Entre 2007 e 2008, a rede de lojas de materiais de construção Telhanorte teve um sério problema logístico, que demorou um ano para ser corrigido. Esse foi um momento essencial para o crescimento da varejista. ?Foi quando vimos a relevância estratégica da área para o nosso negócio?, comenta Wanda Matos, gerente de inteligência de mercado da empresa. De acordo com ela, que foi uma das palestrantes da edição de agosto do Ciclo de Encontros NOVAREJO, que aconteceu na manhã de hoje (12/08) em São Paulo, a empresa percebeu que investir em logística a faria ganhar na recorrência do cliente, na compra e na confiança dele em relação à marca.
Desde então a varejista, que tinha dois Centros de Distribuição, ampliou sua estrutura para 7 CDs em três Estados, mais uma operação cross docking. ?O que eu precisava para manter o consumidor comigo foi garantido pela logística?, comenta Wanda. Hoje, 50% dos pedidos são entregues pela empresa diretamente na casa do cliente, com um tíquete médio de 5 a 6 vezes maior do que quem utiliza o autosserviço nas lojas. ?A logística se tornou essencial para o meu negócio, pois viabiliza um relacionamento de longo prazo com os clientes?, diz.
A Telhanorte é um caso emblemático de sucesso no desenvolvimento de operações logísticas eficientes. A edição de agosto do Ciclo de Encontros NOVAREJO, que teve como tema ?Como enfrentar e vencer o gargalo da logística para aumentar as vendas e a eficiência do varejo? e apresentou uma discussão rica e intensa sobre as oportunidades de ganhar competitividade por meio da distribuição.
?A logística, atualmente, não costuma estar na pauta do board das empresas, e sim da primeira linha de executivos?, comenta Marcio Ikemori, sócio-diretor da KPMG. ?Já é uma evolução em relação ao que tínhamos no passado, mas esse é um tema que precisa ser ainda mais estratégico?, comenta. De acordo com ele, a logística é tão relevante porque impacta diretamente o fluxo de caixa e os resultados das operações de varejo.
Ricardo Pastore, coordenador dos cursos de varejo da ESPM e moderador do Ciclo, mostra como a logística bem feita se reverte em resultados. ?Uma empresa que tenha uma cobertura de estoque de 40 dias e consiga diminuir esse número pela metade terá, de saída, o equivalente a 20 dias de vendas em recursos livres, disponíveis para investimentos. Essa é uma forma de acelerar a expansão ou de reforçar o caixa da companhia?, explica.
?A logística é um diferencial competitivo sim?, afirma Celso Oliveira, gerente de logística da rede supermercadista Savegnago, com 32 lojas no interior de São Paulo. A empresa viu seu faturamento saltar nos últimos seis anos de R$ 800 milhões para R$ 2 bilhões e a estrutura de distribuição teve grande importância nesse processo. ?Temos investido em tecnologia, equipamentos e inovações para sermos mais eficientes. Noventa por cento do nosso volume é distribuído por meio de cross docking e chegamos a fazer de 4 a 6 entregas diárias para as lojas?, comenta. Dessa forma, a empresa otimiza seus recursos e reduz a ruptura nas lojas.
Os desafios logísticos independem do porte da empresa. A Urban Remedy, com 4 lojas, venda on-line e distribuição em uma unidade da rede de supermercados St. Marché, comercializa sucos e alimentos naturais e orgânicos com prazo de validade de apenas 3 dias. ?O único canal praticamente sem perdas é o e-commerce, pois agendamos a entrega. Analisamos o desempenho de vendas nas 11 semanas anteriores para programar o que será enviado para as lojas, mas mesmo assim temos um índice de perdas da ordem de 10%?, explica Roberta Suplicy, sócia-diretora da rede.
Na Shoestock, rede de calçados com 4 megalojas e uma operação on-line, a logística é um gargalo. ?Mesmo quando a loja é virtual, a entrega é real, e a grade de tamanhos é um problema?, comenta Veronica Gripp, gerente de marketing da rede. ?Os produtos são perecíveis, pois têm um componente de moda. Por isso, a logística demanda muito cuidado e ações proativas para negociarmos bem com os fornecedores e estabelecer metas adequadas de vendas e estoques?, diz.
Para Jacques Meir, Diretor de Conhecimento e Plataformas de Conteúdo do Grupo Padrão, em um varejo que demanda alta velocidade na execução, a logística tem um papel fundamental na construção de empresas inovadoras. “Empresas como Zara e Apple mostram que a integração de toda a distribuição, com um olhar de fora para dentro, cria oportunidades de aproximação com os clientes e de criação de novas demandas. Cada vez mais os produtos são, na realidade, avatares de serviços, o que exige das empresas respostas rápidas ao comportamento dos consumidores”, analisa.
O Ciclo de Encontros NOVAREJO é um evento mensal que discute temas ligados à gestão do varejo, reunindo empresas de diferentes setores para, em um ambiente informal, gerar insights para os negócios. Confira a cobertura completa do Ciclo de agosto na edição setembro/outubro da revista NOVAREJO.
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