Você se julga homofóbico? Imagino que, ao se deparar com essa pergunta, seja muito difícil alguém aceitar que sim. No entanto, e as suas ações? O que dizem sobre o assunto? O tema é polêmico e, junto com racismo e feminismo, ocupa as redes sociais e manchetes de muitos jornais, já que, infelizmente, são diversos casos de violência por causa de homofobia, racismo ou machismo diariamente nas manchetes.
Para se ter uma ideia, de acordo com o Relatório de Violência Homofóbica, publicado em fevereiro deste ano, ao menos cinco casos de violência homofóbica são registrados todos os dias no Brasil. Pela relevância do assunto, o Opinion Box (plataforma de pesquisa) e a Hekima (empresa de análise de dados) resolveram trabalhar juntas em uma pesquisa sobre “Homofobia” para entender o comportamento das pessoas em relação ao assunto.
Em resumo, o Opinion Box entrevistou 1.433 brasileiros (ver final do infográfico) e a Hekima analisou 53.099 posts que faziam menção a termos como: homofobia, homofóbico, lesbofobia, lesbofóbico, lgbtfobia, lgbtfóbico, transfobia e transfóbico, além de homossexualidade, homossexualismo, homoafetivos, homoafetividade e homossexual. Termos como bicha, sapatão, gay e outros com conotação negativa não foram considerados na coleta de dados em redes sociais. A ideia era mostrar se as pessoas realmente “fazem o que dizem”.
E o resultado foi que o dito popular “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” realmente parece fazer sentido. Ao analisar os dados da pesquisa em conjunto com os dados do monitoramento das redes sociais, fica claro como as pessoas não percebem seu comportamento homofóbico na totalidade. Na pesquisa, 14% das pessoas afirmam ser homofóbicas ou extremamente homofóbicas. No entanto, ao analisar os posts em redes sociais que utilizaram as palavras monitoradas, 49% desses são homofóbicos.
Outro dado importante: entre os entrevistados, 70% não se consideram homofóbicos, mas 70% consideram o Brasil um país homofóbico. Isso significa que grande parte dos participantes do estudo aponta outras pessoas como parte da questão, mas não se incluem nela. “Nosso entendimento é de que parte desses 70% não percebem que suas atitudes e comentários são homofóbicos porque não compreendem o conceito de homofobia, ou seja, que qualquer tipo de discriminação é considerado homofobia”, avalia Felipe Schepers, COO do Opinion Box.
“Embora as discussões sobre homofobia não sejam novidade, tentamos decifrar a opinião das pessoas sobre o assunto ‘ouvindo’ um dos meios mais relevantes para dar voz a elas atualmente: as redes sociais. Nos surpreendemos com os dados que essas redes nos mostraram.Em geral, utilizamos ferramentas de coleta e análise de dados para inteligência de negócio. Contudo, essas ferramentas também podem e devem ser levadas ao âmbito social, e suas aplicações utilizadas para compreender o discurso coletivo acerca de diferentes temas “, afirma Luiz Temponi, co-fundador da Hekima.
Na opinião dos especialistas das duas empresas, quando as pessoas são colocadas diante de alguma situação que as tira da zona de conforto, o comportamento se torna menos tolerante. Um exemplo disso foi o caso de um professor de cursinho pré-vestibular do Paraná, que decidiu dar aulas vestido de drag queen a fim de chamar a atenção para o Dia Internacional de Combate à Homofobia, em maio. Mais de 90% dos comentários no Facebook condenaram a atitude.
Na entrevista, no entanto, quando questionados como se sentiriam se descobrissem que o professor do filho é homossexual, 64% dos participantes disseram que se sentiriam confortáveis ou totalmente confortáveis. “É interessante esse cruzamento de informações. Entendemos que a diferença entre os dois estudos se deve às características básicas de cada um: o questionário faz o respondente refletir sobre o assunto, o que aumenta a probabilidade de as pessoas darem respostas socialmente desejáveis, mas que vão de encontro às suas reais opiniões, enquanto as redes sociais se caracterizam por ser um ambiente em que a espontaneidade prevalece. Os estudos, portanto, se complementam e confirmam que o Brasil é um país em que parte significativa da população é homofóbica”, afirma Schepers.
A pesquisa realizada pelo Opinion Box aponta que mulheres e jovens tendem a ser mais tolerantes que homens e pessoas mais velhas em relação à homossexualidade. Nas redes sociais essa tendência se confirma: cerca de 55% das mulheres fizeram comentários não-homofóbicos nas redes sociais, enquanto 40% dos homens seguiram esse comportamento. Também se observa nas redes sociais que quanto mais jovens, menor é a incidência de comportamento homofóbico.
O infográfico abaixo apresenta mais recortes da pesquisa:
A margem de erro da pesquisa é de 2,6% e o intervalo de confiança é de 95%.
O Opinion Box (www.opinionbox.com) é uma empresa que oferece soluções inovadoras de pesquisa de mercado online e a Hekima (www.hekima.com) é uma empresa de Big Data Analytics que desenvolve e aplica tecnologias de computação cognitiva a fim de ajudar outras empresas a transformar dados em informação.