórios, que trabalha a partir de três pontos: design atemporal ? que perdure e resista à troca de estação ?, trabalho justo e utilização de matéria prima brasileira produzida de forma ecológica.
?Eu não poderia dizer para uma executiva de uma multinacional que ela só poderia usar bolsa feita de lona. Eu teria que inserir uma alternativa sustentável em seu cotidiano de uma maneira sutil, mas que fosse um item sofisticado o suficiente para não agredir seu lifestyle?, explica Fernanda.
O professor e pesquisador do IED, Christian Ullmann mediou o debate e destacou quão difícil é para a nova geração entender que a roupa não custa apenas o que está na etiqueta e sim tudo o que foi dispensado em seu processo de produção.
?Na recente crise da Europa, por exemplo, o cidadão se viu com menos dinheiro para investir em roupas e abraçou as lojas de fast fashion, que oferecem uma camiseta nova por apenas 6 euros. Então o jovem europeu fica entre a escolha de comprar um café e um pão de queijo ou uma roupa nova para sair com o amigo. Não é nada sustentável?, disse.
O produto mais sustentável é aquele que já existe
No Brasil, sobram anualmente nos galpões das lojas 651 milhões de peças de roupa
- Redação
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